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"O carro de Jorge circula com óleo de fritar". Energia alternativa aos derivados do petróelo. "Maravilhoso"...

O carro de Jorge circula com óleo de fritar, in Público 30.05.2008, Aníbal Rodrigues e José Augusto Moreira Automobilista garante que utiliza o produto há dois anos e já fez cerca de 25.000 km sem avarias. O pior é o cheiro a fritos Jorge, um automobilista de Coimbra, pára pouco nas estações de serviço. Desde há dois anos que, quando o ponteiro do combustível aponta para o vermelho, coloca óleo vegetal no depósito do seu Fiat Punto 1.7 TD de 1994. Neste período, a substituição do gasóleo pelo produto que habitualmente é utilizado nos fritos culinários permitiu-lhe percorrer cerca de 25.000 quilómetros "sem nenhum problema". Garante que não sente diminuição do rendimento do motor e acrescenta que na última inspecção periódica ao veículo o nível de emissões de dióxido carbono "estava maravilhoso". "O único problema disto é o cheiro a fritos", diz.
O óleo vegetal apenas é usado em motores a diesel antigos, dotados de injecção indirecta. Os donos de automóveis modernos, com injecção directa e sistemas common-rail não arriscam. Inclusive, Jorge tem uma Volkswagen Passat TDI na qual apenas coloca gasóleo.
Por outro lado, quem optar pelo óleo terá que procurar bem marcas mais acessíveis ou promoções, já que as mais famosas superam 1,50 euros por litro. Ainda assim, pelo menos um hipermercado dispõe deste produto a 1,15 euros, o que representa uma poupança algo superior a 25 cêntimos por litro face ao actual preço do gasóleo."Toda a gente está a utilizar óleo de fritar, mesmo aqueles Mercedes mais antigos e pessoal com jipes", garante Jorge.
Tiago Farias, docente de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico de Lisboa, não percebe bem porquê e avisa que a utilização de óleo vegetal como combustível de motores diesel "tem sempre inconvenientes mecânicos". E apenas compreende Jorge "porque o risco está minimizado", ou seja, trata-se de carros com uma idade avançada, pouco valiosos, em que eventuais danos no motor já pouco representam.
Há cerca de uma década, houve quem procurasse responder à crise enchendo os depósitos dos automóveis com um solvente destinado à indústria têxtil; por estes dias, a necessidade continua a aguçar o engenho e são já conhecidos casos de carros que andam a óleo de fritar. Apesar de tudo, as autoridades acreditam tratar-se de casos isolados e que não há ainda redes para comercialização de produtos adulterados ou de sucedâneos das gasolinas, ao contrário do que aconteceu na década de 90.
Actualmente, a Brigada Fiscal da GNR está a investigar apenas alguns casos de postos de revenda de combustíveis, todos nas zonas centro e sul do país, que oferecem descontos de 10 a 15 cêntimos por litro. Depois de terem sido recolhidas, de forma dissimulada, amostras desses produtos, as autoridades aguardam agora pelos resultados das análises para perceberem se são produtos adulterados ou consequência de uma qualquer estratégia comercial.
Com excepção dos óleos alimentares reciclados, cujo destino não obedece a qualquer registo ou controlo, a venda de todos os hidrocarbonetos e derivados do petróleo (tal como as gasolinas) está hoje fortemente controlada e regulamentada. Segundo explicou ao PÚBLICO fonte da Brigada Fiscal, tais medidas legislativas surgiram depois de há cerca de uma década terem sido detectadas e desmanteladas em várias zonas do país redes paralelas de abastecimento recorrendo a produtos destinados à utilização industrial e isentos do ISP (imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos). Além do petróleo, que era adicionado ao gasóleo numa proporção de 20 a 30 por cento, mas cuja venda a granel deixou de ser permitida, a substância mais utilizada era o tolueno ou toluol. No Minho desenvolveram-se redes informais de abastecimento, tendo as autoridades detectado então casos de postos onde a venda deste produto chegava a suplantar a das gasolinas. Paralelamente, outros automobilistas produziam combustível para consumo próprio, misturando tolueno (75%) benzina (25%) e um pouco de óleo, que funcionava na perfeição nos velhos motores a gasolina.