Os espelhos de Manuela Ferreira leite e a "concordância contestante" do PSD
Tenho para mim, mesmo tratando-se duma senhora (o que é novidade em Portugal) que Manuela Ferreira leite será um actor político de desgaste tão rápido quanto o foi Filipe Meneses. Belém, e Cavaco em particular, pode dar uma ajudinha oficiosa, colocar umas almofadas no sítio onde outros colocavam alfinetes e pregos, mas, na realidade Leite e o PSd estão hoje confrontados com vários problemas simultaneamente conjunturais e estruturais, o que dificulta a gestão do ciclo político e com eleições legislativas, autárquicas e europeias à porta. Por um lado, a vocação de Ferreira Leite para o debate político e a busca de soluções sociais inventivas e criativas para Portugal é manifestamente escassa, tanto mais que ela hoje já não é a ministra das Finanças - afirmando a sua crónica postura do "quero, posso e mando". Por outro lado, esse elemento oculto que responde pelo nome de globalização competitiva introduziu na vida pública - seja na política, na economia, no ambiente, etc - um factor de elevada complexidade e desgaste das opções políticas deixando, desse modo, pouco espaço para a improvisação e o experimentalismo político. Daí que sobre pouco espaço para o PSD inovar em relação ao PS na gestão dos grandes problemas sociais e económicos do País. A grande diferença entre ambos reside no estilo das lideranças e da capacidade que elas, uma vez no poder, têm de tomar decisões e gerir a mudança. Pouco importando que as decisões sejam de "direita" ou de "esquerda", desde que sejam eficientes económicamente e politicamente eficazes. É isso, na prática, que Sócrates tem feito, ainda que com uma conjuntura económica hoje tremendamente adversa. E o Estado, somado ao peso do empresariado que temos, ainda é grande e balofo e pouco produtivo e competitivo. Ferreira leite, e o psd, representa apenas o outro lado do espelho, a outra faceta do paradigma. Entre ela e o PS existe uma colagem, de certo modo cúmplice, facto que conduz a uma espécie de concordância estrutural entre ambas as formas políticas. Ou seja, Leite sabe que terá de ser diferente em algo, sob pena de se apagar por completo ao termo do 1º mês em funções na Lapa (onde irá rearrumar os móveis dispostos por Meneses - que os mudou quando depôs MMendes). Só que ela também sabe, apesar da sua magra cultura geral e interesse pelas questões culturais (lato sensu), que o seu psd não passa do outro lado do espelho do PS. Representando a sua forma "concordante-contestante" - procurando dizer aos portugueses que o psd também é capaz de fazer aquilo que o actual PS hoje executa manifestamente melhor. Numa palavra: "Manuela Azeda o Leite", como diria um amigo, ainda não percebeu que será um clone mal nutrido de uma distração de Sócrates, além de não perceber, porque desconhece as constelações sobre que assenta a filosofia, que os maiores benefícios vêm-nos da loucura, como diria Platão. Ora Leite é tudo menos "louca", mas a escassa loucura que tem basta-lhe, apenas, para dar uma bela Secretária-Geral do PSD, qual espécie de governanta do Norte que cai em Lisboa para cuidar dos jardins da Lapa, até que Marcelo ou alguém mais consistente irrompa na área do PSD e consiga fazer bem duas coisas que até agora ainda não foi conseguido: falar bem para o partido e para o País ao mesmo tempo. Portanto, o grande desafio que hoje se coloca a Ferreira Leite, depois de ganhar as directas, é saber se a senhora ascenderá ao estatuto de timoneira com um projecto e um rumo alternativo (ao PS) para Portugal ou, ao invés, não passará da senhora que pulula na Lapa, de divisão em divisão na sede do PSD, com o espanador do pó na mão a sacodir a poeira dos móveis que já foram de Mendes, Meneses, santana, Durão..., e, agora, aparentemente, são seus. Até que apareça o tal D. Sebastião... Esperemos é que não seja nenhum "afilhado" da dita, como quem diz um - António Preto - qualquer deste nosso descontentamento colectivo ensombrado pelo preço do crude e da inflação geral dos bens e serviços essenciais à vida.
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