terça-feira

O poeta Alegre vive na ilusão e na nostálgia de que Salazar ainda está vivo e os impérios e as colónias estão aí...

O poeta Manuel Alegre nunca fez mais nada na vida senão escrever: escreve poemas, escreve sobre o medo, sobre o passado, e depois volta a dizer o que sempre disse - não me calarei. Parece que é deputado, mas ninguém o vê; parece que integra o PS mas nenhum outro como ele o penalisa tanto; é, ou era um Vice-Presidente da AR, mas Jaime Gaime quase já não o conhece, ou reconhece; quando intervém nos debates parlamentares é como se fosse porta-vox do PCP - agora numa reedição do BE; nas Comissões parlamentares não põe os pés, como devia; diz umas tretas, arrota azedume das bancadas mais periféricas do hemiciclo, arma-se em defensor dos pobres, dos desvalidos e dos sem vox, mas jamais seria capaz de os ajudar efectivamente, sempre com aquela gosma que lhe é peculiar tonificada com uma voz tonitroante. Opôs-se a Mário Soares - representando mesmo a pior vergonha que o fez passar nas últimas eleições presidenciais, a ponto de cortarem relações; cumplicia-se, hoje, com o mais desgastante do PS - como Ana Gomes - que não hesita em defender os direitos humanos de terroristas que abatem edifícios com pessoas inocentes lá dentro - e desvaloriza o chamado interesse nacional e o segredo de Estado que urge sempre manter nesse tipo de matérias sensíveis. O poeta Alegre chega atrasado a tudo, e pensa que por ter granjeado uns milhares de votos líquidos nas presidenciais os pode converter em poder sólido. E como pensa isso hoje a sua vida é andar por aí a minar o terreno sociológico ao PS - entrevendo entendimentos com o BE para em 2009 falar grosso a Sócrates e ser o file da balança de qualquer coisa. Alegre é um oportunista político. Numa palavra: Alegre nunca fez nada na vida. Faz poemas, lutou contra a ditadura de Salazar - o que era um dever moral nos homens da sua geração. Mas isso não lhe dá o direito de dizer que os outros, mais novos, lhe devem lições de democracia ou de liberdade. Pois Alegre tem utilizado a Liberdade e a Democracaia para minar o seu próprio partido e fazer o jogo das oposições. Se o poeta Alegre soubesse o verdadeiro significado desses valores já teria tido a coragem de sair do PS pelo seu pé, e ter a coragem de fazer o seu próprio caminho político sem a bandeira do partido do Largo do Rato. Mas Alegre é um poeta sem coragem, é um escritor sem alma, não consegue caminhar sem a muleta do seu velho partido. Alegre é medroso, tem medo de caminhar sem a bandeira do PS. Isto não é só digno de um deputado, é também indigno de um poeta. Alegre deveria abandonar o PS e, por uma vez na vida, revelar a coragem que sempre lhe faltou. Ou melhor, uma coragem que sempre demonstrou ter, mas à sombra da bandeira do PS - sem o qual ele pouco ou nada representaria. Não vale a pena mascarar a realidade: Alegre, tal como Ana Gomes, são uns ressabiados, uns ressentidos de Sócrates. Procuram vingar-se do PM, desejam visceralmente infligir-lhe danos só porque este quando formou governo não convidou aquele para a Cultura e esta para os Negócios Estrangeiros. Tanto um como outro, o poeta e diplomata, são, no fundo, políticos de aviário, actores públicos criados em laboratório, sem espessura nem densidade política. Alegre vive na ilusão e na nostálgia do passado. E a prova de que ele "não bate com a bola toda" reside na ilusão que o anima: o Salazar ainda está vivo.. E eu, o grande poeta, aqui estou para o combater e devolver as colónias. Este poeta é uma ilusão, e a pouca existência que tem só existe na sua própria cabeça.
A dado momento nas nossas vidas somos conduzidos pelas derivações, aquilo a que Vilfredo Pareto explicava como os sistemas intelectuais de justificação, no caso do poeta Alegre, as paixões a que ele procura dar - oportunisticamente - uma explicação racional, mas, na realidade, trata-se de camuflar as suas paixões a que pretende dar uma aparência de racionalidade. Revelando, na prática, que o homem, em concreto Manuel Alegre é um ser desatinado em busca de algo que o seu velho PS já não lhe pode dar.
O que será melhor neste contexto: permitir que Alegre ande por aí fazendo estragos no PS e acumulando algum capital de queixa político em sinergia com o BE; ou dizer ao senhor que, doravante, ele terá de fazer essa caminhada já sem a bandeira que o promoveu e institucionalizou?!
Numa palavra: convide-se o homem a sair, sob pretexto de que vai alí a Argel fazer mais uma locução radiofónica em prol dos nativos e contra os impérios e as colónias...