segunda-feira

Notas Soltas - por António Vitorino -

Uma das vantagens do Notas Soltas de António Vitorino é que é um programa curto e que aborda uma variedade de temas sem, com isso, ser exaustivo ou prestar-se a uma montra de livros em dia de feira com teatro incluído na mesma sessão.
É óbvio que a análise política não é ingénua nem apolítica, mas a circunstância de construção da nova Ponte Chelas-Barreiro - que terá ao mesmo tempo a ferrovia e a rodovia - e foi a semana passada apresentada por António Costa, edil de Lisboa - terá inúmeras consequências para ambos os lados do Tejo. Mormente, ao nível da gestão do tráfico de automóveis, logo de poluição e de impacto ambiental que isso terá na qualidade de vida da capital, razão por que valerá a pena considerar que parte de algumas taxas, a haver, possam reverter para a capital tendo em vista uma mais eficiente elaboração e articulação de políticas públicas entre a autarquia, o Executivo e o conjunto das entidades envolventes na gestão desta importante infra-estrutura ferro-rodovia.
Nesta perspectiva, fará pleno sentido a intenção de António Costa e a sugestão de António Vitorino -, pois é dessas visões que depende a coordenação das políticas públicas por forma a que todos nós, utentes, administração central e local - possamos beneficiar duma eficiente concepção de serviço público de transportes que se impõe oferecer aos portugueses sem, contudo, esquecer o velho problema do estacionamento e da mobilidade na Capital.
Do lado de lá do rio Tejo, há que acautelar as consequências do crescimento desproporcional da urbanização que, crónicamente, coloca problemas de urbanismo e de especulação com os terrenos e com o valor das casas.
Em matéria de sondagens e correlação de forças à direita e à esquerda do PS, sublinharam-se alguns dados relevantes que importa reter: o PCP e BE sobem, aquele já não "inchava" tanto desde 1979, o que é uma surpresa interessante, e revela que o PS perde votos à esquerda, mormente com a ligação do pcp ao movimento sindical como protesto de algumas políticas públicas do PS, designadamente nas esferas da Saúde e da Educação. Terá sido neste contexto que AV referiu uma formulação interessante:

o PCP e o BE cavalgam os mesmos temas, mas com estilos diferentes...
Todavia, 1/4 dos eleitores declaram-se indecisos nessa sondagem, que são meros retratos de estados de alma momentâneos. Mas que, na prática, impede o PS de obter a maioria absoluta neste momento.
O PSD desce, o que não é novidade com aquele líder - que tem, indiscutivelmente, dois tipos de problemas: de fundo e de forma. Naquele caso, não revela ideias e projectos políticos alternativos ao PS que conquistem o eleitorado; neste caso, porque Meneses tem um estilo de afirmação que não magnetiza as pessoas, não as estimula nem as mobiliza em torno de um projecto, pelo que Meneses, quer se queira quer não, é um líder a prazo, um interregno entre MMendes e, eventualmente "um Marcelo" qualquer que possa tomar as rédeas ao partido da Lapa e imprimir-lhe um rumo que hoje ele não tem.
Ainda assim, o PS afirma-se com 42,2%, mais 12% do que o PSD, o que não é mau após três anos de governação e com as consequências e desgaste que isso implica na opinião pública.
À direita temos um cds em crise, mas que coligado com o PSD somam cerca de 36% dos votos, como sistematizou AV, e é daqui que pode nascer a dúvida para o PS conseguir conquistar (ou não) o chamado voto útil daqueles eleitores que, por regra, integram o centrão - e votam PS e PSD - consoante as lideranças e as conjunturas. Mas entre Sócrates e Meneses parece-nos que a escolha se torna evidente em favor daquele... Até pelo impulso reformista que Sócrates, desde a sua tomada de posse como PM - imprimiu à sua governação.
Faltando ainda um ano para as eleições legislativas, quer o Governo quer as oposições terão ainda a capacidade de recompôr muita da sua energia e, assim, fidelizar os respectivos eleitorados. We shall see...
Por último, uma nota acerca dessa pérola africana - o Zimbabwe - liderada por um ditador sanguinário que é Mugabe que se arrasta à décadas no poder. E que hoje se encontra sob enorme pressão internacional (EUA, UE, ONU) para reconhecer a vitória da oposição, liderada por Morgan Tsvangirai - e permitir uma viragem pacífica e democrática do poder naquele país africano.
Pois até numa questão tão essencial quanto controversa como é a reforma agrária - Mugabe revelou uma tremenda inabilidade política ao atribuir, perversamente, a posse das terras não às populações mais carenciadas (como devia, por uma questão de justiça social), mas à clic militar e seus apaniguados - (sustentáculo do seu regime) e à elite do seu partido - gerando uma contestação popular que desequilibrou o prato da balança socioeleitoral em favor de Morgan Tsvangirai.
E com este homem no poder o Zimbabwe - e o conjunto da África austral - sempre terá garantias acrescidas de não apenas mais estabilidade democrática na região, mas também um maior índice de desenvolvimento social e económico naquele Continente esquecido.