sexta-feira

DIVISÕES FATAIS - por António Vitorino -

O sublinhado é nosso.
DIVISÕES FATAIS, dn
António Vitorino
jurista
"A leitura das notícias dos jornais sobre os efeitos da crise financeira internacional deixa-nos perplexos e impressionados.
Segundo um estudo levado a cabo pelo centro de pesquisa da empresa Celent, nos próximos 12 a 18 meses o sector bancário norte-americano irá perder cerca de 200 mil postos de trabalho em virtude da crise do chamado subprime.
Na sequência do anúncio feito pela União de Bancos Suíços sobre perdas no montante de 12 mil milhões de euros no mercado imobiliário americano, a Comissão Federal de Bancos da Suíça veio reconhecer que podia estar em risco a estabilidade do sistema financeiro helvético, denunciando que as informações anteriormente prestadas pela UBS sobre a sua exposição se mostraram falsas.
Por seu turno, o Deutsche Bank alemão pré-anunciou que, a acrescer às perdas que já havia assinalado no terceiro trimestre de 2007, estimadas em 2,2 mil milhões de euros, previa que no primeiro trimestre de 2008 registaria perdas adicionais totalizando cerca de 2,5 mil milhões de euros.
Relatos recentes do debate em curso na Alemanha põem em destaque que, de entre os mais expostos aos efeitos da crise financeira internacional, estão os bancos detidos pelos estados federados alemães, bancos esses com uma elevada participação de capitais públicos.
A magnitude destes casos e destes números (para apenas falar dos exemplos mais recentemente vindos a público) estão muito para além daquilo que o cidadão comum consegue conceber, para já não falar das estimativas das perdas financeiras totais derivadas desta crise financeira, que no ano passado se avaliavam em 200 a 500 mil milhões de dólares e neste momento já há quem antecipe que podem chegar aos 900 mil milhões...
Para além do impacto dos números, torna-se evidente que algo vai muito mal no sector financeiro à escala global. Há quatro anos, o escândalo da Enron, nos EUA, desencadeou um conjunto de alertas e de iniciativas tendentes a combater algumas perversões do mercado e a impor às empresas em geral (e às de auditoria em particular) regras de gestão, de contabilidade e de transparência nos processos internos e na informação pública que pretenderam pôr termo aos desmandos que uma certa ideologia de sucesso a todo o preço tinha criado.
Desta feita, o terramoto parece ser ainda mais profundo. Os visados são agora, em primeira linha, as empresas de rating e as próprias entidades bancárias que, gerando um sistema muito criativo de transferência de responsabilidades e de riscos, acabaram por desencadear não apenas uma crise de confiança no mercado de partida (o chamado subprime), mas também na solidez das próprias instituições financeiras.
Fruto da globalização financeira, se o epicentro do abalo está nos Estados Unidos, as informações que têm vindo a ser dadas a público provam que os bancos europeus apresentam elevados índices de exposição à crise imobiliária americana.
Este panorama revela que estamos perante problemas endémicos do sistema financeiro que, tendo uma dimensão global, apresentam uma específica projecção europeia.
Ora, à semelhança do que se passou com o caso Enron, onde a Comissão Europeia foi chamada de emergência a adoptar um conjunto de medidas e regras de conduta aplicáveis aos sectores visados, também desta feita se exige que as instituições europeias não considerem que aquilo que se está a passar diz respeito apenas ao foro das empresas privadas e terá de ser dirimido pelos mecanismos de mercado. Com a agravante de que, neste caso, as competências da Comissão são mais limitadas e em larga medida a responsabilidade é directamente imputável ao Conselho de Ministros da Economia e Finanças e ao seu todo poderoso Comité Financeiro. Os relatos sobre as divisões entre os Estados membros que vão chegando quanto à maneira de lidar com a crise são, por isso, preocupantes.
E desta vez não adianta deitar as culpas para as costas (largas) do Banco Central Europeu... É que em última instância quem paga a factura em dinheiro e em postos de trabalho são os cidadãos europeus, perante quem os membros do Ecofin devem ser democraticamente responsáveis!"
Obs: António Vitorino, como Francisco Sarsfield Cabral e outros analistas do sector económico, político e financeiro concluem que, afinal, esta crise do chamado sub-prime (que entrou no léxico da gramática da Globalização predatória em curso) é um problema tranversal ao sistema internacional, e não uma crise ilhada - que se pudesse circunscrever aos mercados norte-americanos, como se apregoava inicialmente. Também o banqueiro Ricardo Salgado (Espírito Santo) nunca viu uma crise assim, - diz - : pior que o crash de 1929, apesar de ninguém ainda ter assistido nenhum administrador do BES mandar-se do 9º andar da sede do Banco na Av. da Liberdade - o que, a acontecer, teria um efeito benéfico para a poluição numa das artérias mais poluídas da Europa.
Seja como fôr, a crise de confiança do crédito à habitação está aí, o dinheiro hoje está mais caro, a banca nacional ao endividar-se junto da banca internacional obtém o capital mais onerado, os empréstimos são mais dificultados e, em face deste quadro negro, ainda não percebi como é que os portugueses, sempre que há um feriado encravado entre a 5ª e a 6ªfeira - passam a vida a fazer férias cá dentro e abroad...
Presumo seja o pecúlio aforrado debaixo do colchão desde a década de 70, ao tempo da Revolução dos cravos - dinheiro esse que não se gastou porque o País ainda não tinha descoberto esse grande génio que é Belmiro de Azevedo... Com toda esta crise muita gente até já está preocupada se ela - a maldita crise - afecta o vencimento dos administradores do Banco de Portugal - mormente o do seu Governador - que ganha um salário - quantas vezes superior ao do salário mínino nacional?!
Devolvemos estão questão à República..., que, envergonhada, não responde!!!
PS: Envie-se xerox desta reflexão ao dr. Constâncio que, para agravar a situação, ocupa uma garagem num edifício que mais parece uma Igreja, mas não é, esperemos seja o museu do BP - e não um pouso para BMs e outras cilindradas poluentes mesmo no miolo da cidade.
Já agora, também sugiro ao dr. Salgado para ter calma, i.é, que não se mande do 9º andar da Av. da Liberdade (o que acarretaria ainda mais despesa para a CML - que também está em crise), pois ele ainda faz cá muita falta - especialmente para ver cobrados os empréstimos aos jovens que pagam prestações brutais aos bancos, e que, quando deixam de ter condições para observar esses compromissos - é a própria banca que adquire o imóvel (que jurídicamente é seu por via da hipoteca) para o vender depois com uma interessante mais-valia.
É a vida..., como diria AG; ou Divisões fatais - como sugere AV.
Por isso, sempre defendi que o melhor mesmo é nascer já com fortuna própria.