Moçambique a ferro e fogo, e água...
Situação em Moçambique preocupa ONU
Inundações podem ser as piores dos últimos anos
As cheias que estão a assolar Moçambique e já causaram cerca de 60 mil desalojados podem ser as piores dos últimos anos, afirmou hoje o porta-voz das Nações Unidas, Luís Zaqueu. O responsável disse ainda que, apesar de os serviços de emergência moçambicanos estarem bem preparados, o cenário pode alterar-se à medida que as águas engolem terras agrícolas e destoem infra-estruturas como estradas e pontes no centro de Moçambique.
Lusa
"Como as chuvas começaram mais cedo do que o previsto e o nível da água está muito alto - e aumenta a cada momento - é provável que a situação seja pior do que em 2000-2001", disse Luís Zaqueu, citado pela Reuters.
As cheias de 2000-2001 foram as piores de que há memória em Moçambique, tendo causado a morte a 700 pessoas e danos na ordem dos 500 milhões de dólares (341,3 milhões de euros).
Entretanto, a Organização Não-Governamental (ONG) Save the Children disse hoje à Agência Lusa que lançou um apelo de emergência para ajudar as milhares de crianças e famílias desalojadas pelas cheias em Moçambique.
"As cheias obrigaram 65 mil pessoas - cerca de metade das quais são crianças - a deixarem tudo para trás e a procurar refúgio em campos de emergência. São esperadas mais chuvas e a situação deve piorar", afirmou a ONG.
"Estamos a providenciar abrigos, água potável e comida. Estamos também a trabalhar com as autoridades locais para garantir que as crianças desalojadas pelas cheias estejam salvas", acrescentou.
Por seu lado, a ONG ActionAid avisou hoje que as cerca de 250 mil pessoas que foram atingidas pelas cheias em Fevereiro de 2007, em Moçambique, podem perder tudo outra vez.
"Há 250 mil pessoas a viver a jusante (em relação à barragem Cahora Bassa). Este é o segundo ano em que vão perder tudo", disse o director da ActionAid, Alberto Silva.
O responsável disse ainda que trabalhou com o governo moçambicano para resgatar 5 400 pessoas que estavam isoladas pelas águas do rio Zambezi.
Pelo menos 60 mil pessoas foram resgatadas, a maioria por helicóptero de árvores e telhados, mas estima-se que cerca de sete mil estejam em zonas muito perigosas e precisam de ser retiradas.
O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas disse que a distribuição de alimentos nas áreas afectadas precisa de ser reforçado.
Além de Moçambique, outros países da África Austral como a Zâmbia, Zimbabué e Malaui também estão a ser atingidos pelas cheias, que já mataram várias pessoas e deixaram milhares de desalojados.
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Para agravar a situação - soma-se o aumento dos combustíveis - que parece ter um efeito dominó nas demais componentes da economia moçambicana, já de si paupérrima. É neste tipo de crise que Moçambique poderia ser como Angola - que ainda tem matérias-primas estratégicas para fazer face a situações semelhantes. Fazendo o paralelo diria: Moçambique é uma democracia pluralista num País pobre e alvo das maiores "ditaduras" da mãe-Natureza; Angola - ao invés, ainda tem de trabalhar muito para ser uma democracia pluralista (fazer eleições a sério, por exemplo...) mas dispõe de riquezas naturais que ajudam o País a fazer face a tais privações, ainda que o povo no seu conjunto não beneficie delas.
Chamo a atenção para a importância do "meio" - mesmo em África - escolhido para democratizar a revolta popular na sequência do aumento dos combustíveis que precipitou tudo.
De certo modo lembrei-me da reacção dos portugueses em 2005 quando juntaram cerca de 2000 mil pessoas (também reunidas por sms de Tm) em redor do Palácio de Belém exigindo a Jorge Sampaio, então PR, a demissão de um certo governo em funções.
Analogias à parte, o que aqui procuro ressaltar é a função das sms por Tm na reacção das massas como via para o condicionamento das decisões tomadas pelos mercados e pelo poder político. Algo, de facto, está a mudar no nosso mundo, e aqui o papel das Tecnologias da Informação e da Comunicação/TIC tem tido um papel crescente nesse capítulo da história política contemporânea.
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Moçambique: Protestos foram convocados por SMS
05-Fev-2008
A capital de Moçambique, Maputo, foi palco de violentos protestos contra os aumentos de 50% dos preços dos transportes. Os circuitos urbanos dos "chapas", transportes públicos informais, passaram de 5 meticais para 7,5; e nos periféricos subiram de 7,5 para 10 meticais (1 euro= 35 meticais). Barricadas, pneus a arder nas ruas cortaram o trânsito em diversos bairros da periferia da capital. As manifestações, segundo a agência Lusa, terão sido convocadas por SMS.
"O povo está a sofrer, os filhos de ministros, deputados e outros dignitários não andam de chapa e os chapas estão caros. No dia 5 ninguém deve apanhar chapa, ninguém deve trabalhar. Vamos fazer greve e exigir justiça camaradas, envie para outros, seja unido na luta contra a pobreza", dizia uma das mensagens.
Os bancos e escolas foram fechados e a segurança interna de organizações internacionais, como a ONU, apelou aos seus funcionários que estavam a trabalhar para que permanecessem nos escritórios e não tentassem sair à rua.
O vice-ministro moçambicano do Interior, José Mandra, apelou à calma e assegurou que a "situação está sob controlo". "Mantenham a calma porque as forças policiais estão no terreno para controlar o que está a acontecer ", disse José Mandra, repudiando a forma escolhida pela população para expressar o repúdio pelo aumento das tarifas.
O vice-ministro justificou a medida como "uma contingência provocada pela subida do preço do petróleo no mercado mundial. Os transportadores não tinham como manter as tarifas".
Mandra informou ainda que houve seis feridos, cidadãos no bairro de Magoanine, onde começaram os protestos.
O governo moçambicano interrompeu a habitual reunião do Conselho de Ministros devido aos distúrbios.
No bairro de Magoanine, onde começaram os protestos, a polícia dispersou os manifestantes, mas as barricadas continuaram erguidas. Elementos das Forças de Intervenção Rápida, um corpo especialmente temido da polícia moçambicana, patrulham a praça principal empunhando armas automáticas, tendo levado à fuga os vários grupos de manifestantes, relata a agência Lusa.
Elina Pedro, 44 anos, cinco filhos, afirma que "se não baixarem preço do transporte ninguém vai circular aqui. Não dá para viver com cinco filhos a estudar e com transporte caro. Não se vive. (O protesto) é o único meio de forçar o governo a rever as coisas", acrescenta.
A Lusa informa ainda que os proprietários dos "chapas" seguem a prática de nunca fazer um trajecto completo, obrigando os passageiros a vários transbordos. A 14 quilómetros do centro de Maputo, os habitantes de Magoanine precisam de fazer pelo menos três viagens e pagar três bilhetes só na ida.
Assim, uma viagem urbana que antes custava cinco meticais (14 cêntimos) passou para 7,5 meticais (21 cêntimos) e a que antes custava 7,5 meticais passou agora a custar 10 meticais (28 cêntimos).
O salário mínimo é de cerca de 1 400 meticais (40 euros), mas muitos habitantes estão desempregadores e vivem de negócios informais com rendimentos de sobrevivência numa base diária. As famílias têm em média cinco pessoas.
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