quarta-feira

Chinesas entram na rota do tráfico sexual para Portugal

PAULA CARMO

O fenómeno é ainda pouco conhecido mas já começa a ser sinalizado pelas autoridades portuguesas: Portugal entrou na rota do tráfico de mulheres chinesas para a exploração sexual. Apesar de o tráfico de mulheres brasileiras ser ainda dominante, um estudo apresentado à Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, da autoria de investigadores do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, a que o DN teve acesso, dá conta de um fenómeno novo: "A inserção de mulheres asiáticas no mercado de prostituição em Portugal", sobretudo oriundas da China.

Por agora, estas mulheres, que entram no País de avião, escondem-se, ao jeito de sombras humanas, em "apartamentos de casas particulares", como refere o estudo conduzido pelos sociólogos Madalena Duarte, Boaventura de Sousa Santos, Conceição Gomes e Maria Ionnis Baganha.

Por ser um fenómeno que começa agora a ter expressão, a realidade das mulheres asiáticas é ainda muito difícil de caracterizar. Numa das entrevistas efectuadas a um agente policial, este relata que o tráfico de mulheres chinesas "não entra no circuito visível". Diz esta fonte aos autores do estudo: "Não é prostituição de rua, nem é de alterne, é normalmente prostituição de apartamento, casa de massagens, com contacto de telemóvel ou de Internet. E, se se consegue marcar uma hora e ir lá ao local, aparecem-nos algumas asiáticas. Aí percebemos que o cliente não é só o cliente asiático, este aparecia em minoria, muito pontualmente. Aparece, também, o cliente português. Aparecem, igualmente, alguns clientes estrangeiros, de outras nacionalidades."

"Resulta do nosso estudo que a prostituição em apartamentos e casas particulares tem vindo a conhecer um progressivo aumento nos últimos anos. Por duas razões essenciais: por um lado, permite um maior anonimato, por outro, por ser de mais difícil detecção pelas polícias", explica ao DN a socióloga Madalena Duarte.

Brasileiras no topo

As vítimas de tráfico para exploração sexual em Portugal continuam a ser as brasileiras (80%). Entram via Madrid e Paris. Mas, as autoridades começam a sinalizar casos em que a entrada se faz por cidades alemãs e italianas. A presença de mulheres re-crutadoras é significativa no que respeita às mulheres vindas do Brasil.

As nigerianas estão também a ganhar "posição de relevo" na rota do tráfico. Como ainda, no que a África diz respeito, as mulheres oriundas de Cabo Verde e da Serra leoa. O tráfico com origem na Europa do Leste, que assumiu expressão considerável em anos anteriores, foi, segundo o estudo, estancado pelas autoridades, em parte por causa do combate às mafias de Leste e à imigração ilegal. As que ainda entram em Portugal chegam sobretudo no automóvel do próprio grupo recrutador.

Ao contrário das chinesas, as formas de prostituição a que estas mulheres se dedicam - brasileiras e africanas - são sobretudo as praticadas na rua, bares de alterne e clubes, apartamentos, casa de massagem e convívio, automóvel e angariadas pelas agências de acompanhamento.

Portugal continua, assim, a fazer parte das rotas da escravatura sexual à dimensão global. Esta é uma indústria quase invisível que se vai adaptando às leis da oferta e da procura, fazendo com que as mulheres-objecto sejam protagonistas de uma rotatividade no território nacional.

Na elaboração do estudo, os investigadores estiveram em casas e bares de alterne, entrevistaram juristas, polícias e magistrados. Consultaram anúncios de jornais, falaram com ex-prostitutas, ex-traficantes e organizações não governamentais.

Obs: De par com a oferta "turística" brasileira encontramos agora, segundo aquele estudo, a oferta chinesa, além da do Leste e alguma oferta africana. Penso que isto já era sabido, basta que se ande antento pela cidade e veja o comportamento de algumas dessas mulheres nos transportes e nas artérias da cidade. Mas estudo é estudo, e se vier de Coimbra tem logo direito a foros de cidade. O que lamento é que o homem tenha de pagar para fazer algo natural, e que as mulheres vendam esse serviço quando também poderiam fazê-lo sem obedecer às leis da economia. É, no fundo, um duplo servilismo: o homem porque tem de recorrer a esse mercado, a mulher porque vive dele. Além das questões de segurança interna, imigração ilegal, generalização de doenças (em ambos os sentidos) e criminalidade conexa - o que me frustra é o facto de Portugal ter uma Agência Portuguesa de Investimento (API) liderada pelo sr. Basílio Horta do cds e, agora, de par com as lojas dos 300 e outras congéneres orientais - demande Portugal mais este mercado sexual made in China. Pergunto-me se é a vingança do chinês em resultado dos Tratados desiguais do séc. XIX que os europeus impuseram à então abertura-comercial forçada da China, se é uma nova fase da expansão de colonização comercial e económica chinesa na Europa ou alguma maneira de incentivar os portugueses a estabelecerem relações sentimentais e amorosas com as chinesas para reforçar os laços entre os dois países, quem sabe a pensar nalguma permuta de repovoamento entre Portugal e Macau, onde Portugal deixou tantas saudades. Seja como for as autoridades nacionais, mormente o MAI - na pessoa do prof. Rui Pereira que conhece melhor o fenómeno do que aqueles investigadores todos juntos - terão de estar mais atentos e estancar esses fluxos de carne branca ("ou amarela" neste caso - como se dizia ao tempo da Guerra Fria) que não contribui em nada para a dinamização do investimento directo estrangeiro que se pretende para Portugal. Últimamente, são só "boas" notícias deste calibre que procuram Portugal, agora só falta dizer quanto ganha Cristiano Reinaldo e onde e como aplica o seu dinheiro. Portugal, confesso, merecia melhor...

PS: A impressão que tive ao ouvir o resultado desse estudo foi a mesma quando descobri que os desertos estão repletos de areia e os oceanos cheios d´ água.