O humor na política. Tributo a Winston Churchill
Era Freud que dizia que o humor decorre da manifestação que tem por base um mecanismo de defesa face a determinadas situações colocadas pela vida moderna. O humor constitui uma forma de enfrentar certos problemas quotidianos, da socidade à economia passando pela política, pólos por onde perpassa boa parte das tensões sociais e das irritações e atitudes dos actores políticos que representam os seus papéis em cada época. O Humor justifica o "eu" provocando ou observando a degradação dos outros, em contexto de vida pública ou privada, aqui atemo-nos mais aquela. Numa palavra: humor decorre daquela sensação que nos faz rir daquilo que nos irritaria se a mesma situação nos acontecesse a nós próprios. E não se trata aqui de piadas sobre sogras, mas mais as palhaçadas que alguns comicieiros desenvolvem nos congressos partidários, nos parlamentos, na esfera pública onde a capacidade de reconhecer o que é pretensão, pompa, absurdo, mas também algo cruel: como massacres, mutilações, genocídios e outros tormentos objecto de humor (negro) neste caso. O nazismo fez muito isso contra os judeus. Mas a existência dum humorismo político no sentido da crítica à gestão política é o facto e o material político que aqui nos interessa. Porque é daí que também se pode influenciar e ridicularizar uma política ou uma personalidade, destruindo a política pública (num caso), reduzindo o prestígio à personalidade em questão (noutro caso). A esta luz o humor pode fazer cair políticos, mas também conferir-lhes prestígio para os ridicularizar logo de seguida. Veja-se o caso do engº carlos Borrego, ex-ministro do Ambiente de Cavaco que após contar uma graçola sobre alentejanos foi demitido horas depois. O caso Mário Lino - com a metáfora do Deserto na outra banda - meteu o país a rir, e só se aguentou porque Socas serviu de almofada política e segurou-o. Ou seja, qualquer governo, qualquer político, teme a crítica humorística. Lembram-se do que o Gatos fedorentos já disseram de Santana Lopes!!?? Mais do que Durão barroso numa década não conseguiu fazer, quando cunhou santana de um misto de Zandinga com Gabriel Alves. Isto apesar de hoje já ninguém levar santana lopes a sério, falando ele a brincar ou a sério, pois a sua performance política tornou-o indistinto a uma e outra situação. Reordamos aqui o genial Winston Churchill, que era um mestre na arte de atacar os adversários troçando deles, encerrando sempre as suas lapidares tiradas com uma frase bombástica, e sempre de improviso, que é o mais relevante. Um dia, um membro do seu partido atravessou a sala da Câmara dos Comuns para sentar-se na bancada do partido da oposição. Era um gesto irado de protesto e poderia ter causado efeito se Churchill não se tivesse levantado grunhindo: "Cavalheiro, é esta a primeira vez que vejo um rato nadar para o barco que se afunda". Harold McMillan, outro PM britânico, também sabia desacreditar os outros recorrendo ao humor. Um dia, Nikita Kruschov tirou o sapato naquela famosa assembleia das Nações Unidas e começou a bater com ele na mesa; McMillan observou muito calmamente e disse: Gostaria que me traduzisse isso. Os delegados soltaram uma gargalhada e parte do significado que pudesse ter a acção do dirigente soviético passou para segundo plano.
Também J.F.Kennedy tinha um talento nato para cortar a retórica ao adversário. Em Portugal só muito raramente ocorrem situações dessas, talvez porque sejamos um povo triste, melancólico, nostálgico e virado para a saudade do fado, fadinho faducho que nos inibe de sermos mais criativos nessa área. E é pena, porque bem sabemos que o simples divertimento é a felicidade dos que não podem pensar, ora se esse divertimento ou humor for mais elaborado tal significa que a qualidade do nosso humor também seria mais elaborado, sinal de maior maturidade política, intelectual e cultural. Tudo variáveis que hoje ainda nos faltam, pois nunca se sabe o que se segue a uma boa piada. Por vezes, a desgraça ministerial (como sucedeu a Carlos Borrego), noutras circunstâncias o País-formal manda construir o aeroporto internacional de Lisboa em Alcochete... E nesse caso - que também não deixa de ser uma piada, todos ganhamos. Logo, a piada deverá passar a integrar uma das variáveis que forma o processo de tomada de decisão política.
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