O PSD de Meneses: uma dupla de servilismo e de traição. Um perigo adiado, uma implosão a termo
Esta reflexão visa explicar o actual contexto político no interior do psd e a liderança bicéfala que hoje procura capturar o poder. Será, pois, um fragmento que explica a desgraça em que o partido da Lapa caíu e a razão pela qual Sá Carneiro se envergonharia de saber o que hoje se passa no principal partido da oposição em Portugal.
Em primeiro lugar, os oportunistas apoiam por princípio aquele que vence, enquanto permanecer vencedor. Foi o que sucedeu com Santana ao vender os seus votinhos a Meneses para erradicar definitavemente MMendes da vida pública nacional, conseguiram. Mas isto denota que os players em jogo não têm nem ideias nem convicções, nem os dois somados têm a consistência de MMendes (cujo nó górdio foi Lisboa), mas estão sempre prontos a servir os mais poderosos em troca de qualquer coisa.
Foi, infelizmente, o que santana fez: cedeu os seus votinhos a Meneses em troca do lugar na banca parlamentar do psd - onde hoje se arrasta por manifesta falta de perfil, dedicação e conhecimento. Digamos que santana é mais um tribuno de comício, não de hemiciclo em que convém conhecer o detalhe técno-político dos problemas que se discutem e afectam a polis.
Se o seu objectivo era sobreviver políticamente conseguiu a curto prazo, mas a médio prazo santana sairá sempre chamuscado dessa negociata que todos os portugueses já perceberam como se fez e para quê.
O objectivo, como referi, era sobreviver, mas (há sempre um "but") salvaguardando os seus interesses, não lhe faltando continuadores, como disso tem sido testemunha o seu fiel Rui gomes da Silva, o homem das cabalas ao marcelo.
Mas isto, de per se, não explica a razão pela qual Meneses estará condenado ao fracasso. Ou seja, o ventrícolo de Gaía rodeou-se de aduladores que se desfazem em elogios e reverências e desdobram-se em salamaleques única e exclusivamente para agradar a Meneses, que os escolheu. Gomes da Silva e, de certo modo, Santana usam e abusam desse expediente, e fica mal a Santana visto que, bem ou mal, este já foi PM, por isso deveria resguardar-se mais. Mas não cede à tentação desse servilismo, à falta de melhores ideias, até ao dia...
Até ao dia em que eles, de facto, comecem a desconfiar verdadeiramente uns dos outros, e é aqui que chegamos à essência desta aliança de interesses maquiavélica, uma coligação negativa para abater políticamente MMendes e assaltar mais fácilmente o poder na Lapa. Mas é o pecado original que os levou a esta coligação negativa, em meu entender, que explica esta desgraça a prazo, ou seja, é a propensão para o servilismo (ex., Rui gomes da Silva) que não é característica de um bom carácter que, num ápice, se pode converter num acto de traição.
Eles, os agentes que hoje comandam a Lapa, sabem que têm esse ADN, os militantes do psd, por outro lado, também comungam desta análise, daí que a palavra traição, má fé, sobranceria, perigo permanente (intestino) sejam aquelas que melhor fixam a actual correlação de forças interna à vida política deste psd de Meneses.
Por isso, quando ontem ouvi Santana na antena da tsf dizer que já convidou Bagão Féliz e Manela Ferreira leite para as jornadas do psd no Algarve, fiquei preocupado, dado que o caminho que o partido está a trilhar com santana no hemiciclo é o do envelhecimento e não o do rejuvenescimento, composto de pessoas jovens que sentem os desafios do futuro como se fossem seus.
Ainda que Santana, por falta de alternativa, recorra à brigada do reumático, às velhas glórias de Durão - que já começa a ser substituído na Comissão por Tony Blair (apoiado por Sarkosy) - que sabem muito, já viram muito, mas que, em rigor, já não valem muito, porque perderam o entusiasmo e já não alimentam outra ambição que não seja a de viver confortavelmente os dias derradeiros da sua reforma, entre videiras e netinhos, cães, gatos e almoçaradas entre amigos e algumas outras pequenas aventuras familiares que nada dizem ao país.
Por outro lado, sempre que vejo Meneses a debitar, naquele seu ar de falso profundo, tipo Paulo Coelho da literatura de cordel com um toque zen para seduzir domésticas que alí vêem alta literatura e estórias de encantar, fico sempre com a sensação que o homem se vai estampar novamente, não já porque reedita a velha fórmula do Sulistas vs Nortistas - mas porque, simplesmente, o homem parece nunca ter dúvidas. E um homem sem dúvidas é um perigo.
Em suma, a razão que, a prazo, irá implodir com esta liderança do psd prende-se com o próprio ADN que a criou, um ADN que tem nos seus genes o potencial da destruição, da dissidência, da traição e da má fé. Por isso, Meneses - que hoje se apresenta como uma espécie de Napoleão - ao pretender manter junto de si um "Talleyrand" ressabiado e rancoroso (Santana, obviamente!!!) - e na impossibilidade deste ajustar contas políticas com o PM, Sócrates, irá, a seu tempo, sacrificar aquele Napoleão de Gaía que, em rigor, nunca foi além de um líder de facção de base tribal/nortista que só chegou à liderança do psd por erro, i.é, dado o desnorte estrutural em que Durão Barroso deixou o partido aquando da sua fuga para Bruxelas.
Mais cedo ou mais tarde, o ressabiado Talleyrand (Santana) esquece a farda de servil parlamentar que vestiu e regressa à sua condição de "menino-guerreiro", e quando tal acontecer veremos como o "Napoleão de Gaía" ficará esmagado por aquele com quem na véspera se aliou para "matar políticamente" MMendes.
É por toda esta intriga e vergonha política que Sá Carneiro nem se atreve a pairar sobre a Lapa, sob pena de morrer duas vezes. E isso ninguém quer...
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