segunda-feira

Os sete pecados capitais. Dedicado aos doentes mentais que conheço e às polaridades que os arrastam

De Hieronymus Bosch. Távola dos Sete Pecados Capitais e as Quatro Últimas Coisas (Óleo sobre painel).
A dado momento das nossas vidas temos de nos interrogar por que razão somos tão sacanas, pecamos a torto e a direito, somos maus, vingativos, rancorosos. E não me reporto aqui a uma perspectiva meramente religiosa. No plano biológico somos autênticos animais, a nossa diferença do macaco não é assim tão grande, e com o tempo habituámo-nos a colocar uma cobertura de verniz que não é mais do que os valores, as normas e os códigos que regem o comportamento do nosso mesquinho dia-a-dia.
Por vezes, tratam-se de dias sem sentido, em que da parte da manhã coçamos o testículo direito, à tarde, porque nada há de útil e produtivo para fazer, coça-se o testículo esquerdo, depois a ordem inverte-se. Mas isto mata qualquer homem, tanto mais se ele já tiver, à partida, uma predisposição genético-patológica.
Na prática, tornámo-nos uns animais morais dotados dessa tal camada fina de verniz que responde pelo nome de cultura, e que estala a qualquer momento. Sucede, porém, que essa camada de verniz já começou a estalar e, com isso, tendemos a emigrar de novo para o sítio donde viemos: o macaco.
Os crentes que perfilham outra leitura da evolução que me perdoem aqui este darwinismo macacóide, mas é assim que penso. Aliás, fico mesmo sem dúvidas de que descendemos do macaco quando SLopes vai à tv dizer coisas estranhas que já nos habituámos a desculpar. O mesmo raciocínio também se aplica a Al Berto J.Jardim da Madeira quando grita coisas sem nexo da ilha. Isto significa que quando o verniz estala o homem tende a libertar-se da máscara, depois anda por aí...
Esse é, aliás, um comportamento cada vez mais aceite na sociedade. Os gestores de estados de espírito sabem isso perfeitamente, não apenas os "gestores" da tanga de algumas empresas públicas.
O problema é que para muitas dessas empresas aquele desejo de inovação converte-se numa "pecaminação", ou seja, numa degração global dos objectivos préviamente fixados cujos propósitos depois são agravados porque os actores que estão por detrás dessas empresas são indolentes, imorais, incompetentes, em rigor, não servem para nada, senão andar mesmo por aí...
Infelizmente, a realidade desta fórmula encontra aplicação na gestão da economia portuguesa, que é improdutiva e parasitária. Mas também se inscreve no plano interpessoal.
Vejamos cada um desses estrangulamentos:
1. Somos Orgulhosos - o que nos confere um excesso de confiança nas nossas capacidades que depois se traduz em zero. A vaidade tipo Carrilho - nunca levou a lado algum;
2. Somos Invejosos - porque cobiçamos em demasia o lugar e o estatuto dos outros, e às vezes cobiçamos mesmo a mulher, meu Deus... Aqui as frustrações acumulam-se: por questões materiais, de ordem sexual ou de status.
3. A Gula - que passa por um desejo extravagante de ingerir mais do que conseguimos digerir, um dia morremos por implosão;
4. A Luxúria - continua a dar cabo de nós, refiro-me aos prazeres carnais em geral que nos desconcentram do resto, por vezes essencial;
5. A Ira - traduz-se numa raiva que denunciamos ou demonstramos para com os outros, basta ir para a estrada para o perceber. Mas maltratar um amigo, apagar-lhe o registo ou a sua identidade virtual, ofendê-lo pelo telefone de forma intratável, ser displicente à mesa na presença de terceiros denunciam recalcamentos, rancores, neuroses e outras patologias conexas que agravam a situação.
6. A Cobiça e o desejo de riquezas ou ganhos materiais ou até cobiçar o emprego do próximo é algo tipicamente canalha e português.
7. Por fim a Preguiça - que é o acto de evitar trabalhos físicos ou mentais, coisa que noto sempre que o ministro da Economia fala. Manel de Pinho tem azar com as palavras, ou são as que ele escolhe que não são as mais adequadas, e, por vezes, as palavras são mais pesadas do que calhaus.
Mas a questão que aqui avulta é que cada um destes pecados, sobejamente conhecidos por todos nós, é que hoje - mais do que nunca - se verificam existir em grupos de empresas bem sucedidas - que constroem o seu sucesso sobre a descarada exploração das fraquezas do homem. Nuns casos de forma explícita, noutros de forma implícita.
Para além do plano organizacional, não podemos negligenciar o plano pessoal, pois é aqui que as paranóias se colocam com maior acuidade. É aqui também que se inscreve a patologia da personalidade do indivíduo - que conduz o seu portador a uma atitude permanente de suspeição, de autoritarismo e de intolerância, traços marcantes do carácter paranóico.
Ora, tanto na vida das organizações, no quadro das relações interpessoais, no ambiente da acção política ou até na esfera da média e alta administração essa paranóia coloca-se de forma determinante.
No fundo, aquilo que aqui sublinhamos é que hoje pessoas aparentemente normais têm condutas verdadeiramente desequilibradas, porque são também as condições de trabalho, as frustrações aí sentidas e acumuladas diáriamente, os recalcamentos sexuais, as questões estéticas e da rejeição pelo outro à luz do valor facial da imagem que representam. Todas essas variáveis integram a nossa vida e acabam, mais cedo ou mais tarde, por levar o paranóico a uma explosão de violência interior que se pode manifestar de diversas modalidades: na estrada, na internet, na sociedade, à mesa de um café..
São, em suma, esses desarranjos do espírito, essa loucura doentia, esses delírios, essas demências que deveriam levar muitos de nós a reflectir sobre quem, realmente, somos e para onde vamos.