sábado

LISBOA PRECISA DO DINHEIRO E COSTA DE NOVAS ELEIÇÕES

LISBOA PRECISA DO DINHEIRO E COSTA DE NOVAS ELEIÇÕES
Ana Sá Lopes jornalista
António Costa ameaça demitir-se por uma razão cristalina: Lisboa, já dificilmente governável sem maioria na câmara e com uma maioria absoluta hostil na Assembleia Municipal, é impossível de ser gerida sem o empréstimo que o PSD, sozinho, decidiu inviabilizar. O pedido de empréstimo estava escrito no programa que Costa apresentou aos lisboetas. O anacronismo das últimas autárquicas, que deixaram o PSD maioritário na Assembleia Municipal, levou a situação a este ponto absurdo: uma decisão apoiada pelos eleitores corre agora o risco de ser chumbada pela Assembleia Municipal que já não representa (se a sondagem que foram as eleições para a câmara valer alguma coisa) o eleitorado lisboeta. É óbvio que nem António Costa nem ninguém pode gerir o que quer que seja com este bico-de-obra. A posição a que o PSD se encostou na questão do empréstimo torna absolutamente evidente esta situação anacrónica. António Costa ameaçou demitir-se e fez muito bem. Lisboa, efectivamente, precisa do dinheiro. Há uma segunda razão que, naturalmente, deixa António Costa muito à vontade para se demitir e provocar novas eleições: o argumento da irresponsabilidade social-democrata vale ouro para tentar a conquista da maioria absoluta. Com José Sá Fernandes metido no bolso - e arriscando a sorte da sua futura irrelevância eleitoral -, sobram a Costa como opositores os cidadãos Roseta e Carmona, o velho PCP e um PSD, novo mas, até ver, irresponsável. Não está mal visto.

Obs: Este argumento de Ana Sá Lopes é tão curioso quanto previsível e perigoso em democracia. Por essa ordem de ideias autarcas com bons orçamentos faziam sempre grandes obras, e sabemos que nem sempre tal sucede. Alguns não passam das rotundas..., e muitos outros com magros orçamentos conseguem, paradoxalmente, proezas depois compensadas pelas populações.

Por outro lado, se essa "sobremesa política" fosse assim tão apetitosa, como a jornalista sugere, em vez de ameaçar António Costa já se teria demitido. Mas no terreno as coisas são sempre mais complexas, viscosas e arrastadas. Eis a diferença entre a teoria e a prática, os sistemas e as estruturas, fazer um artigo de opinião que o Macro faz em 2 min. e coloca em nota de pé-de-página e tomar uma decisão.
Mas tem razão a jornalista quando sublinha que o empréstimo estava previsto no programa eleitoral do PS sufragado pelos lisboetas, daí a posição fora-de-lei em que o psd se colocou. Havendo eleições ou não, este PSd já é um nado-morto, e os lisboetas sabem-no.
E o mais grave é que esse raciocínio encontra extensões no plano nacional. O que nos deixa ainda mais apreensivos, porque tal implica ver em Anacleto Louçã do BE o verdadeiro líder da oposição a Socas neste momento em Portugal. Isto não deixa de ser curioso, pois é, precisamente, o Zé Sá Fernandes quem faz coligação com o PS neste momento na capital.
Então, a situação é esta: na capital PS e BE coligam-se, no plano nacional PS e BE defrontam-se. Sinais dos tempos...