A amizade e as pontes artificiais
A amizade, como diria o outro, é uma filigrana de encontros, e cada encontro é uma prova. Mas também pode ser, de facto, uma desilusão, e é aí que as trajectórias dos amigos se diversificam, divergem. Isto entronca com outra coisa maior: nenhuma coisa humana se mantém por si só, apenas existe enquanto renovada, e os amigos encontram-se, renovam-se através desses rendez-vous. Mas, lá está, cada encontro é um risco, pode descambar numa desilusão, mas tem de resultar. E às vezes não resulta. Desde logo porque um se acha superior ao outro: na visão, no talento, na inteligência, enfim, no Poder, e como essa relação é sempre assimétrica, como o amor um dos elos sai enfraquecido. Na política as coisas também não são muito diferentes. Cada intervenção é sempre um risco, por vezes credita-se, outras gera-se débito e às vezes o saldo fica muito negativo. Mas os amigos não se põem à prova, nem a disponibilidade do outro. Só esta ideia turva a amizade. No fundo, a amizade comporta crise, é algo que não dura imutável para sempre, e o pior do pior é quando se deixa de ver as pessoas para sempre. Mas para uns galegos a morte é algo superficial, institucional, banal. E quando isto ocorre significa que um se sente inseguro da amizade do outro, por vezes traído, incompreendido ou mesmo desprezado. Sendo certo que a incompreensão é sempre um sintoma inconsciente de desinteresse, de desprezo ou até de agressividade, como nos explica Alberoni, um mestre deste tema que ora recuperamos. E a regra é simples: quando não se é compreendido, quando não somos compreendidos por um amigo, tal significa que não é amigo, logo que não nos queria bem. Decorre isto do preço do petróleo que anda muito caro e também contribui para muitas animosidades, económicas...
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