Notas Soltas - por António Vitorino - as purgas no PsD e no PcP -
Entre o polegar e o indicador talvez esteja o mercado a funcionar no caso da eventual fusão entre o BPI e BCP, mostrando como Deus escreve direito por linhas tortas, e em que o inicial "tubarão opador" (bcp) se converteu no cherne opado pelo BPI. Veremos como o mercado funciona e que falhas apresenta nesse jogo complexo e errático que, no dizer do economista John M. Keynes - a longo prazo teremos todos de pagar impostos e estaremos todos mortos. O resto é paisagem. O crucial é que nessa fusão ou opa sejam os consumidores a ganhar em qualidade de serviço financeiro prestado à sociedade. Mais concorrência sempre trouxe mais e melhores condições de mercado. Mas não deixa de ser humilhante, mormente no plano simbólico, ver que aquele que foi considerado o invencível, o duro, o beato, o castrador, o eliminador de benjamins na alta esfera financeira - seja agora visto como o elo mais fraco duma cadeia de poder banco-burocrático de que todos se afastam, sobretudo após ter-se conhecido as práticas - senão ilegais - pelo menos profundamente imorais decorrentes daquele empréstimo que o papá Jardim Gonçalves ou padrinho Filipe Pinhão fez ao filho Filipinho (e afilhado) vasconcelos - o mesmo que acabou por fazer cair o pai em desgraça. Deus, de facto, escreve mesmo direito por linhas tortas, e neste caso até parece que foi o Paulo teixeira Pinto que ajudou Deus a tecer esse filão. Aliás, Teixeira Pinto ainda não se deve ter parado de rir após ter sido jogado pela janela do bcp pelo velho "jaguar" que hoje, caído em desgraça como naquele série do Leopardo do Visconti - não passa dum homem-cato (de quem todos se querem afastar). A desgraça n.º 2 - como aqui temos referenciado, remete para aquilo que poderemos designar o efeito Lili Caneças da política à portuguesa resultante das intervenções de chumbo de Santana lopes na AR. Começou bem o rapaz, e assim que chegou tratou de mandar abaixo três presidentes de Comissões parlamentares (Matos correia, Relvas e Arnaut) - todos, curiosamente, barrosistas. Um ajuste de contas executado por Santana e consentido pela 2ª cabeça de Gaia que deu os améns. Se calhar o Ângelo também fez uma perninha nesse afastamento. E foi a este processo de purga que António Vitorino designou de efeito contraste entre as tretas que Meneses proclama quando tem o microfone na traqueia e a realidade dura dos factos pontapeados por santana no hemiciclo. Demonstrando como Lopes revela ao mundo a sua magnânime autoridade e exercício do mando. O que não deixa de ser uma outra modalidade de expulsão que não bate com o discurso de unidade interna de Meneses. Um efeito de contraste desastroso, portanto - a que Socas, em breve, terá de agradecer pondo uma velinha em Fátima... Ante esta desgraça menor até dá vontade de suscitar parecer ao eloquente Angelo Correias - que tem sido e servido de distribuição entre uma e outra cabeça, i.é, Gaia e o hemiciclo. Isto entronca com a putativa expulsão da deputada Luísa Mesquita do pcp pelo velho aparelho da Soeiro Pereira Gomes. Que abre uma discussão interessante: a de saber se os mandatos são dos deputados ou dos partidos, e aqui a resposta é híbrida, posto que se eles pertencem aos deputados só se chega à deputação pela via partidária. O que significa, na prática, que os partidos podem, a qualquer momento, cercear ou mesmo "cassar" esse mandato ao deputado apesar de a Constituição da República Portuguesa não o prever, embora existam várias formas de matar o morto sem lhe dar um tiro. É isso que o velho e estalinista pcp ensaia fazer à deputada Luísa Mesquita que tem trabalho feito pelo círculo de Santarém. Se Santana fosse o camarada Jerónimo-Lisnave o destino da deputada Luísa seria, certamente, o mesmo daquela troika de barrosistas que foi despachada à mesma velocidade que Bagão Felix jogou para o caixote do lixo da história 18 directores-regionais dos Centros de Emprego recorrendo a esse importante meio tecnológico que é o fax. Aqui nada diferencia santana de Jerónimo e a única coisa que os distingue é apenas o sotaque. Na intenção são iguais, ambos animados por um sentimento: a vingança. E a política nunca ganhou nada com isto, nem as populações... Quem sabe numa próxima revisão da Lei eleitoral, a fim de reforçar o carácter pessoal dos mandatos de deputados, se possa introduzir um dispositivo dos círculos uninominais que permita identificar as populações com o deputado pelo seu círculo de forma mais intensa e responsável, reforçando, por essa via, o papel do deputado na sociedade e isentando-o de pressões quando cegadas estalinistas deste teor ocorrem. Hoje, se a lei eleitoral fosse outra muito provavelmente o camarada Jerónimo ficaria a xuxar no dedo e já não ameaçava ninguém numa cópia rasca de José Stalin. Quanto à Cimeira Europa-Rússia - se não foi um suscesso também não foi um fracasso. O Kosovo é, naturalmente, a questão mais candente e em relação à qual se contrapõem russos e norte-americanos, posto que a Rússia se opõe à declaração de independência do Kosovo pelo CS da ONU do agrado dos EUA. E foi esta a Rússia (ressentida, como sublinhou AV) que irrompeu em Mafra: uma Rússia energética (detentora de matérias-primas estratégicas de que a Europa e o mundo precisam para a sustentabilidade e funcionamento das suas economias) por contraponto a uma Rússia-antiga (e perdedora) feita de ogivas nucleares que não mais existe - que perdeu a Guerra Fria por ter sido ultrapassada pelos EUA pela famosa Iniciativa de Defesa Estratégica - a famosa Guerra das Estrelas (SDI - que permitia abater mísseis ICBM russos em pleno espaço) ao tempo do eficaz consulado de Ronald Reagan (com a Dama-de-ferro na Downing Street). Ora, foi esta Rússia ressentida, energética mas, ao mesmo tempo, racional e inteligente que reapareceu na arena internacional disposta a jogar a sua cartada em Mafra - talvez mais ao lado de Portugal e duma certa Europa para comprometer uma certa visão e praxis da política externa norte-americana que, nesta gestão de merceeiro empreendida por g.w. Bush - ainda acabará por dar alguns frutos. Veremos, contudo, no que resultará o esperançoso Instituto Europa-Rússia com vista à promoção dos direitos humanos e, em certos casos, do que se trata é mesmo do direito à vida... Os jornalistas russos que o digam, pois alguns deles pagaram-no com a própria vida, revelando que a Rússia nalguns casos é duma crueldade sem limites, pois é ao mesmo tempo czarista, leninista e assassina. Tudo sinónimos. Ainda bem que António Vitorino nesse dia escapou ao traffic-jam da russofilia que acabou por boiar no Oceanário. O que lhe valeu foram os roteiros alternativos, pois nesse dia, quis o destino, ainda tive a felicidade de o cumprimentar não distante das Arcadas. Mas referiu que soube da coisa pelos jornais. Este, confesso, foi um bonito momento de televisão. O que contrastou profundamente com as purgas da Lapa (com incidência parlamentar) e na Soeiro Pereira Gomes (pcp) ainda em curso. Estes dois tipos de purgas fazem-me supor que o Bresnieve ainda é vivo, o Cunhal toma o pequeno-alomoço todos dos dias com ele na Av. da Liberdade - com a Zita Seabra a levar os guardanapos, os cafés e o vodka, a Guerra Fria está no ar, a soberania limitada é a doutrina de serviço, o Comecon rivaliza com a CEE em matéria de produtividade e de integração económica, e os comunistas portugueses, ante os esforços contrários de Mário Soares (que então nos salvou desse perigo vermelho) ainda pretendem transformar Portugal nesse exemplo grandidoso que foi a Albânia e a Roménia. Narrativas que ainda hoje, lamentavelmente, fazem sentido na cabecinha do tamanho duma ervilha que alguns comunistas têm. Talvez por isso temos aqui dedicado algumas das nossas reflexões ao Luís Sá, um comunista sério e reformador que a vida ceifou abruptamente. Será mesmo que já caíu o Muro de Berlim na Soeiro Pereira Gomes e nas suas novas ramificações na nova-Lapa de Santana.?!
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