terça-feira

Notas Soltas de António Vitorino - Cimeira Europa/África

Diante a amálgama em que se converteram as directas do PsD, mais parece uma quermesse de rifas numa festa de província com os comensais embriagados, e a escolha do regente do psd até 2009 para disputar as legislativas com o PS, emergiu um tema de interesse preponderante no actual quadro político em que Portugal preside aos destinos da UE: refiro-me, naturalmente, à Cimeira Europa/África que Portugal terá de saber preparar, gerir e concluir, como se fosse um cirurgião a operar os olhos de um idoso de 98 anos que ainda quer ver o pôr-de-sol através do seu quintal.
Portugal será esse "operador aos olhos" da Europa - agora - em articulação com África que precisa de quase tudo, até democracia e bom senso, além de desenvolvimento. Convém referir, aquilo que António Vitorino sublinhou: hoje África perdeu peso no actual xadrez internacional com o alargamento para Centro e Leste desta Europa a 27 - que terá outras prioridades, interesses e afectação de recursos, que passam pouco pela geografia da fome, da corrupção e do subdesenvolvimento desse velho e adiado continente que é África.
Desta prestação de AV fiquei com a seguinte ideia: a Europa não pode ficar refém de um ditador (Mugabe que incita o ódio rácico e assassina fazendeiros brancos seguindo os piores métodos coloniais dos sécs. XIX-XX) - quando ela está repleta deles, como formigas no pote do açucar mascavado. E como a Europa detém alguns instrumentos de cooperação para o desenvolvimento eles devem ser utilizados da forma mais eficaz possível. Até para fazer cair esses mesmos ditadores, que agora terão a vidinha mais dificultada, como sublinhou AV.
Apoiando a sociedade civil, encorajando-a e responsabilizando-a. Ou seja, a minha leitura do Notas Soltas d'hoje foi a seguinte: a Europa não pode nem deve reduzir de velocidade por causa de um energúmeno que consegue ser um pouco pior que os demais energúmenos que exploram o seu povo, exaurem os recursos estratégicos do seu território e queimam oportunidades de desenvolvimento.
Desta feita, quatro (possíveis) contratos globais poderão ser esboçados, desenvolvidos e implementados, contratos esses sobrelevados (ainda que de forma implícita) por António Vitorino quando salientou a necessidade premente de África precisar de redes de abastecimento de água, energia, esgotos, educação... Nesta conformidade, em vez de as "Somagues" andarem por aí a liquidar facturas de campanha ao PsD melhor seria que fossem engagadas num plano de desenvolvimento global para África. Com responsabilidade, i.é, prestando contas pelas ajudas e cujas negociações poderiam conhecer o seu take-of nesta Cimeira Europa/África sob presidência portuguesa.
Assim, com ou sem Mugabe, com o sem Gordon Brown - que anda mais preocupado em ceder os seus assessores políticos para ajudar o casal McCann a safar-se perante a pressão da opinião pública no caso do desaparecimento de Madeleine, creio que esta Cimeira irá ser um sucesso por quatro razões, coincidentes, aliás, com o (mesmo) número de contratos globais que poderão estar na calha e serem pormenorizados nas reuniões formais (e informais) no decurso da Cimeira mais para o fim do ano.
A saber:
1. Um contrato para as necessidades globais - e aqui entrariam as questões das desigualdades que teriam de ser removidas a fim de facilitar o acesso ao maior número de pessoas às igualdades de oportunidades;
2. Um contrato democrático - a fim de inscrever naqueles regimes (corruptos e cleptocráticos) boas práticas governativas em vista do bem comum;
3. Um contrato cultural - com vista a pacificar os povos, muitos deles ainda em ambiente de instabilidade (e guerra) civil;
4. Um contrato para o Ambiente sustentável - visando integrar naqueles países alguns dos padrões e requisitos hoje exigidos à Europa e ao mundo civilizado cujo objectivo é poluir menos o ambiente e apostar em tecnologias limpas geradoras de emprego, desenvolvimento e de um ambiente saudável.
O que é que o Mugabe representa diante tanta necessidade para África? Zero. Ele que venha, pois sentir-se-á mais envergnhado estando presente do que a Europa barrar-lhe as portas à sua criminosa entrada.
Teremos de engolir esse velho sapo de língua vermelha que até pode beber um copo de champanhe de Sacavém e cair imediatamente para o lado, contudo o objectivo estratégico desta Cimeira presidida por Portugal é aliviar as populações mais pobres do mundo e apontar-lhes um caminho de paz, democracia, desenvolvimento e Spera, Sphera e Sperança no futuro que é já amanhã.
Portugal já foi um Império. Fomos, aliás, os primeiros a montar a Cruz e a Espada e os últimos a sair. Lá deixámos monumentos, uma religião, valores mas também muita exploração, sangue e subdesenvolvimento que o jogo das independências africanas já saldou nas décadas de 60 e 70 do séc. XX.
Seria agora muito estranho, senão mesmo paradoxal, que não soubessemos lídar com os neocolonizadores que entretanto se fizeram, os mesmos que replicaram o pior dos nossos métodos, mas não acrescentaram nada de bom ao nosso legado naquele continente esquecido que ora a Cimeira Europa/África constitui uma derradeira oportunidade.
PS: Reflexão dedicada ao desenvolvimento dos povos e das sociedades africanos sob a égide da presidência portuguesa da UE.