sexta-feira

Vilfredo Pareto - via António Vitorino - "acasos" contingentes da nossa existência

O artigo Acasos de António Vitorino hoje no DN obrigou-me a revisitar o sociólogo italiano, Vilfredo Pareto, um dos maiores sociólogos da modernidade - juntamente com Marx, Weber, Comte, Tocqueville e outros monstros sagrados do pensamento social, económico, político e até filosófico. Mas Pareto tocou num ponto fundamental que acabou por ser premonitório de tudo o que se seguiu no sécs. XX-XXI: as acções não-lógicas, ou melhor o estudo dos comportamentos não-lógicos, o que implica conhecer não apenas os raciocínios (próprios do comportamentos lógicos) mas, especialmente, identificar os comportamentos não-lógicos, motivados pelos sentimentos, paixões e por um conjunto de cargas emocionais, pulsões e ondas de choque que derivam de todas aquelas pulsões que os decisores têm na hora da decisão.
Portanto, Pareto foi o autor que mais e melhor estudou o comportamento não lógico dos agentes do poder. E para ele a economia enquadrava-se na área dos comportamentos lógicos, previsíveis, já a sociologia inscrevia-se na área política, logo trata das chamadas acções não-lógicas, ou seja, aquelas acções, ou acasos, que não têm finalidade objectiva, mas possuem uma finalidade subjectiva cujos efeitos na sociedade nunca se conseguem determinar ao certo: um ataque terrorista, uma flutuação brusca nos preços, um crash na bolsa, um acidente de (a)vição que vitime os principais agentes do Estado gerando um vazio de poder (lembremo-nos do acidente que vitimou Francisco Sá Carneiro..) ou J.F.Kennedy nos EUA.
Daí a importância da sociologia no estudo destas acções não-lógicas. Em rigor, quando um agente político toma uma decisão ele pensa que essa decisão produz um determinado resultado, mas por vezes ocorre que esse agente imagina falsamente que os meios empregues são de natureza a provocar aqueles desejados resultados. Pelo que nunca se pode medir a reacção duma multidão em fúria, da reacção dum povo relativamente a um referendo, etc..
Este é um domínio de "compra do futuro", de conhecer por antecipação, mas como não é possível ao agente político antecipar o tempo nem identificar os seus efeitos prematuramente - entramos no domínio socio-religioso em que quando alguns povos desejam que chova, por exemplo, eles fazem sacrifícios aos deuses, porque só assim se convencem de que as suas orações têm efeitos directos sobre a chuva, necessária à produção agrícola de que depende a sua sobrevivência. Neste caso, o que existe é uma relação subjectiva de meios-fins, muito frequente naquela a que os agentes do poder utilizam no seu quotidiano.
Numa palavra: quando o decisor actua lógicamente ele compreende que há uma correlação entre os meios e os fins, o objectivo coincide com os elementos subjectivos. É o caso de uma reforma na Saúde ou na Educação que valoriza as populações que visa servir. Aqui a intenção e a promessa coincide com o acto e a realização e as populações ficam satisfeitas.
Problemático é quando a finalidade objectiva diverge do fim subjectivo (acções não-lógicas). Nem sempre as surpresas são agradáveis... O terrorismo em rede é, porventura, esse fenómeno gritante a que não é fácil pôr termo.