Uma pergunta para Lisboa: imigrantes, segurança e prosperidade
Escolhi esta imagem das ruínas do Carmo para tecer umas considerações sobre o urbanismo e o modo de vida contemporâneo. Já que a cidade é ao mesmo tempo o local de habitação, o centro de controlo económico e político da vida moderna - conduzindo as comunidades mais distantes a centralizarem-se, muitas delas copiando todos os padrões e estilos de vida desenvolvidos em Lisboa, a tal ponto de uma cidade média no interior do país não se distinguir do estilo de vida na Capital, sobretudo nas modas e nas formas de comunicação - hoje cada vez mais padronizadas. Hoje a maior parte dos contactos entre as pessoas na cidade são passageiros e furtivos. As pessoas entram e saem das lojas, restaurantes, bancos, viajam como zombies nos autocarros. Estão sempre em movimento. Ou seja, a população da área de Lisboa apesar de ter grande mobilidade mantém entre si relações sociais fracas, sem conteúdo, perspectiva ou esperança. Com a agravante de aqui a competição prevalecer sobre os laços de cooperação. Por outro lado, as comunidades de imigrantes a trabalhar e a viver em Lisboa e na zona da grande Lisboa aumentou. Basta uma ida à praia ao fim de semana para perceber que 20, 30 ou 40% dos veraneantes são brasileiros ou africanos. Nem é preciso ver, basta ouvir para identificar a estatística. Este simples indicador revela que a cidade de Lisboa tem visto gravitar à sua volta bairros com características distintas, que albergam essas pequenas comunidades de imigrantes. E aí as formas de relacionamento entre essas famílias assumem padrões tradicionais, sendo que as pessoas se conhecem pelo 1º nome. Não obstante esse tradicionalismo, quanto mais perto estiverem essas comunidades dos padrões de vida vigentes na Cidade mas se diluem esses laços tradicionais. Aqui coloca-se, naturalmente, uma questão, sobretudo visando a promoção das comunidades imigrantes que sofrem de inúmeras discriminações no gozo da sua cidadania entre nós. Neste sentido seria oportuno conhecer as ideias e os projectos relativos às relações da centralidade da Capital com os milhares de imigrantes que aí vivem e trabalham. Responder a isto seria equacionar que tipo de projectos tem Lisboa, e cada uma das candidaturas, para aproximar as comunidades imigrantes da centralidade. É que a debandada para os subúrbios pode, a médio prazo, colocar sérios problemas de segurança aos outros que vivem no centro da cidade. Também aqui os conflitos urbanos ocorrem, basta atentar nos comboios da linha de Sintra - espelhando o pior ambiente da globalização infeliz dos nossos dias em que pequenos bandos descem dos subúrbios até à cidade e escolhem os comboios para fazerem a sua safra. Para finalizar, o aumento de impostos tende a penalizar as famílias de rendimentos médios e elevados - que assim deixam um espaço vazio pela perda de receita proveniente dos impostos locais. Posto que os que permanecem ou os substituem integram muitos dos que vivem medianamente ou mesmo no limiar da pobreza, e isto, naturalmente, é mau para a cidade, especialmente tratando-se da Capital do País. Ou seja, se não se olhar de forma integrada para o problema das comunidades imigrantes, para a segurança, para a integração dessas comunidades na vida activa os negócios mais prósperos mudarão de lugar e Lisboa ficará mais pobre. Coisa que todos certamente queremos evitar... Não só a bem de Lisboa mas também em prol do País.
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