O papel do intelectual no nosso tempo?O exemplo de Agostinho da Silva
Ante tantas agruras, injustiças e iniquidades - e já com uma blogosfera com qualidade, inovadora, sólida e criativa - importa inquirir que papel cabe ao intelectual desenvolver no ciber-espaço através do instrumento mais maduro na Net que é a blogosfera. O que poderemos pensar, dizer ou escrever perante um caso como a DREN ou este último do SAP de Vieira do Minho - e muitos outros que ocorrem na administração pública e na sociedade em geral de forma discreta ou sem que as pessoas conheçam alguns detalhes? É aqui que caberá identificar o papel do intelectual na blogosfera, e que deve ser posto ao serviço da justiça, evitando o erro ou o vulgo, muito menos confundir as suas percepções com vinganças pessoais como são reflexo os casos supracitados e que têm entalado a democracia portuguesa entre uma lógica terceiro-mundista à africana e uma lógica anti-liberdade ao velho estilo do Centro e Leste europeu ao tempo da Guerra Fria. Se este for o papel do intelectual através da blogosfera, a justiça será um amparo criador catalisando forças doutro modo dispersos caminhando, assim, para a construção duma humanidade menos imperfeita e amiga da economia, da sociedade e do mercado. Mas estas palavras leva-os o vento, o que implica uma outra consideração. De facto, pelo que me é dado ver, a blogosfera, a melhor dela e que serve hoje de referência, mormente para os jornais ditos (também) de referência e para a sociedade mais atenta e exigente, têm de se colocar do lado dos "vencidos da vida", lutando contra a arrogância, a prepotência política e burocrática, a brutalidade e o desprezo em certos casos e comportamentos que vão fazendo carreira - lamentavelmente - na sociedade portuguesa.
Aqui as possibilidades são múltiplas, sendo certo que caberá ao intelectual - que desenvolve parte da sua actividade através da blogosfera, desenvolver a esperança nas suas reflexões e que as suas sementes poderão um dia frutificar e andar por si. Isto implica a afirmação dos valores humanistas em todas as frentes, ou seja, ao nosso amigo blogger que nos cita mas também ao governo que desanca na sociedade - haverá uma e só finalidade: a busca da verdade que, por regra, quase sempre diz respeito aos "vencidos da vida" - como diria o grupo do Eça e do Ramalho na década de 90 do séc. XIX - que serviu para modernizar a mentalidade portuguesa e abri-la às correntes de pensamento mais modernizantes que então sopravam da Europa - no domínio social, económico, político e cultural. Sem esta vigilância hiper-criativa da blogosfera pergunto-me como seria hoje a produção de ideias sociais e políticas em Portugal?! E não tenho qualquer espécie de dúvida em responder que seria mais pobre e menos acutilante, e a prova disso é que existem blogues que fazem um jornal diário duma riqueza de informação, de análise e de concept-design verdadeiramente criativos e sistemáticos. Os casos são conhecidos, e o Jumento (como alguns outros que conheço menos bem) pontificam nesta teorização. Em suma: o papel do intelectual na blogosfera neste 1º quartel do séc. XXI é o da racionalização do protesto, ser vigilante com criatividade, acutilância e ironia contra os desarmados da vida que nem sempre são defendidos pelo governo nem pela sociedade - que seriam as instituições nucleares que, à partida, os deveriam defender destes novos "césaresinhos" que andam por aí entre ministérios e alta administração pública fazendo estragos à Democracia pluralista e ao estado de direito. Numa palavra, hoje alguns bloggers dão ao país e ao mundo exemplos de liberdade interior que em tudo fazem lembrar a vida, a biografia e o legado de Agostinho da Silva - por esse mundo onde ele andou. Fundando universidades no Brasil, estudando religiões no Oriente, os insectos na América Latina, auxiliando o Brasil de Jânio Quadros a fixar uma política externa africana para o Brasil, influenciando Portugal com um conjunto de ideias sociais, económicas e políticas originais e revolucionárias que poderiam personalizar os fundamentos da globalização feliz que andamos à procura.
Hoje, se fosse vivo, não teria qualquer dúvida que Agostinho da Silva seria um defensor da blogosfera de qualidade, que veicula e promove ideias com finalidades sociais e com peso político capaz de melhor o tal bem comum que falava Aristóteles. Pelo exemplo do seu legado humano e cultural, pela sua firme coragem - Agostinho da Silva lançou várias pedras para a grande reconstrução que está em curso, e que só terá ganhos para a vida comum se nós, todos nós, os melhores e os menos bons - que um dia serão melhores, também lançarem as suas pedras nesta permanente construção que nos é dado viver num áspero caminho cheio de espinhos que temos de saber contornar.
PS: Dedicamos este post a Agostinho da Silva e aos bloggers que se revêm nos seus pressupostos.
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