Paulo Portas: o cinismo e a hipocrisia em movimento

Mas isto vai para além da responsabilidade (a apurar em sede de investigação) política e jurídica de PPortas, este problema remete-nos para um problema maior: o de saber o que encobre a palavra "consciência". É sabido que o mais vulgar é o sentimento medo de ser descoberto. Mesmo que actue farpeando o Estado - para inglês ver e/ou dissuadir a prossecução das investigações. É óbvio que o leitor inocente que nunca praticou nenhum crime não sente esse medo, porque não teme nenhuma investigação, pois está verdadeiramente inocente, mas se interrogarmos alguém que tenha cometido qualquer acto para o qual, uma vez conhecido, haja punição, constatará que esse alguém se arrepende do que fez assim que se sente descoberto. É óbvio que isto não se aplica ao gatuno profissional que encara sempre um certo de período de prisão como um risco inerente ao seu ofício, mas aplica-se já ao administrador de um banco que se apropriou de fundos que lhe estavam confiados (dos accionistas e dos depositantes), ao padre que foi à caixa das esmolas e vilipendiou as dádivas de Deus ou que sofreu de alguma arremetida sexual cuja paixão não conseguiu controlar, ou de qualquer outra paixão ou capricho pelo Poder, pela Influência, pela Autoridade emanada de algum agente político ou partidário que - não sabendo conter a sua fúria e ambição desmedida de poder - prevaricou. Daqui decorre que tais homens podem esquecer tais delitos quando há poucas probabilidades de serem revelados pelas polícias criminais e de investigação, mas se, ao invés, tais actos ilícitos forem descobertos ou estiverem na iminência de o ser, sobrevem-lhes o desgosto de, no momento em que governaram, de não terem sido virtuosos, e é esse desgosto que gera o sentimento de culpa (ainda que recalcado) e dissimulado como alguns jornalistas armados em políticos procuram fazer, embora comportando sempre uma terrível sensação da enormidade do seu pecado político. Sobretudo porque vivem na iminência de amanhã poderem vir a ser descobertos pelos alegados ilícitos que cometeram no âmbitos das funões políticas que na altura desempenhavam. Mas mais grave do que este sentimento de medo político - resulta um outro medo, igualmente indesejável: o de se tornar rejeitável pela sociedade. Porque, na realidade, um homem que fura as regras do jogo, simula e dissimula a todo o tempo, não paga as suas dívidas de honra, quando é descoberto não encontra nada em si próprio que lhe permita pensar que ainda pode ser útil à sociedade ou dela poder defender-se diante da desaprovação geral. Quando isto ocorre nada mais resta senão a "reflexão", antecâmara da partida para o exílio...
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