domingo

Luís Marques Mendes: um paradoxo em implosão crescente. O legado (de órfãos) do cavaquismo

PSD vai ter eleições directas para a liderança a 28 Setembro 21.07.2007 -
20h57 Lusa
As eleições directas para a liderança do PSD realizam-se a 28 de Setembro e o congresso extraordinário dos sociais-democratas entre 12 e 14 de Outubro, decidiu hoje o Conselho Nacional do partido.O prazo para a apresentação de candidaturas às “directas” do PSD termina a 21 de Setembro, decidiram ainda os conselheiros sociais-democratas, reunidos em Lisboa.
Lembro-me ainda de ver Marques Mendes no Hemiciclo de S. Bento a distribuir jogo parlamentar no tempo do cavaquismo. Era ele dizia à maior parte dos ministros o que haviam de dizer na dialéctica parlamentar. De facto, MMendes era incansável nesse trabalho de sapa político para potenciar a eficácia no quadro da esgrima parlamentar contra o PS e o CDS - e aumentar o saldo político a favor de Cavaco - que, como sabemos, só ía ao Parlamento quando queria, e não lia jornais, pelo menos em público..
Desde então Mendes integrou vários governos, sempre como nº 2 mas com aspirações à liderança. Quando Zé Barroso traíu os portugueses e se escapou para Bruxelas sobreveio a grande oportunidade de Mendes - que ele aproveitou, embora sem convencer. Visto que - embora com esforço e dedicação, perde sempre todos os debates parlamentares para Socrates, que tira sempre um "coelho da cartola" e acaba por formatar o debate político e fazer as manchetes nos media.
Ou é mais PCs para os estudantes das Novas Oportunidades, medidas de apoio à natalidade - há sempre algo de inesperado que desequilibra, e a política também é isso mesmo: surpreender. Infelizmente, é pena que Socas não tenha demitido a srª da DREN, porque isso ajudaria a moralizar a vida pública nacional, bem como corrigir outros aspectos que, por extensão, lhe escaparem e em relação aos quais ele deveria seguir mais de perto, como o dos professores que morreram no exercício das suas funções e após a CGA ter dado o visto negativo à reforma antecipada. Ou seja, Sócrates deveria evitar que casos típicamente administrativos se politizassem e aí fizessem a sua sangria política. Numa palavra: Sócrates deveria evitar dar tantos tiros nos pés, até por interposta pessoa - de que o ministro da Saúde é um caso típico.
Mas o caso é MMendes ainda não atingiu a massa crítica capaz de virar o país, o eleitorado e de gerar grandes consensos em torno de si, do seu projecto e da sua estratégia, que me parece meramente casuística. Na verdade, creio existir um sentimento de culpa em MMendes, algo que o post-cavaquismo deixou órfão - dado que com o desaparecimento de Cavaco da esfera executiva nenhum outro líder (ou delfim) se lhe seguiu com credibilidade e carisma: Durão só ganhou as legislativas porque Guterres se foi embora na sequência da derrota das eleições autárquicas em 2002; SLopes - subiu a PM com a cumplicidade torpe e cega de Belém - que viabilizou essa opção depois de Zé Barroso obter o agréement de Sampaio e atendendo à coligação PSD/CDS com incidência parlamentar na AR; e MMendes lá vai fazendo o que pode no Parlamento, fora dele, nas tvs e jornais falando grosso à propos dos casos quentes que têm condicionado a liberdade de expressão na administração pública e que tem servido para desprestigiar a imagem pública do PM. É curto..
Ou seja, a vida política de MMendes não tem sido fácil. Ele esbarra contra um Sócrates forte, vigoroso, vitamínico e altamente combativo, corrosivo e desgastante - tudo qualidades que dão a MMendes um sentimento de inferioridade. E sentindo-se infeliz Mendes está inclinado a ter a respeito dos outros exigências que são excessivas e que o impedem de encontrar a felicidade nas suas relações políticas e até pessoais. Veja-se o que Isaltino Morais - seguindo a máxima olho por olho, dente por dente - agora lhe fez no caso da Universidade Atlântica... Por outro lado, presume-me que pelo facto de ter contratado o filho de SLopes para digitalizar os bilhetes que o Pai enviava a Sá Carneiro tenha apaziguado mais a relação quente entre os dois, mas isso só não chega para comprar a paz interna na S. Caetano à Lapa.
Por ironia do destino, e após ter perdido Lisboa da forma como perdeu - crucificando Carmona que depois o cilindrou - Mendes não deixa de ser esse homem que, se calhar, vai a votos sózinho, pois ninguém quer competir com ele com as regras administrativas que ele quer manter no Conselho Nacional - em que só poderão votar uma parte do universo dos cem mil militantes.
Daqui poderá irromper um paradoxo que a prazo implodirá com este PSD: Mendes vai ao congresso e limpa os votos, ou seja, vence mas não convence. Mas amanhã o mundo, lá fora, voltará a olhar para ele com os mesmos olhinhos: o homem que perdeu Lisboa, o homem que perde os debates parlamentares, o homem que, no fundo, não chega para Sócrates.
Sentindo-se inferior, Mendes terá má vontade para aqueles que lhe parecem superiores. Para ele a admiração é difícil e a inveja é fácil. Resultado: MMendes tornar-se-á cada vez mais um homem solitário, fica emparedado dentro daquela fórmula do D. Riesman - da multidão solitária - em que uma pequena entourage está lá a segurar na vela por MMendes, mas na "hora H" a chama quebra-se e o mundo volta a escurecer no pequeno universo do PSD de MMendes.
Mas se virmos bem, por quem é que hoje o chamado homem médio deve prestar atenção, tributo e confiança política nessa área do centro-direita? Por SLopes, por Aguiar Branco, por Ferreira Leite, por Morais sarmento, por, por, por...
Todos estes elementos somados ficam ainda aquém da cotação política de MMendes. Eis o drama do PSD legado pelo estertor que foi o cavaquismo: secou tudo à volta, como um bom eucalipto, impedindo o florescimento de elites credíveis que hoje pudessem fazer o turn-over político e neutralizar o PS de (centro e centro-direita) protagonizado por Sócrates na sociedade portuguesa.
Em rigor, o responsável por esta secura de alternância de poder ao actual PS nem sequer é MMendes, que é tão esforçado quanto dedicado. A factura se calhar terá de ser apresentada a Belém na mesa de trabalho de Cavaco.
Terá sido por isso que ele esta semana reclamou o seu cartão de militante (coisa que criticou a Soares quando este foi PR) - a fim de poder influir nas jogadas de bastidores que condicionarão a eleição novo (velho) líder?

PS: Enquanto este PsD se afunda no marasmo o PM, Sócrates, juntamente com os seus ministros andam a distribuir Computadores portáteis pelo País. Não é isto admirável!!!

Por vezes parece que estou a assistir a um filme trágico-cómico.