O peso das multidões e manifestações no Glorioso: causa ou sintoma
De facto, tudo é político: a propósito da inauguração duma ponte o jornalista pergunta ao PM o que sentiu por ter sofrido a vaia no Glorioso. Aqui programa-se a apresentação das 7 maravilhas do Mundo e as multidões logo aproveitam o momento e a força da psicologia da multidão - para vociferar contra o PM e a política geral do País. Será isto orquestrado ou espontâneo? É certo que Socas é um reformador, determinado, orgulhoso, corajoso e por vezes algo caprichoso. Mas neste activo há também um passivo presente na quebra do poder de compra dos portugueses, no desemprego, no desprestígio da classe política, nos casos DREN e nos professores que mesmo doentes foram obrigados a trabalhar e a morrer de pé, como veio lamentávemente a suceder. Isto parece-me tão óbvio quanto natural, mesmo para com aqueles que não acompanham o fenómeno político de perto pensariam que essa possibilidade poderia concretizar-se, portanto o descontentamento da Luz é um sintoma natural desse crescendo que começa a atingir a credibilidade do PM. Ainda que o PM tenha índices de popularidade assinaláveis volvidos estes dois anos de governação. Mas se estas são as causas aparentes e mais visíveis vejamos a profundidade das coisas, i.é, uma vez reunidos alguns homens terão como factor-comum algo recalcado, assim basta que apareça a oportunidade para que esse fio condutor possa dar o seu grito excitador e transformar-se num acontecimento impressionante. Mas convém dizer que as massas fácilmente se transformam sob a influência dos mais diversos factores: paixões exacerbadas, ambições violentas, promessas não cumpridas, ódios à classe política e aos partidos, etc. Tudo isto gerou no Estádio da Luz um efeito de desejo ou de vingança e de represália - pelas razões supra-citadas - que se agravam e amplificam pelo espírito de destruição sobreexcitada típica daquela contexto: um estádio de futebol. Seria mais do que óbvio, e o Zé Durão barroso também passou pelo mesmo e não fez 1/3 das reformas que este governo está a empreender. Ou seja, até um ceguinho perceberia que sob domínio explosivo destes factores de descontentamento social, que se agravam pelo facto do PIB e da competitividade da economia nacional não descolar, que as massas se tornam multidões em fúria, resta saber durante quanto mais tempo e com que consistência psicológica e política. Sócrates ainda tem mais dois anos para mostar que é um "gajo porreiro", porque ele até tem esse lado quando se descontrai e desinibe, mas terá de ter mais sensibilidade social nas políticas públicas e cuidar mais da comunicação política por forma a inverter casos lamentáveis como o da DREN ou dos professores que morreram porque os serviços públicos da CGA não lhes reconheceu as devidas especificidades em termos de saúde, além da quebra do poder de compra e de alguns impostos e medidas não previstas no programa eleitoral. Numa palavra, cada vez mais é difícil governar, Portugal está na Europa mas em termos de indicadores de desenvolvimento ainda estamos áquem do desejado e dos indicadores de desenvolvimento humano dos países da Europa. A grande questão é, a nosso ver, a seguinte: serão estes estados de alma elementos de perturbação da multidão com carácter transitório ou permanente? Ainda pensei que Sócrates ao ouvir aquela vaia na Luz solicitasse o microfone à organização e interagisse com essa mesma multidão dizendo OBRIGADO!!! PS: A tsf granjeou sucesso ao longo do tempo, mas arranjar um tema diário e fazer um fórum como se esse fosse o assunto mais importante da nação não deixa de ser tão habilidoso quanto pérfido. A tsf é hoje o principal fórum de democracia directa em Portugal e isso faz dela o media com mais alcance social e político, o que não deixa de ser curioso: uma rádio acabar por ter um papel político que diz ao povo aquilo que o povo deve ou não deve pensar no seu quotidiano. Será que somos todos uns carneirinhos.. Um dia ainda telefono para o Manel acácio e digo-lhe em directo que a minha agenda ou assunto diário não é aquele que eles querem que eu pense mas o que eu proponho, um pouco ao estilo Pacheco Pereira - quando diz: bem, a questão não é essa... Gostaria de perguntar daqui ao sr. manel Acácio se amanhã um conjunto de políticos for ao Estádio da Luz e, a dado momento, ofender o árbitro por discordar da sua arbitragem se a tsf fará um programa sobre tão inefável assunto. É claro que isto não deixa de ser ridículo, como, aliás, muitos programas da tsf e a forma como o jornalista intervém ou corta a palavra aos intervenientes, mas o que pretendo significar é que também é tão exagerado quanto perigoso uma rádio, qualquer que ela seja, assumir uma dimensão política nos media como hoje tem a tsf. Não tanto por ter a audiência que tem, mas por seleccionar os temas e de os agendar e inscrever na agenda política como se fossem a missa domingueira do Marcelo. Contráriamente ao que muitas vezes se pensa aquilo que a Srª dona tsf faz ou deixa de fazer não diz respeito só aos seus jornalistas, nem sequer à informação. Qualquer dia ainda verei a tsf a governar este país e em directo. E, claro, ver o sr. Manel Acácio no papel de PM a atender telefonemas..
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