O verdadeiro Belarmino, o pugilista. O recanto da memória
Observações
"Belarmino, nome real de um boxeur em decadência que interpreta o seu próprio papel, é sobretudo um belo filme confessional, perseguição de uma voz sempre off (voz do entrevistador) ao rosto quase sempre presente do protagonista. Implacável campo-sem-contra-campo, o filme é uma habilíssima articulação entre o flash-back e o frente-a-frente.
Se Belarmino tivesse vivido noutro país, talvez fosse um grande campeão. Esta afirmação, feita no filme, faz passar Belarmino do fait-divers para a tragédia. (...) É um filme construído sobre o combate de um personagem com um décor, essa portentosa Lisboa do filme que só pode levá-lo ao K.O. em qualquer round."
João Bénard da Costa, in Histórias do Cinema, Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 91, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa
"No início dos anos 60, quando o movimento do Cinema Novo português tomava forma e iniciativa, muitas eram as vias delineadas pela geração de cineastas em ascensão. Apenas um ousou não fazer ficção e abordar o cinema-directo: Fernando Lopes com Belarmino (...).
Traçando (via entrevista conduzida pelo jornalista Baptista-Bastos) o perfil do pugilista Belarmino Fragoso, é de Lisboa-cidade e da respiração acossada do País que este filme fala. Imagens secas, palavras rudes, ao diabo a verdade-mentira desse homem sózinho. A ambiência empapada e cinzenta dos lisboetas anos 60 está lá, engravatada e dispersa, anónima num destino emigrante pra levar porrada. Grades e música de jazz, em estilhaços gritados. Nem sonhos, nem ilusões, cansaço. E uma montagem que quer levantar voo e a realidade não deixa. Nem condoído nem exaltante: Belarmino é apenas um murro no estômago."
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