segunda-feira

O poder é um perigo inflamável, por vezes um deserto de areia, um oceano de mar, uma mão-cheia de nada

Aceitam-se apostas acerca de quem vai no cokpit do aparelho: uns dizem que é MMendes, porque não se vê; outros dizem que é Mário Lino que quer mandar construir um aeroporto num arrozal de gibóias. Aluguem um coche...
Logo à noite a dona Fátima Campos Ferreira vai apresentar mais um Prós & Contras naquela sua passagem de modelos à Augustus já muito demodé que me reporta para o Portugal black & white da década de 70, e como um dos seus consultores de imagem e de política anti-política são alguns dos salazaristas do ancién regime, não me admirava que a jornalista convidasse o doutor Adriano para dissertar sobre a teoria da melhor localização do aeroporto - que terá de ser construído em Portugal, porque a Portela já é uma fonte de prejuízo diário pelos lucros cessantes que acumula que se traduz na sua incapacidade de receber mais turistas. Se calhar é por isso que continuamos pobres, pobrezinhos e andrajosos, se calhar...
Isto remete-nos não para a teoria da localização do aeroporto nem para os restolhos salazarengos que vegetam por aí, nos bastidores da RTP - a revelar a sua surdez, mas para uma questão maior: a da finalidade do Poder, que hoje pouco ou nenhum sentido parece dar à vida, pois nem a localização geoestratégica de um aeroporto consegue engendrar, metendo o país-técnico que sabe pensar essas equações económicas, viárias, logísticas e infra-estruturais a fim de se eleger um sítio racional e adequado para a exploração dessa importante plataforma de desenvolvimento nacional - e que servirá de placa giratória para todos os nossos fluxos demográficos, económicos, financeiros e o mais.
Portanto, logo à noite iremos ter mais xarivari, mais conselhos técnicos para inglês ver, mais ausência de consensos, mais areia na engrenagem com muitos engenheiros de palmo e meio a medir o tamanho da sua unha e a não ser capaz de olhar para Portugal como um todo.
Mas o poder deveria servir para algo, e não apenas para um prazer, uma delícia, uma exaltação ou até, como diria Henry Kissinger - um afrodisíaco, razão pela qual o ex-secretário de Estado de Richard Nixon (que teve de resignar na sequência do escândalo do Watergate) só viajava entre belas mulheres e apresentava-se ao mundo com esses troféus, de preferência louras.
Hoje, o Portugal político está paralisado com uma decisão técnica: a escolha da melhor localização para a construção de um aeroporto - que pressupõe um conjunto integrado de estudos económicos, demográficos, ambientais e outros que me escapam - porque não sou engenheiro, muito menos diplomado pela Uni - onde até o MMendes deu aulas em 1995 - antes de saltar para a Universidade Atlântica (nomeado por Isaltino Morais) - onde também foi docente, razões de sobra que justificam a crise do sistema de Ensino superior em Portugal.
Com o PSD a opção apontava para a OTA; o PS deu-lhe continuidade e hoje quer fechar esse ciclo da decisão política não derivando para a margem Sul, que é um "deserto", como se sabe.... Isto revela a dificuldade em exercer o poder, mais até do que conquistar o poder e depois fazer-se respeitar. Só que o PSD quis ser natural mas não passou de um simulacro; o PS simula que anda a considerar outras opções mas só está obsecado com a Ota.
É daqui que nasce uma dualidade perigosa em Portugal que curto-cicuita a credibilidade do aparelho de decisão, já que tanto um como outro partido, que se alternam no poder, navegam entre a sinceridade e a comédia. Tanto mais que a Ota oferece uns terrenos que são bons para a criação do arrozal e da gibóia, e as outras localizações parecem oferecer, pelo menos, a dispensa de muitos milhões de euros para a preparação dos solos com base nos quais se irá construir essa infra-estrutura vital para o País.
Já aqui dissémos que o aeroporto da Ota não deve ser construído no túnel da Praia de Albufeira - contíguo ao Hotel Sol & Mar do Fernando Barata (será?!) - mas por razões técnicas por demais conhecidas também não o deverá ser na Ota. Só que o frenesim com que esta questão está sendo equacionada - que já se politizou em demasia - leva-me a crer que logo à noite até o Luís Figo possa ser entrevistado por dona Fátinha: - não já para dizer que é um futebolista desempregado - mas para ajudar os decisores políticos, os consultores económicos, os técnicos, demógrafos, sociólogos, antropólogos e demais comunidade científica com ligação directa e indirecta ao problema - a fim de dar o seu precioso contributo...
Aposto que o Figo é capaz de se abalançar para um tertium genius em matéria de localização para a construção do novel aeroporto: na pala do Estádio José de Alvalade... construída por um outro ilustre engenheiro, Edgar Cardoso - para até andou aos saltinhos na referida pala só para a testar...
Ou então, como alternativa, evocando-me um amigo do vinho que conheço de outros carnavais, é bem capaz de sugerir que hoje com as modernas tecnologias já é possível construir um aeroporto totalmente suspenso no ar. E se assim for esse aeroporto tanto pode abrir em Benfica, como no deserto da Costa da Caparica, no Funchal, em Ponta Delgada, em Tomar, no Porto, em Abrantes, em Viana do Castelo, em Vila Real de Sto António ou até na Av. de Roma - com uma manga directa da Praça de Londres ao Júlio de Matos - em que toda esta discussão há muito se converteu.
Talvez o melhor mesmo seja dispensar toda a tralha política, os engenheiros-consultores que defendem os interesses privados do costume, e chamar um corpo de bombeiros sapadores que diga ao País onde é que devemos construir o mastodonte.
Como diria o Jumento - que também é expert em comunicações turísticas: construam-me, porra!!!
Por mim, vou de barco, mando um mail ou envio um fax. E se não puder viajar - alugo um filme no video club do País que pretendo viajar e dispenso-me do avião, que é um pássaro estranho e, segundo reza a história, lá em cima não existem duas coisas cruciais que existem em terra: valetas e oficinas.
  • Logo, é com o som da rtp em of e com o Seal no máximo que verei mais um Prós & Contras aos encontrões... É assim que se deve ler este Portugal adiado que nem a m.... duma localização para construir um aeroporto tem arte. Por vezes, tenho vergonha de ser português, mas fugir para Espanha também não adiantaria. Lá é tudo melhor, o que só agravaria a frustração.. Estamos cercados de incompetência. Até parece que Portugal nasceu no séc. XIX e ainda andamos a carvão e fazemos como o Popey - Pú-pú)))
    Seal - Get It Together