quarta-feira

Obras em Marvão arruinam e afastam turistas

Obras em Marvão arruinam comércio e afastam turistas
HUGO TEIXEIRA, Portalegre PEDRO VALENTE (imagem)
"Em Marvão, o descontentamento com as obras em curso há vários meses é geral. Turistas, comerciantes e moradores repudiam totalmente o que consideram ser um "atentado à identidade da vila", candidata às "Sete Maravilhas de Portugal".
Os trabalhos destinavam-se a enterrar cabos eléctricos e antenas, entre outras estruturas, para manter o aspecto "histórico". Mas, ao contrário do sonhado, proliferam caixas de plástico que servem como armários para a rede eléctrica, bocas-de-incêndio mal colocadas e com cores (vermelho e branco) que destoam da traça original, mobiliário urbano que não se coaduna com a identidade da vila e a calçada totalmente destruída.
Pelas artérias estreitas e sinuosas de Marvão, entre valas e calçada desfeita, os turistas mostram-se surpreendidos com as transformações. "A calçada está diferente, já não é a mesma de antigamente e as seculares lajes, que dividiam estas ruas como uma passadeira, foram substituídas por estas de granito", diz surpreendido Pepe Ramirez, da vizinha cidade espanhola de Cáceres.
Mais à frente, Rui Morais, de Braga, considera que as transformações "não são estéticas". Critica as bocas-de-incêndio e as caixas de plástico da rede eléctrica, que "desfiguram a imagem medieval. Que falta de gosto. Ao menos que resguardassem isto. Assim está a destoar tudo o que é natural e genuíno".
Luísa Assis, residente em Marvão há cerca de dez anos, onde desenvolve a sua actividade comercial como artesã, está "à beira de um ataque de nervos". Na sua opinião, "isto é uma aberração estética. Então estamos agora numa vila cheia de caixas de plástico?" O Instituto Português do Património Arquitectónico "não deixa as pessoas executarem obras dentro das suas casas e permite isto?", questiona, indignada. "As obras afectaram todo o comércio. Tive de mudar de instalações para um espaço no castelo, cedido pela câmara. Se não fosse isso, estava na penúria", acusa.
Hotelaria perde clientes
"Com estas obras, tivemos uma grande quebra no número de dormidas", denuncia Cristina Andrade, concessionária de uma albergaria e de um café. "Agora só resta ver o que nos reserva o Verão, mas parece que as obras vão durar até lá", conclui.
Em Junho de 2006, Marvão retirou a sua candidatura a Património Mundial da Unesco, para evitar a anulação por parte do Icomos - entidade que propõe e avalia os bens que receberão a classificação -, que nessa altura ponderava rejeitar o projecto da vila alentejana.
A decisão de retirar a candidatura foi tomada após uma reunião de responsáveis da câmara com a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, que defendeu que "todo o projecto deveria ser repensado".
O actual executivo camarário já demonstrou vontade de reabrir o processo e relançar a candidatura, mas, perante o desenrolar das obras, esse dossier poderá ficar na gaveta durante mais algum tempo. "
Obs: Creio que aqui haverá dois planos a analisar nestas obras de Sta Engrácia que muito têm penalizado Marvão e o seu desenvolvimento local:
1) Um eminentemente político - a quem caberia supervisionar as obras no plano político, gerir os calendários das obras comprometendo e responsabilizando os empreiteiros, minizando os impactos negativos à população que alí vive e trabalha com dificuldades e levando em conta que das obras jamais poderá resultar uma descaracterização da traça original da Vila de Marvão;
2) Um segundo plano, mais de carácter técnico, operacional e logístico - passa por os engenheiros, arquitectos e demais pessoal especializado da autarquia de Marvão ir acompanhando essas obras, mas sempre sob as orientações superiores emanadas do Presidente da autarquia. Desconheço se, de facto, é isso que se passa, ou seja, se os papéis se inverteram e são os técnicos que assumem o papel do presidente; e este não assume, como deveria, a função de autarca para que foi legitimamente investido - esperando-se que faça devido uso dos poderes de direcção política de que é o único e legítimo agente.
Se são os técnicos a teleguiar a vontade do autarca, seria muito grave porque, nesse caso, o autarca denunciaria uma tremenda falta de vocação e incompetência para gerir a autarquia; se, de facto, existem outros obstáculos, o presidente já os deveria ter eliminado e fazer um plano de (re)calendarização das obras a fim de evitar prejuízos maiores às populações locais e, por extensão, ao fluxo de turistas que chega alí e depara-se com um vendaval de obras que só convida à retirada, com os consequentes prejuízos económicos constantes dos lucros cessantes que a restauração, pousadas, pensões, museu, artesanato, gastronomia e outros sectores deixariam de receber por força daquele pandemónio que se arrasta no tempo.
Como os dados são escassos neste artigo, pergunto-me até porque razão estes dois jornalistas do DN (Hugo Teixeira e Pedro Valente), que espero não sejam estagiários, fizeram esta auscultação à população e não, como deveriam, entrevistar o presidente da autarquia que, para quem não sabe, se chama Vitor Frutuoso. Resta saber se os jornalistas tentaram e não tiveram sucesso, ou se foi só mero desleixo josnalístico que acabou por deixar a peça incompleta e não se perceber bem quem, de facto, é que em Marvão tem interesse (económico, financeiro, político ou outro) na perpetuação daquelas obras e na forma que elas têm assumido. Esta será uma questão-chave para a qual se terá de obter uma resposta.
Tudo questões por responder a que os referidos jornalistas deveriam tentar obter esclarecimentos. E até é fácil porque de Portalegre a Marvão são apenas 18 Kil., é certo que é a subir, mas com sorte e com um telefonema prévio, talvez isso se resolva, e o Sr. Presidente se digne descer de Marvão a Portalegre (que são o mesmo número de Kilómetros) para a tal entrevista de cabal esclarecimento. É capaz de ficar mais económico e as populações, certamente, agradeceriam. Os turistas e a economia local também. E as populações ficariam com uma ideia mais clara se a responsabilidade dessas obras é do Sr. engº Vitor Frutuoso (edil de Marvão) ou de algum técnico ou alguma arquitecta mais problemática que tem (ou parece ter) por única missão na vida criar dificuldades às pessoas...
Aguardemos, pois, que o common sense impere e o profissionalismo jornalístico seja reforçado e volte a Marvão. Se nada disto acontecer arrisco-me a dizer que este artigo no DN tem tronco e membros, mas falta-lhe a "cabeça".
PS: Em boa hora o nosso amigo João F. chamou-nos a atenção para esta vergonha, de que aqui fica a preocupação. Quem sabe os jornalistas não repegam na peça e a completam, de preferência com um esclarecimento adicional do sr. Presidente da autarquia de Marvão, Vitor Frutuoso. A não ser que a concepção que ele tenha da política autárquica seja igual à de Carmona, que, por sua vez é igual à do Urso polar e parecida com a da gibóia: ambos hibernam. Mas neste caso não será, certamente, por causa do frio...