quarta-feira

SIS forma empresas em contra-espionagem

SIS forma empresas em contra-espionagem JOÃO PEDRO HENRIQUES PHOTODISC (imagem) Em Março passado, a Oracle, um dos gigantes mundiais da informática, apresentou queixa contra uma grande rival alemã, a SAP. Razão: uma subsidiária desta empresa, a TomorrowNow, teria, alegadamente, penetrado nos sistemas da Oracle e roubado milhares de registos, produtos de software patenteados e diverso material sigiloso. O objectivo seria roubar clientes da Oracle para a SAP. A notícia vem publicada no site do SIS (www.sis.pt). É uma das várias notícias ali publicadas que ilustram a necessidade de as empresas se defenderem de espionagem económica. Para que casos destes não ocorram em Portugal, ou pelo menos ocorram menos do que actualmente, os serviços secretos portugueses decidiram-se por uma iniciativa inédita na sua história: promover cursos de contra-espionagem para em
presas. No site do SIS, Antero Luís, director-geral, explica os objectivos do programa - denominado Programa de Segurança Económica (PSE). Visa "fortalecer os laços entre o SIS e a sociedade civil", além de "prevenir e diminuir os riscos recorrentes das actividades contrárias aos interesses nacionais". Na apresentação do programa, garante-se às empresas interessadas "máxima discrição e confidencialidade". E o programa é fornecido sem custos para as empresas: "Este tipo de acções é considerado um serviço de utilidade pública, pelo que o Estado suporta os custos inerentes à sua realização." Segundo informação oficial do SIS ao DN, há 10/15 anos que serviços secretos da Europa, América do Norte e América do Sul organizam cursos semelhantes. O SIS assume que "procurou recolher elementos sobre as experiências nos serviços congéneres". Mas acrescenta que isso não quer dizer que "houve qualquer ajuda ou intervenção directa" desses mesmos serviços na organização do programa português. Quanto ao número de empresas que já recorreram ao PSE, o SIS guarda segredo. Diz apenas que "dezenas de entidades" foram "contactadas". E que entre essas se encontram "empresas privadas, organismos estatais, universidades e centros de investigação". Por outras palavras: houve "boa receptividade em termos gerais"; mas "muito ainda há para fazer no sentido de reforçar a segurança das organizações portuguesas perante a ameaça de espionagem". Segundo o SIS, "na espionagem económica foi referenciada, nos últimos anos, a utilização de recursos e de métodos tradicionalmente associados à espionagem político-militar". Por exemplo, "o recrutamento de pessoas com acesso a conhecimentos, equipamentos e instalações de interesse estratégico", a "utilização de equipamentos de intercepção de comunicações" e a "utilização de equipamentos de captação de imagens ou de som". Os documentos do Programa de Segurança Económica do SIS explicitam também diferenças de conceitos entre "espionagem industrial" (feita por empresas), "espionagem económica" (feita por Estados) e "competitive intelligence" (acto lícito de recolha de informação)."
Obs: Foi pena o SIS não ter acordado para esta realidade há uma década, porque ler o Dn de manhã e o Público à tarde e fazer uns recortes de imprensa da Foreign Affairs (mais uma meia dúzia de publicações sugeridas pelo orçamento do IDN) é curto, seja para o Estado (na protecção da sua soberania), seja para o meio empresarial (na protecção dos seus negócios). Depois justificar a utilidade do SIS com base numas infiltrações junto dos sindicatos e do PNR também se revelou pouco produtivo. Agora parece que são as multinacionais a ditar o rumo estratégico que um Serviço sensível como é SIS deve (ou) não seguir.. Isto não deixa de ser caricato, além de que também revela que esse organismo especializado em produção de informações estratégicas vai a reboque dos problemas das multinacionais e não, como devia, planificar o seu plano de actividades. Aliás, até pelo método de recrutamento desses serviços e corpos especiais do Estado se pode aferir da qualidade do mesmo. Estes homens cinzentos pensam que é com exames psicotécnicos da tanga que identificam massa crítica que valorizam aqueles serviços... O problema começa logo por aí.