quinta-feira

O nosso mundo e a origem da maldade: Madeleine McCann vs Rui Pedro. Um mar de diferenças..

Este homem não é cirurgião nem integra a classe média-alta; não tem rendimentos nem passa férias no "Allgarve"; não tem uma filha girinha chamada Madeleine, não passa férias em lado nenhum, deve ter tanto azar na vida que quando chove sopa dos céus só tem garfos nas mãos...
Provavelmente, só come de vez em quando, quando o apanha. E quando o faz deve ser ao lado dum contentor a transbordar de lixo urbano - donde se alimenta. Se morresse, muito provavelmente morreria incógnito ante o anónimato da sociedade que anda extasiada com o desparecimento duma criança, por mais grave e importante que isso seja. Mas o que aqui choca é a utilização na desproporção de meios afectados no caso da criança inglesa - que espero regresse com vida à família - e os milhares, milhões de crianças, jovens e velhos - deficientes de guerra - em Angola, Darfur, Brasil, Sudão, Etiópia, Somália, Costa do Marfim onde quer que exista sofrimento, miséria, fome, sida e muitas, muitas outras epidemias a que os crápulas de certa mediacracia parasitária vigente - nacional e internacional - dedica a estes problemas, comportando-se ciclotimicamente: cobrindo excessivamente nuns casos, tornando-se indiferentes noutros.
Por que razão isto sucede? Que razões de fundo justificarão que nuns casos a cobertura e a afectação de meios policiais e de investigação seja ao estilo Bill Gates e noutros não passe duma sombra alí das Sopa dos pobres aos Anjos?
Será pura maldade dos directores de informação e, por arrasto, da classe dos jornalistas em geral que nuns casos é inclusiva e noutros marginaliza? Será porque nuns casos existe uma cobertura mediática capitalista e noutros para gente modesta e sem recursos - adoptando um padrão mínimo de encolhe-os-ombos que isso passa? Ao jeito dos cães abandonados...
Certamente, o crime de pedofilia é, por natura, hediondo, mas as dezenas desses mesmos crimes praticados em Portugal, com famílias portuguesas desfeitas tiveram, consabidamente, tratamento diferenciado por parte da PJ e das entidades competentes, porquê?
Temo bem que esta parafernália de comunicação, de meios, de pessoas e de vedetas, fundos financeiros quase de dimensão bolsista - com advogados a ganhar 150 cts à hora, toda este espectáculo é um circo que passará, e amanhã quando uma criança oriunda da classe média-baixas das berças desparecer a Sic, a tvi e a rtp são capazes de, juntas, dedicar 120 segundos ao problema numa nota de roda-pé nos intervalos da Pub. ao sabonete Dove. Estes critérios profundamente desiguais chocam. Até dá a sensação que há crianças Classe A, B e C - como os Mercedes. F...x!!!
Bem sei que meio mundo hoje não tem projecto de vida e anda em busca de identidade e, desse modo, precisa de exteriorizar os seus sentimentos e emoções, a sua solidariedade da treta, o seu altruísmo diante do olho macroscópico da câmara.. Mas este desparecimento veio por a nú que não estamos inocentes neste tratamento desigual que conferimos às crianças desaparecidas. Isto revela bem a debilidade da nossa alma, a nossa injustiça no tratamento dos mesmos problemas sociais.
O desaperecimento dramático da criança inglesa é grave por si, assim como todos e cada um dos que já ocorrem em Portugal e noutros países - e em relação aos quais as autoridades competentes não afectaram em investigações e em expertise sequer 1% do que aqui se verifica. Daí o escândalo da situação. Não porque no caso de Madeleine esses meios sejam mal empregues, mas porque em todos os outros casos de crianças desaparecidas entre nós pouco ou nada se fez, daí o efeito de contraste deveras chocante.
E é a esse fenómeno que aqui chamo de origem da maldade, aliás, quando é que o homem foi inocente?
Contudo, tiro deste drama - que espero não redunde em tragédia - a seguinte lição: amanhã, quando uma outra criança desaparecer em Portugal pelas mesmas motivações de perversidade sexual ligada à pedofilia, estamos certos de ver o Ministro da Adm. Interna (agora o dr. Rui Pereira, uma boa escolha, previsível, de resto), o PR, a alta finança, todas as estações de Tvs, os empresários, a Net, o Montepio Geral, o Ricardo Salgado Espírito Santo, os filhos e netos de António Champalimaud, o ministro das Finanças, o Pre. Vitor Melícias, o maoista do Durão Barroso (estou admirado ele ainda não ter aparecido empunhando o cartaz de Madeleine capitalizando a sua publicidadesita..) - todos envidando esforços para localizar essas crianças, como o Rui Pedro - que hoje tem cerca de 20 anos e já desapareceu há 10. Impressionante, não é?! E desde então nenhum dos cáfilas sentados com o rabo gordo diante dum PC na PJ teve a arte de actualizar os traços faciais deste rapaz, hoje um adulto a fim de facilitar a sua identificação e recuperação.
Mas à mediacracia vigente que contribui directamente para gerar este efeito de carrossel concedendo a certos casos aquilo que nega a outros - quando o tratamento sobre essas crianças deveria envolver o mesmíssimo tipo de meios e de atenção mediática - tenho uma palavrinha para eles: deitem-se ao rio...
Pois é nessa discricionariedade mediática e ao nível das investigações que está a raíz da maldade, e que este caso da Madeleine vem dramáticamente amplificar e globalizar - em tempo real. Eis um sinal da globalização negativa que urge corrigir.

  • PS: Esta miserável reflexão é dedicada ao Rui Pedro que deapareceu há 10, aos seus pais e amigos - bem como a todas as crianças que em Portugal, na Europa e no mundo tiveram o infortúnio de cair nas garras desses doentes perversos e tarados que deveriam estar internados libertando a sociedade desse terrível fardo. Estou certo que um dia o Rui Pedro ainda aparece em Portugal, e quando o fizer será para denunciar uma rede inteira de criminosos que há muito deveria estar atrás das grades e, de preferência, castrados de modo a que quando concluirem a sua pena o seu regresso à sociedade não represente qualquer perigo. Assim, corta-se o mal pela raíz, e basta uma injecção para tratar da saúde a esses animais...