O cinismo do Papa Bento XVI: não "votaria" nele
Confesso nunca ter gostado deste Papa, apesar da sua preparação intelectual. Não apenas pelo rasgo facial diabólico que ostenta, especialmente quando se ri (parece um tubarão antes de atacar uma foca) mas porque seria sempre problemático suceder a um Papa da estatura humana e moral de João Paulo II - um papa a sério. Universal, amigo dos pobres, amante da paz e do diálogo intercivilizacional, amante da democracia e da liberdade de expressão que ajudou a fazer cair o comunismo soviético e a democratizar todo o Centro e Leste europeu. De modo que seria problemático a Bento XVI suceder eficazmente ao legado poderoso que recebeu. Seria como se um pigmeu quisesse montar um elefante... Ou o António Preto candidatar-se a Lisboa. É contra-natura.
Hoje soube que o Papa se disponibilizara para receber os pais de Madeleine, a criança inglesa raptada alegadamente para fins de pedofilia. É óbvio que este acto isolado tem um significado moral, político e simbólico especial que não é transponível para os pais de todas as outras crianças desaparecidas nas mesmíssimas condições. Neste caso, até com a agravante de os pais de Madeleine não se encontrarem junto das crianças, que dormiam sózinhas...
Portanto, se eu próprio fosse um desses pais cujo filho/a tivesse sido raptado e não visse da parte do Papa (dos media, das autoridades competentes, dos futebolistas, dos empresários e demais gente do momento) a abertura que agora, a título excepcional, foi concedida para o casal inglês - ficaria magoado e ressentido.
Daqui decorre uma conclusão óbvia: este Papa não tem um grande (nem pequeno) sentido de justiça relativa nem sentido de equidade. Desta forma, trata diferenciadamente aquilo que é igual. Por isso, merece aqui a nossa censura, espero que os cristãos de todo o mundo agora lhe peçam contas pelos demais meninos e meninas desaparecidos e que não contaram com o sponsor daquela gente nem com o oportunista patrocínio do Papa Bento XVI.
Para o sr. Bento deixo aqui o meu Bordalo Pinheiro associado ao lamento de ele não se ter já prontificado a tratar do assunto em sede de Conferência episcopal de âmbito internacional. Um iniciativa que iria, por certo, desnudar muito vício de padreco que, sob as batinas, ocultam monstruosos vícios, defeitos e crimes. E isso, por certo, não iria interessar ao Bento XVI. Dá-lhe, pois, mais jeitaço (até no plano mediático - cavalgando a onda global) receber in private os pais de Madeleine.
Este Bento saí-me cá um oportunista... Além de que em matéria de religião também nunca apreciei intermediários, que são os vigários/padres - por vezes homens ainda mais pecadores do que qualquer leigo. Se puderem, dispensem os padres e fale-se directamente com Deus...
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