quinta-feira

Marques Mendes e a teoria do homem-cato

A teoria do homem-cato é simples: ninguém se pode aproximar dele sem se aleijar ou ficar cravado de espinhos. Carmona é hoje um homem assim, abusado, esmifrado, prostitutído pela máquina triturante do PsD - que o parasitou em campanha, lhe disse que rua deveria visitar, que avenida seguir, em que praça deveria discursar. Carmona, em rigor, foi um puppet-man, um roberto de aldeia manipulado por terceiros. E quem foram esses outros? Os antónios pretos, os homens de mão de MMendes, os veradores - Lipari, Prôas e demais caciques das jotas e secções de votos que nunca fizeram mais nada na vida senão intriga partidária, organização de almoços e jantares, palmas, transitando de gabinete ministerial em gabinete assessorial, gente inútil, intelectualmente vazia sem nada para oferecer à polis. Foram estes os homens do presidente, os homens do vazio. Depois foi o que se viu: caíu a vereadora Gabriela, o sr. Fontão - uma vaca sagrada - já desde o tempo de Sampaio, e agora tocam os finados de indícios de suspeitas sobre o próprio Carmona. Dura lex, sed lex...
Ante este fracasso político absoluto, pergunto-me poque razão Mendes não tomou esta decisão há 3 meses? Por que razão deixou apodrecer a situação... Talvez porque na Lapa a esperança fosse a última a morrer, e Lisboa sempre o bastião de Mendes para as suas jogadinhas palacianas e depósito de cunhas dos amigos políticos. Mas o peso da incompetência, do laxismo, da fixação pelos lugares e pelos tachos deixou uma marca negativa na relação do eleitorado com o Psd, a ponto de ter de ser, doravante, a esquerda - sózinha ou coligada - como no tempo de João Soares, a assumir o poder na Capital. Até porque tem tradição de fazer um trabalho razoável na política de proximidade.
Mais do que a Carmona, que fez o papel de idiota útil, como diria Lenine, Marques Mendes deverá extrair para si uma grande lição: a autarquia de Lisboa, apesar de se ter servido dela como duma meretriz do Intendente para lá enfiar os seus amigos políticos e a cambada de assessores inúteis domesticados pelo António Preto, ainda lhe vai sair cara em termos de custos políticos. Mendes - que é candidato a PM, sai desta refrega duplamente fragilizado: enquanto manipulador autárquico e enquanto líder da oposição com aspirações a PM.
Ninguém o levará a sério daqui em diante, até porque nunca sabe em que tabuleiro Mendes estará empenhado: se no tabuleiro para S. Bento, se na corrida à autarquia, ainda que por interposta pessoa - como fez com este roberto político que foi Carmona Rodrigues, o homem das motos antigas e das inglesas de Albufeira - que vêm sempre agarradas às motos.
No fundo, o verdadeiro homem-cato é Marques Mendes, porque Carmona entrou e saíu da vida política como se ninguém desse por nada, amanhã regressará à universidade ou será chamado a calcular mais uma ponte, agora Mendes averbará uma mancha no seu currículo político. Desta forma, só muito dificilmente os apoios políticos e os consensos girarão em torno dele para aspirar a altos vôos.
Marques Mendes é que é, verdadeiramente, o homem-cato: aquele de quem poucos ou nenhuns se quererão aproximar sob pena de se picarem...