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Mais um país corrupto e sanguinário com estatuto de missionário: Mugabe foi o sorteado pela ONU

13.05.2007 - 08h58 Jorge Heitor O Zimbabwe, país onde grande parte da população vive na angústia de não ter com que se alimentar, foi ontem escolhido para chefiar a Comissão das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (CSD), por desejo das demais nações africanas e contra a vontade expressa das chancelarias ocidentais.
Francis Nheme, ministro zimbabweano do Ambiente e do Turismo, passa a desempenhar a presidência daquela comissão de 53 elementos, tendo como adjuntos um guatemalteco, um iraniano e um israelita, para um mandato durante o qual os temas em foco incluem a agricultura, o desenvolvimento rural, a terra e a desertificação, bem como a África em geral.
O problema da falta de respeito do Zimbabwe pelos direitos humanos tem sido um obstáculo no caminho da realização da próxima cimeira, em Lisboa, entre a União Europeia (UE) e os países africanos, dado que grande parte dos dirigentes dos Vinte e Sete não se quer sentar à mesa com o Presidente Robert Mugabe, tido como um dos piores títeres que o Terceiro Mundo até agora conheceu. No entanto, o embaixador zimbabweano nas Nações Unidas, Boniface Chidyausiku, defendeu em declarações à BBC que nada obsta a que Harare se torne responsável por uma das comissões da ONU: "Mas o que é que o desenvolvimento sustentável tem a ver com direitos humanos?".
Para ele, não é um obstáculo que o seu país esteja com uma inflacção de 2000 por cento, que a produção de cereais seja baixa e que um terço dos enfermeiros tenham já deixado o país, na maior parte dos casos para o Reino Unido, a antiga potência colonial. Mugabe não reconhece que tenha levado a economia para o abismo e insiste que todos os problemas são uma sequência das sanções que a UE e os Estados Unidos decidiram impor-lhe.
Ainda na sexta-feira o vice-porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey, declarara em Washington não pensar que o Zimbabwe tivesse o mínimo de condições para ficar à frente de um organismo das Nações Unidas dedicado ao desenvolvimento. Mas a generalidade dos países africanos continuou a manifestar-se solidária com o homem que desde 1980 dirige a antiga Rodésia. Ao fim e ao cabo, a escolha acabou por ser feita, em votação secreta, por 26 votos a 21, com três abstenções.
Os chamados países em desenvolvimento teriam votado por aquele que nas classificações políticas costuma situar-se entre os cinco piores da África, com taxas de avaliação comparáveis às que são dadas ao Sudão, à Suazilândia, à Eritreia e à Somália.
Francis Nheme, o novo presidente da CSD, encontra-se proibido de entrar na UE, por pertencer a um Governo cujo balanço é verdadeiramente catastrófico. No Zimbabwe há pelo menos 14.000 pessoas a morrer mensalmente por falta de comida ou de medicamentos e contam-se 1,3 milhões de órfãos, designadamente devido à sida.
  • Obs: Lembro-me de aqui há uns anos a Líbia do sr. Kadafi - o cáfila que mandava abater aviões comerciais em pleno vôo - também foi eleito pela ONU para presidir a uma Comissão de direitos humanos. É por estas e por outras que o mundo está como está, e os exemplos que se dão ao mundo ainda o revoltam mais. O que nos leva a supor que o mundo é, em boa medida, liderado por uma clic corrupta, logo as suas decisões não podem ser portadoras de esperança nem de futuro. Boicote-se, portanto, esta decisão.