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A Helena Roseta vista pelo Memórias Futuras

O meu tio Joaquim Paula de Matos escreveu no seu blog Memórias Futuras um interessante artigo sobre Helena Roseta, embora não isento de críticas, salvo melhor opinião. Mas vale a pena ler na íntegra esta sua reflexão porque condensa aspectos da vida profissional de ambos, em sectores diferentes, mas que coincidiram no espaço e no tempo por causa duma cooperativa de habitação de que o meu tio foi o principal impulsionador em Santarém, e com sucesso e benefício da comunidade. Embora discorde das suas conclusões (salvo naquela que atribui a Roseta o lugar de vereadora, Vereadora!!!???), e sobre isso já escrevi abundantemente, corroboro algumas opiniões que tem sobre a camaleónica Roseta, pois nem tudo é mau nela.
Vejamos o artigo e depois algumas considerações.
HELENA Roseta é uma pessoa desalinhada, filia-se nos partidos mas uma vez dentro deles marca a diferença e afirma essa diferença quando as posições do partido não coincidem com as suas.
É inteligente e o seu discurso cativa porque é apaixonado, sincero, espontâneo, fluente e a sua preocupação como política tem a ver com aquilo que mais directamente se liga às pessoas e muitas vezes àquelas que representam a parte mais fraca e débil da sociedade.
Foi por causa desta sua característica que episodicamente a conheci quando, nos princípios da década de 80, me dirigi à Assembleia da República, na qualidade de simples cidadão envolvido em Santarém na organização de uma Cooperativa, para lhe solicitar que interviesse como deputada, num aspecto da lei relacionado com as Cooperativas de Habitação Económica.
Já lá vão muitos anos e todos os pormenores desse contacto foram esquecidos excepção feita à sua total disponibilidade e boa vontade para nos ajudar, isso, eu não esqueci.
Helena Roseta é uma espécie de “força da natureza” e se a muitos essa característica provoca admiração a outros suscita reservas mas não me parece justo acusá-la de oportunista à procura de protagonismo político pelo que, neste aspecto, uma vez para variar, discordo do autor de O Jumento.
Das duas uma: ou a intervenção política é uma reserva exclusiva dos partidos políticos ou todo aquele que queira intervir fora da coutada é oportunista político sedento de protagonismo.
Ora, no caso concreto, estamos a falar do Poder Autárquico onde a intervenção de cidadãos independentes para além de consagrada na Constituição é defendida por muito boa gente como sendo um enriquecimento da própria democracia e onde se têm registado excelentes contributos como é o caso agora, aqui em Santarém, com Francisco Moita Flores ou em Lisboa com Sá Fernandes, entre outros.
Por outro lado, Helena Roseta, não anda nisto há dois dias, há mais de 30 anos que intervém publicamente, foi Presidente da Câmara de Cascais, deputada à Assembleia da República, vereadora da Câmara de Lisboa trabalhando na recuperação dos bairros clandestinos desde 1970, foi secretária geral do Sindicato dos Arquitectos e agora Presidente da Ordem e toda a sua vida tem sido de envolvimento permanente em Movimentos Cívicos lutando por causas e ideais.
Reafirmo que o seu estilo pode não ser da simpatia de muita gente mas acusar uma pessoa com um currículo destes de oportunista, sedenta de protagonismo é, para além do mais, muito injusto.
Ofereceu-se ao PS, numa carta que escreveu a José Sócrates, para ser candidata do Partido à Câmara de Lisboa o que fazia sentido porque estava vocacionada para o cargo e era uma militante destacada.
O PS estava no seu pleno direito de recusar e não era difícil adivinhar essa recusa mas, francamente, não teria sido da mais elementar educação terem respondido à carta comunicando-lhe a decisão?
A devolução do cartão de militante e a saída do Partido foi o desfecho inevitável.
Para uns, o PS viu-se livre de uma presença incómoda, para outros a sua saída deixou o PS mais pobre.
Pessoalmente, julgo que, neste momento, este PS não quer Helena Roseta nem esta tem agora interesse no PS e, assim sendo, ponto final na relação que é o que deve acontecer com os casais quando os cônjuges não se entendem, um para cada lado e a vida continua.
Vamos pois assistir, pelo menos, a uma candidatura independente à Câmara de Lisboa protagonizada por Helena Roseta que vai, no mínimo, dar muita luta à concorrência embora seja de prever que as estruturas partidárias venham a impor a sua força até pelos muitos interesses ligados à Câmara da cidade, capital do país e, se o PS apresentar um bom candidato, a vitória não lhe deve fugir.
Mas com este ou aquele Presidente os problemas e as dificuldades financeiras da Câmara de Lisboa vão continuar porque os interesses que se desenvolveram à volta dela enredam-na em conflitos permanentes de pessoas que assumindo poderes em áreas de intervenção directa do Presidente e dos Vereadores entram em competição com eles criando-se um clima de instabilidade e suspeição.
Concretamente, estou a referir-me às Empresas Municipais cuja Auditoria realizada pelo Tribunal de Contas a 31 dessas Empresas, relativa a 2003 e 2004, revelou que foram atribuídos aos membros dos respectivos Conselhos de Administração, 5 quando por lei deviam apenas ser 3, vencimentos base e despesas de representação que ultrapassaram o que estava previsto no Estatuto dos Gestores Públicos, nalguns casos, em 40%.
À laia de exemplo, a Presidente da EPUL ganhava, em 2004, 6085 euros, mais 39% do que o autorizado e os Presidentes da GEBALIS e da EMEL 4752, mais 30% para além de regalias indevidas como cartões de crédito, automóveis, telemóveis e ainda prémios ao fim do ano numa espécie de “fartar vilanagem” constituindo-se, assim, em factores de degradação da vida das Autarquias com os quais é necessário acabar.
São focos de desperdício e de corrupção e em vez de eficácia serviram as clientelas partidárias e não os interesses dos Munícipes para além de contribuírem para afundarem as Câmaras em dívidas.
Quando apareceram, nos princípios dos anos 80, com o Bloco Central, procuravam representar a evolução na continuidade, hoje, quase trinta anos depois, o resultado está à vista: uma Câmara ingovernável e falida.
A situação a que chegámos aponta para a necessidade de que as equipes que se candidatarem ao Governo, pelo menos da Câmara de Lisboa, têm que ser constituídas por pessoas qualificadas, competentes, conhecedoras dos problemas, com ideias e um programa para a resolução concreta desses mesmos problemas excluindo as Empresas Públicas Municipais cujos serviços que prestam devem regressar às Câmaras poupando-se nas Administrações que mandam sem terem sido eleitas e que para além de onerarem os Orçamentos Camarários envolvem-se em negócios e negociatas.
Espero e desejo que Helena Roseta conquiste um lugar como Vereadora da Câmara para que a veemência da sua voz de técnica qualificada em questões de urbanismo e o profundo conhecimento que tem de Lisboa se faça ouvir para bem da cidade à qual pertenço por nascimento e que vive no meu imaginário de criança e jovem.
Obs: O Memórias Futuras começa por referir-se a Roseta como uma desalinhada, é verdade. Ela tem um esprit demasiado livre para ficar aprisonado a estruturas e as disciplinas partidárias que, por vezes, até o interesse nacional penalizam. Por isso, a rebeldia de Roseta até é saudável, mas depois não é muito criativa, consequente nem é portadora de mudança política, pois quando toda agente havia percebido que ela se havia desligado do PsD "deita-se" com o PS, e vice-versa.
Para ser coerente a senhora deveria passar à fase do nojo sexo-partidário e gozar da sua verdadeira Liberdade na qualidade de verdadeira Independente. Mas aqui é que bate o ponto: ela sabe que como independente ninguém a ouve, ninguém a vê, ninguém a reconhece e ninguém lhe mete um microfone nas guelas, apenas sobram algumas fotos já amarelecidas pelo tempo em que Helena estava com Sá Carneiro, com Cavaco, com Santana, sei lá com mais quem...
O problema na linha de argumentação acima aduzida, com a qual até concordo em parte, é que, na linha também do que defendeu o Jumento, a senhora Helena Roseta acaba por perder toda a razão no tempo e no modo como fez as coisas, denunciando que premeditou tudo ao milímetro, e é isso que a torna num agente político censurável e errático. Ora, para quem já não apreciava o seu posicionamento pessoal e político a coisa ainda se agrava mais.
Ou seja, Roseta ainda era membro do PS já tinha sede de campanha (como independente); depois, como quem está na política aos solavancos das pequenas ejaculações precoces, começa a arrumação da recolha de assinaturas, fazendo-me lembrar as campanhas de vacinação de cães que se faziam na década de 70 na província: tudo ía à fonte levar o cão pela trela, o cão era vacinado e o dono do cão depositava uma assinatura no cardápio do Veterinário de serviço. Daí em diante a aldeia ficava segura de que os cães do burgo já podiam morder e ladrar, e ladrar e morder que o perigo da raiva havia sido sido expurgado pela tal vacina. E assim os putos cresceram saudáveis, sem raiva, salvo quando eram os putos a abater os cães... Isto a vacina já não prevenia.
A ideia de Roseta para a recolha de assinaturas - que é legítima - não pode deixar de me evocar esta miserável estória, assim como miserável foi a chantagem que Helena fez a Socas através da sua carta... As coisas sabem-se depressa... Muito depressa. Então alguém responde à carta d' alguém que pede apoio político e, ao mesmo tempo, anda à procura duma sede de campanha para atacar como independente, envida esforços para recolha de assinaturas, etc, etc.. É óbvio que Socas, que tem imensos espiões - e nem todos são como incompetentes (como alguns dos seus assessores) já sabia das movimentações "independentistas" de Helena Roseta, desse modo fez bem em não responder. Eu, mau grado a comparação, também não respondo a todos os mails que recebo.. E assim sucede com todos nós, certamente. É um direito e uma Liberdade, e também ao PM de Portugal, creio. Tanto mais tratando-se de alguém que nunca apoiou Sócrates, antes o criticou veementemente - por que razão esta se lhe dirige pedindo apoio político? É até um contra-senso político.
Só posso concluir, na linha do Jumento, que a arquitecta trabalhou depressa. Ora, do pouco que sei da classe isto é um non sense, pois em regra os arquitectos são muito meticulosos e depositam muita ponderação naquilo que fazem, levando tempo. Roseta, sendo arquitecta, é uma excepção.
Numa palavra: o que julgo contrariar - em boa medida - a reflexão do Memórias Futuras é o facto dele crer piamente que, por um lado, aquilo que move Roseta é a espontaneidade pura; e depois a independência. Ora, não é. O que ela faz bem é mascarar os seus interesses políticos e ambições pessoais sob as máscaras de sonhos, utopias, ideais e outros chás para inglês ver.
Não duvido que a senhora tenha causas, ideais, sonhos e utopias - mas do que hoje Lisboa carece é dum plano de saneamento para expurgar os males da autarquia em dois anos, e depois dum plano estratégico para a cidade por mais quatro. Se Roseta fica como vereadora - não vem daí mal ao mundo; mas como presidente do Executivo..
Afinal, gaba-se tanto a senhora e depois diz-se que ela terá um grande futuro mas como vereadora. Mesmo que inconscientemente, acaba por ser um elogio fúnebre. O que não deixa de configurar uma estranha espontaneidade e independência.
Para mim, aquele pedido de recolha de assinaturas não passa de mais uma campanha de vacinas canina made in década de 70, o que também evoca o 25 de Abril e a televisão a preto e branco, uma altura em que a Leninha andava de braço dado com o Pedro Santana Lopes e o Sá Carneiro ainda era vivo. Hoje, políticamente, estão já os três "mortos".
Helena o que verdadeiramente quer é aparecer, falar, cantar, gritar, guitarrar, dizer ao mundo, vejam como eu ainda estou aqui, povoada de sonhos, colonizadas de utopias e...
.. Já agora, há pra aí alguma guitarra porque Helena quer actuar..