terça-feira

Fernando Roboredo Seara, o paraquedismo e o para-pentismo na futebolítica. Um paradigma invertido

Até parece Mendes e Seara a fazerem já planos para conquistar uma autarquia no Brasil, por via aérea.
Este deve ser o momento em que Seara pontapeia a cabecinha de Mendes, que agora terá de se agarrar ao Tm para convencer essa outra grande fraude das finanças do PsD de Barroso - que é Ferreira Leite, irmã do comparsa de Seara nos comentários primitivos nos donos da bola. Mas que grande família...
Ontem referimos aqui o efeito de paraquedismo de Fernando Seara em Sintra, que ganhou a edilidade pelas suas ligações calculistas ao Benfica e à sua mediana projecção mediática nesses miseráveis programas de "peido & coice" (como se diz na gíria) a que alguns chamam futebol que tem corrompido as almas televisivas em Portugal, para alienação e estupidificação de todos nós. No seu lugar poderia passar-se mais cultura.. Felizmente, nunca me puxou para aí apesar de ser desportista e de ter jogado futebol, ao invés de muitos comentadores de bancada que não sabem a diferença entre um fora e um canto. Mas o que importa é dramatizar, coisa que esses experts de meia tijela fazem primorosamente. Não passam duns treinadores de bancada, parecem pessoas comuns a discutir a valia do Big Brother na formatação da personalidade colectiva.

Isto serve de introdução à forma demagógica, populista e pouco séria como o dito Fernando Roboredo Seara se veio justificar hoje na caixa negra da Sic ao não aceitar o convite que MMendes insistentemente lhe dirigiu para se candidatar a Lisboa - contra António Costa, apoiado pelo PS. Diz o dr. Seara: não tenho condições pessoais para aceitar o convite e ser candidato.

Em rigor, aquilo que eu esperava que o senhor professor de Direito dissesse, em abono do rule of, era que não tinha condições políticas, mas ele quis ver a gestão da coisa pública de forma pessoal, como se a câmara de Sintra fosse o seu quintal onde se vai pontualmente fazer um xi-xi a meio da tarde. E, caso António Costa não avançasse, Lisboa, para o dito Seara, seria assim uma espécie de xi-xi da meia-noite, mas com mais caviar e regada a Champagne Asti, dado tratar-se da Capital. Note-se que isto é dito por um autarca em funções, que preside ao segundo ou ao terceiro maior concelho do País. Para ele, portanto, violar um contrato político que tem com os eleitores de Sintra era de somenos, grave foi o "sacaninha" do António Costa ter avançado queimando, assim, qualquer possibilidade de na área do PsD irromper um candidato ganhador. Uma drama para Mendes.

Por isso Seara medrou-se e depois de estar com as barbas de molho a ponderar, meteu o rabinho entre as pernas e refugiou-se de novo no seu quintal: Sintra. Mas por que razão isto sucede em democracia? Vindo de autarcas com reponsabilidade? Mais a mais pessoas que foram professores universitários na área do Direito, onde seria suposto que ao ensino se seguisse o respeito e a observância por aquilo que se ensina e está estatuído nos códigos de Direito Constitucional e noutros ramos do direito, o que sucede?!.

Infelizmente, aqui constatamos que Seara não é o único prevaricador, mesmo não tendo aceite o convite de MMendes, porque sabia antecipadamente que perdia (e não por causa do Direito dos sintrenses, para o qual Seara se está a borrifar), Marcelo rebelo de sousa também lhe deu uma ajudinha e ânimo na sua missa domingueira. Na prática, isto revela que outro professor de Direito Constitucional defendeu a violação subjectiva e objectiva das regras do direito, do princípio da continuidade dos mandatos no poder local e, no fundo, tanto MMendes, como Seara e Marcelo - estiveram os três, objectivamente, a comungar das mesmas ilegalidades em política, o que redundaria fraude política.

Será apenas por malvadez, perfídia política, ambição desmedida, egocentrismo, gula de poder, soberba... O que animará estes homens ao terem este tipo de condutas e de comportamentos? Ainda se fossem uns trolhas, tipo António Preto, que apesar de ter estudado não sabem a diferença entre um direito e um dever, mas não: tanto Mendes, como Marcelo e Seara estudaram, foram advogados, um deles é mesmo jurisconsulto - são pessoas bem integradas na sociedade e na política e também vão à Bola, o que dá jeito, pois a qualquer momento activa-se a chama desses eleitorados alienantes em vésperas de eleições.
Por que razão esta gente aparentemente ilustrada acaba por, na prática, propôr a violação das regras do direito político que diz defender em teoria nos bancos da universidade onde dão aulas? Serão eles parvos, amnésicos ou quererão fazer-nos a nós de parvos?! Confesso que fico baralhado com estas golpadas palacianas na democracia ocorridas entre a S. Caetano à Lapa e o IC19.
Numa palavra: por que razão a troika da desgraça - MMendes, marcelo e Seara defenderam objectivamente a violação do contrato social em Sintra? Apenas para assaltar a Capital..e de lá fazer melhor oposição ao governo?! Mas esse contrato social, segundo J. Locke, foi o mecanismo que realizou a passagem do estado de natureza (em que aquela troika parece encontrar-se) para a sociedade política ou civil. Formada por um corpo político único, com legislação/direito e uma comunidade.
O seu objectivo é a preservação da propriedade e a protecção da comunidade e dos interesses locais - seja face aos perigos internos quanto aos externos. Ou seja, caberia ao senhor Fernando Roboredo Seara ter tido a dignidade de atempadamente ter (publicamente) declinado o convite. Não o tendo feito desrespeitou-se a si, desprezou os sintrenses (que se sentiram humilhados pelo António Costa, dado que Seara só não aceitou por causa deste adversário ser de peso) que o humilharia nas urnas. Até nisto Seara foi cínico e hipócrita, como era na Universidade onde o conheci entre 1986 e 1991. Aliás, os meus outros cerca de 30 colegas podem atestá-lo... Salvos os betinhos que o bajulavam, mas esses eram duros de carola, uns yes mans versão juvenil.
A sua imagem de marca era o dedo em riste, geralmente o indicador e depois fazia uma cara de mau que se desfazia logo que lhe falassem no Benfica. Deve ter sido aí que ele percebera como deveria furar no aparelho social, político e mediático. A bola e o casamento fizeram o resto. Mas tinha também de emigrar do seu partido, o cds e aterrar no Psd, um partido com vocação de poder. O que aconteceu. Portanto, Seara foi um homem linearmente previsível, by the book.
Numa palavra: o contrato social de Seara decorre do seu mero calculismo privado, constante da sua desmedida ambição e do seu inefável egocentrismo, conhecido de todos, ainda que abafadinho pelas espúrias manifestações de amante do Benfica que usa para tapar o sol com a peneira. Quem não o conheça...
Seara revelou que nas escolas ensina uma coisa, na prática equaciona outra bem diferente, senão mesmo oposta. Pelo que o pacto do consentimento em que os homens e as mulheres de Sintra e o seu edil deveriam assentar numa relação de confiança durante todo o termo do mandato, foi, como se viu, corrompido pela possibilidade do autarca poder ter violado esse contrato ao arrepio da vontade do eleitorado - e que só não se consumou por receio duma derrota estrondosa deste candidato paraquedista agora numa versão up-grade em pára-pente que visa transformar os céus de Lisboa na poluição atmosférica de Sintra.
Seara comportou-se como aquele selvagem que, apesar de ter estudado as normas e o direito, comportou-se na polis como um pequenino bárbaro que tudo queria amarfanhar e depois medrou-se para não ser cilindrado nas urnas. Violando, subjectiva e objectivamente, a vontade dos sintrenses, o seu mandato democrático, os direitos civis e políticos dos eleitores e até a sua dignidade pessoal, dado ter equacionado mandar às malvas Sintra se soubesse antecipadamente que Lisboa estaria no papo.
Eis um reflexo de Seara, o melhor que o senhor consegue fazer: apoucar e amesquinhar os sintrenses e mostrar ao país que este poder local não passa de um quadro de troca-tinas e de salta-pocinhas segundo as conveniências pessoais e partidárias de cada um. Se fosse sintrense nunca mais votaria nele e quando o visse na rua chamar-lhe-ía demagogo e corruptor do rule of law e da democracia pluralista.
É curioso como é que a não aceitação de um convite acaba por subtrair credibilidade pessoal e política a quem um dia a equacionou... Medite-se nisto.

PS: Sugira-se ao dr. Seara que possa ler esta pequena reflexão, releia as tretas que ensinou na década de 80/90 e compulse-as com aquilo que hoje pratica, seja um homensinho coerente e respeitador do seu eleitorado em Sintra e depois, se uma ponte não lhe cair na tola, ouça este INTOXICATION - nem que seja para despoluir ou desenjoar desses convites torpes e corruptores deste nosso regime democrático que nós temos - que não passa duma clic de oligarcas que pouco ou nada têm para oferecer ao povo e a Portugal, mas têm sempre muito para reclamar para si próprios. Quem não os conheça...

Gentleman - Intoxication

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A latere desta nossa discussão valerá bem a pena ler o Editorial d' hoje do Jumento sobre: Os dogmas da esquerda: a legislação laboral acompanhado de um video genial de C. Chaplin - nos tempos duros do Capitalismo selvagem (do séc. XIX-XX) que hoje o sr. Fujão Barroso (no séc. XXI) também não consegue regular nem humanizar a partir da Europa. Aliás, neste momento em Portugal já existem inúmeras famílias a cozinhar as botas. Duvido que as consigam comer.

E ontem, um amigo que gere uma empresa de informática, contou-me esta: entra-lhe uma senhora na casa dos 50 anos pedindo-lhe que lhe fique com a aliança (penhorada) por 30 euros, já que a senhora não tinha dinheiro para comer. Com a promessa de que levantaria o "penhor" logo que tivesse dinheiro. Eis o que me evocou o vídeo de C. Chaplin..

Eu se fosse milionário acho que não o seria por muito tempo...