terça-feira

As novidades dejá-vous num País dos restolhos

De véspera escrevemos aqui um texto sobre a direita e a esquerda percepcionadas por Mário Soares e Adriano moreira e, no fundo, não andámos longe da realidade. Mas num primeiro contraste, e tratando-se de homens nascidos na década de 20 do século XX é gratificante ver que Mário Soares ainda conserva um aspecto jovial enquanto de Adriano parece um abutre dos céus da Eritreia, e nisto a mãe-natureza é implacável. De facto, Mário Soares, talvez seja por ter sido toda vida um democrata convicto que pagou com uns meses de cadeia esse preço da Liberdade (apesar do pai João nada lhe deixar faltar no seu exílio em França) está ainda um sénior em forma.
Corajoso, Soares diz sempre o que pensa, mesmo contra o mainstream, como sucedeu com a estúpida e ilegítima guerra do Iraque e a posição obsessiva que nela tiveram os srs. Bush e Blair - hoje ambos de partida e amarfanhados pela história que lhes cuspirá na cara. Teve razão antes do tempo, Freitas do Amaral - neste andamento - também. Aliás, eles até se juntaram com D. José Policarpo e Anacleto Louçã na Reitoria da faculdade de Direito para dissertarem conjuntamente sobre essas aventuras do Tio Sam... Congratulo-me, portanto, que essa passagem do tempo seja benevolente com os democratas e corrosiva com os pequenos ditadores disfarçados de democratas, mais parecem lagartos de commoro, conhecidos pelos famosos dragões de Sumatra.
Depois Soares foi igual a si próprio, e sem grandes elaborações teórico-filosóficas lá disse aquilo que o cidadão comum pensa da América do mentecapto g.w.Bush, do seu unilateralismo guerreiro, da forma como foi gerida a guerra ao Iraque, o destino da Europa com a recém-eleição de Sarkosy, a necessidade de regular a globalização, a violação dos direitos humanos e aplicação de dois pesos e duas medidas em Abhu Grahibe e em Guantanamo, o perigo asiático e a violação dos direitos humanos na China (a cujas condições de trabalho a OIT se deveria pronunciar), a necessidade duma Europa mais social, etc. Foi um humanista preocupado com a pobreza no mundo, com as condições de vida dos mais pobres e desprotegidos e..., até pensei, como medida compensatória para minorar esse sofrimento humano, que Soares declarasse afectar como donativo 25% da sua reforma para a sopa dos pobres alí aos Anjos e para financiar refeições quentes aos homeless de vagueam pela cidade de Lisboa que, em breve, será governada pelo seu filho, João Soares. E será muito bem dentro do actual quadro de contenção e rigor financeiro que a autarquia atravessa.
Por conseguinte, do mestre Adriano pouco há a dizer, ele já escreveu tudo aquilo que os franceses e os anglo-saxónicos sistematizaram em livros de Ciência Política ano antes - e que depois ele repescou. E como bom feitor que é dos conceitos dos outros, amalgamou, perfilhou e adoptou um corpo de conceitos como se fossem originais. Ainda assim valerá a pena repetir aquilo que o ex-ministro de Salazar vem dizendo desde a década de 60 do séc. XX: na ONU todos falam com todos (uma grande novidade!!, desta nem o Kofi Annan sabia...); o Estado é exíguo (sabemos que as auto-estradas também); é de direita porque se considera um cristão e um seguidor da doutrina do Papa (Amén, mas será que pratica mesmo essa doutrina no quotidiano?! duvido); evocou a Geografia da Fome mas esqueceu-se de citar o autor da obra, Josué de Castro (aqui nada de novo).
Depois leu uma passagem do Sarkosy para sublinhar que ele pensa que o fundamentalismo islâmico é tão perigoso quanto o fundamentalismo cristão (foi bonito e deu uma imagem de tolerância multicultural que nem sempre o seu velho e querido CDS tem sabido dar ao País, antes pelo contrário, pois parece que um fidalgo de traça indiana ou preta bateu em Zézinha, e disse que zézinha era racista (porque lhe chamou "preto"), tudo, portanto, declarações que colam bem aos valores e aos pilares da ética do doutor Adriano acerca da tolerância multi-étnica no Largo do Caldas); acho que também falou na teologia do mercado (digo acho, porque mudei de canal várias vezes, e o National Geografic mostrava como uma águia dava cabo dum pedaço de carne, até achei que a analogia era razoável, atendendo ao facto de que em alguns países da Europa alguns servidores das ditaduras fazem a transição pacífica para a democracia); recitou outro conceito de B. Buzan, o da Anarquia madura, mas também voltou a não citar o autor do conceito. Foi feio, até porque as pessoas na assistência e os telespectadores ficam a pensar que foi o ex-ministro de Salazar que inventou tudo aquilo. Tudo que é um nada, bem entendido.
Em suma: o bispo Adriano é um dejá-vu como o século, até evocou os demónios da Europa na IGrande Guerra (1914-18) e na IIGM (1939-45),articula bem (chega a convencer!!!), esfrega as mãos como um bispo de aldeia cheio de vícios sob a batina, mas ideias originais e infra-estruturantes para Portugal é que não sopram daquela testa e olhinhos de formiga com tremeliques.
Nada de novo, portanto. Noto, por último uma última observação quando fez um reparo a Miguel Portas acerca das elites. Adriano asseverou Portas acerca das elites para defender que elas em Portugal não são assim tão más, pois as universidade produzem alguns vultos (mas não disse quais), e rematou dizendo uma coisa "brilhante": as elites existem, e são boas, só que elas não procuram o poder do Estado... Pergunto-me se isso se deve ao facto de um ministro em democracia ganhar 800/900 cts e um qualquer administrador duma fodação dos Orientes - nutrida pelo jogo de má proveniência - ganhe cerca de 3000 mil cts/mês.
Contudo, faltou ao delfim de Salazar (como se via num dado momento da história do séc. XX, quando se digladiava com Franco Nogueira nos corredores do poder para rivalizar a atenção de Salazar) explicitar a sua tese sobre a putativa positividade das elites em Portugal... Se calhar ele ilustra a mestela com a sua própria teoria para pacóvios: pois um curador ou administrador duma fundação ganha cerca de 3000 cts/mês, razão pela qual ele jamais aceitaria ser ministro em democracia...
Além de que teria também imensa dificuldade em adaptar-se a essas novas funções em contexto de democracia pluralista. Nada de novo portanto, ele que continue a esfregar as manápulas porque quem conhece aquele terreno minado, de clara falta de autenticidade entre o verbo e a acção, sabe que o chão alí ainda é pior do que a OTA: é puro pântano.
Procurei uma única ideia aproveitável para Portugal e de lá só veio um sopro de ZERO.
Amén...
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Bird of Prey