Jesus Cristo e a sua cruz de lanterna acesa...
Estamos na Páscoa, tempo de renascimentos, reinvenções, criatividades, e outras ilusões acerca desta nossa vidinha rotineira que começa e termina sempre da mesma forma: nascemos, crescemos e morremos, com ou sem cruz, de pau. A questão, no decurso da vida, é sabermos como encarar a dor, o sofrimento que nos vão batendo à porta da vida; como posicionar a sensibilidade para essa defesa e/ou contra-ataque para dar o tal golpe mortal na angústia, na mágoa, na decepção e em todos os golpes d'alma que os trajectos quotidianos nos vão pregando.
Não raro a razão não nos deixa campo aberto para entender seja o que for, de modo que fica um espaço de terra queimada por compreender, por arrumar, por triturar na dobra da memória e na esquina do tempo. Razão por que é útil recorrermos aos artístas, só eles nos dão essa dose de mistério que a razão não garante. Por exe., o pintor H. Hunt além de pintor também é um excelente psicólogo, tem um quadro curioso, O Bom Pastor.
O quadro revela um Jesus Cristo com a lanterna na mão esquerda e batendo com a mão direita numa porta fechada. Mas quando foi descerrada a cortina que o escondia, um dos críticos presentes fez a seguinte observação:
- Mr. Hunt, a sua obra está inacabada.
- Como? - perguntou Hunt.
- A porta. Falta pintar a fechadura da porta.
- Esta porta é assim mesmo, meu caro, não tem fechadura. É a porta do nosso coração humano. Só se abre por dentro.
O problema é que depois daquela porta há alguém triste, sózinho, isolado na madrugada da vida. E é por isso que O Bom Pastor vem com uma lanterna na mão. Aliás, nem havia necessidade dessa lanterna, porque Ele é a própria Lux, mas como os nossos limitados olhinhos, míopes de tanto sofrer, não sabem ver outra luz senão a luz da lâmpada, o Bom Pastor de Holmam Hunt vem com lanterna acesa.
Por mais que me esforce a conclusão que tiro é que estamos todos cegos, e alguns de nós, por ironia do destino, até usam óculos.
Hoje é Domingo, estamos na Páscoa e eu ainda não sei bem o que isso significa.
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