sábado

Sócrates e a política: a eficácia e a moral

Imagem picada no Jumento (blodrive)

Talvez pela 1ª vez Sócrates esteja numa posição verdadeiramente desconfortável. A narrativa é conhecida e suspeita-se que tenha efectivado a transferência da sua licenciatura em engenharia do ISEL, uma faculdade prestigiada, para concluir o seu curso de forma mais celere noutro estabelecimento de ensino superior privado que hoje goza de muita notoriedade, e pelas piores razões. Infelizmente, no meio deste fogo cruzado entre clâns rivais que pautam as suas condutas pelo lucro e pelo poder, além doutros pecados capitais venais, encontra-se o PM de Portugal.

De certo modo, é como se os 10 milhões de tugas se sentissem todos reféns dentro daquela faculdade, tendo de gramar com aqueles professores de direcção que se digladiam de forma soez e lamentável. Nem em África... Aquilo é estritamente um caso de polícia, não de ensino ou investigação. Mas Sócrates, dizia, está hoje num colete de forças que, em rigor, foi também alimentado por ele. Se confia na palavra dada, é enganado; se for sincero, é gozado; se for firme nas suas convicções, todos os oportunistas lhe cairão em cima, e acabará por ser caluniado e apelidado de aldrabão e mentiroso. Tudo porque deixou a situação apodrecer, pois em política duas semanas podem representar dois anos.

As notícias são já conhecidas, levantadas pelo Público, desenvolvidas pelo Expresso, veiculadas pela RR e pelos media em geral. Mas todos os dias parece ressaltar um aspecto novo e rocambulesco em todo esse macrabro enredo, tipo novela sul-americana.

Para a semana, volvida a fase da Páscoa, em que todos tentamos renascer da fénix com uma cruz menor do que a de Jesus Cristo (certamente!!!), Sócrates promete falar (a seu tempo, como disse). Então, espera-se, que dirá algo de novo ao País, e que esse algo de novo refute boa parte do que até ao momento os media debitaram como certezas.

Mas é toda esta questão que coloca uma interrogação vital em política: será a mentira, caso exista, um vector facilmente perdoado em política? Vejamos: alguns políticos, consabidamente, estão sempre prontos para encavar meia dúzia de mentiras duma só vez à turba, pois assim pensam poder mais fácilmente seduzir e convencer a populaça e, desse modo, ganhar as eleições, obter um subsídio, realizar uma obra, arranjar um séquito de empresários dispostos a apoiá-lo, etc, etc...

Mas nem todos estarão nesse filão. É claro que Sócrates já faltou à verdade, mormente em matéria de impostos, pois a primeira coisa que fez chegado ao poder foi aumentá-los quando, em sede de campanha eleitoral, havia defendido exactamente o oposto. Isto é mentir ao eleitorado que, so far, lhe tem perdoado. Mas, no cômputo geral, e depois de apanhar o país em cacos deixado por Durão Barroso, um trâsnfuga na Europa, muito provavelmente ele não teria outra hipótese, doutro modo o défice das nossas contas públicas ainda se agravariam mais e mais, até ao colapso do Estado.

Portanto, a minha principal dúvida, mesmo desconhecendo o que Sócrates irá dizer em sua defesa, é saber como é que o PM passará a ser tolerado na sociedade a partir da próxima semana.

Avento, desde já, aqui dois cenários - ambos plausíveis em função do que vier a dizer:

a) O cenário mais pessimista - mediante o qual as suas "alegações" não tiram credibilidade ao já exposto pela comunicação social, que despiu o caso de forma sangrenta e cruel... Aqui o povo ficará desiludido e tenderá a tirar-lhe o tapete nas sondagens e no apoio psicológico em todas e cada uma das medidas que, apesar de infra-estruturantes para a economia portuguesa deixarão de ter suporte sociológico que permita ao PM implementá-las, abrindo, desse modo, brechas no seio do governo e do PS. Será o início do fim, a queda dum astro que ainda está a 50% do mandato;

b) Cenário mais realista/optimista - que porá mais uma vez à prova a argumentação de Sócrates, e se ela provar bem, i.é, de forma convincente, o povo, não obstante surpreendido, não se insurge e tenderá a manter-se leal à sua liderança apoiando a continuidade das suas reformas no Estado, na sociedade e na economia.

Confesso que como português, e ante o deserto de ideias da oposição, que hoje não é mais do que um saco de gatos e um ninho de viboras, preferia que fosse este 2º cenário que viesse a vingar. Até porque o povo é como aqueles bois que se insurge por tudo e por nada, mas depois acaba sempre por se submeter, veremos é como...

Mas uma coisa é certa: esse mesmo povo sabe, por saber de experiência feita, que as práticas do poder (mesmo de índole privado) não obedecem às leis da moral comum. Pois o que o povo quer é um PM a governar bem e de forma eficaz e eficiente, com ganhos imediatos para todos no espaço de tempo mais curto.

Se esse sucesso vier Sócrates até receberá um doutoramento honoris causa, se, à contrário, essa desejada prosperidade não vier, o povo será bem capaz de acordar a "besta" que há em si e dizer que Sócrates, afinal, nem a 4ª classe tem...

Aqui seremos todos polares...