O petróleo da Gulbenkian converte-se numa "casa" de livros. Abençoado crude...

O dinheiro a rodos da Fundação C. Gulbenkian dá para a imaginação artística se espraiar nestas extravagâncias, e ainda bem, pois imaginemos que os administradores dariam em toxicodependentes. Abençoado crude, portanto.

O projecto é interessante e tem nome: Book Cell - de Jorge Molder e L. Nazaré. Está no Hall do Museu da FCG e resulta dum empilhamento de cerca de 50 mil livros, por isso não se compreende por que razão os autores pediram três vezes mais... Devia ser para impressionar, pois com esses já impressionam.

Trata-se duma estrutura arquitectónica tipo T1 dos bairros sociais do post-Guerra traçadas pelos arquitectos do velho Botas. Depois somos convidados a entrar, num ambiente semelhante ao da casinha das bruxas da Feira Popular, mas a principal medida de SLopes foi acabar com ela e, mais grave, evitar que outra nascesse noutro lado. A estória é conhecida e os actores também. Adiante..

50 mil livros alí emparedados, inacessíveis... Depois poderão regressar à sua nobre função: deixarem-se ler, até lá são objecto de escultura como se de construção civil se tratasse para satisfazer os urbanos desta Lisboa pobrezinha... Porque os tugas nem lêem quando têm os livros à mão, quanto mais alí - a fazer de tijolos. Confesso que enquanto passava por aquele recinto hexagonal, cheio de espelhos lá dentro - dando a entender que estávamos na companhia de milhões de livros, todos a perder de vista, só me lembrava que aquele merdinha poderia cair-me toda na cabeça, o que também não seria mau, pois muitos daqueles livros nunca os tinha lido, e assim seria uma maneira de os consumir à pressão e a custo zero..

Enfim, foi mais uma ideia brilhante à pala do ourro negro do Sr. Caloust, e se tivermos de sensibilizar os tugas que temos de ler um pouco mais para sermos menos broncos - um pouco à semelhança de tanto pato bravo que também constroi casas assim, então que possamos ir alí à Gulbenkian fazer uma visitinha naquele Book Cell.