Mais um artigo anti-"emproado" que vale a pena ler
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Cartaz e cartaz
O cartaz diz: "Basta de imigração." Se houvesse um erro de português - por "imigração" querer dizer-se "emigração" - seria uma boa frase. Emigrar quase nunca é desejado pelo próprio, é doloroso partir de casa e dos seus. Que portugueses protestassem por isso compreendia-se num país com milhões de emigrantes espalhados por França e Venezuela, para falar só de emigrações recentes.
Infelizmente, aquele cartaz não faz erro de gramática. Ele quer dizer, mesmo, "imigração". Basta, diz, desses homens e mulheres estrangeiros que estão em Portugal. Expulsem-nos, diz o cartaz, que mostra um avião e esta frase terrível: "Façam boa viagem."
O Diário Económico de ontem, num notável trabalho estatístico, explica do que os autores do cartaz estão a falar: basta de 7% da riqueza nacional (que é quanto valem os trabalhadores estrangeiros em Portugal). Esses 5% da po- pulação em Portugal e que são de 9 a 10% dos trabalhadores em Portugal (quer dizer, trabalhando o dobro dos cidadãos nacionais) geram uma riqueza de 11 mil milhões de euros por ano, tanto quanto a Portugal Telecom, a maior empresa nacional. Portanto, diz o cartaz: "Boa viagem PT, vai-te embora!"
Houve vozes que exigiram a retirada do cartaz, único mas rapidamente famoso (destino fugaz de quem diz enormidades). Mas a forma mais inteligente de combater as ideias tolas é responder-lhes com factos, como fez aquele jornal económico.
Nem sempre, porém, se pode ser só calmo e contabilístico para reagir a alguém que falando de gente maioritariamente pobre e honrada diz com ironia sem compaixão: "Boa viagem..." É preciso não saber o que é Portugal, não conhecer a Murtosa que foi para Nova Jérsia, a ilha de São Jorge que se transferiu para a Califórnia, os arredores do Funchal que se estabeleceram em Caracas, é preciso não ter um vizinho que foi para as obras no Luxem- burgo ou uma mãe que foi concierge em Paris para ousar ser tão mesquinho com imigrantes, a outra face de emigrantes.
Há um senhor emproado que ousou dar a cara por essa ignorância e maldade. Há dias, ao DN, ele até disse que um imigrante só poderia ser português ao fim de cinco gerações. Isto é, ele expulsaria el-rei D. Duarte, D. Pedro, o infante D. Henrique, D. João e o Infante Santo, filhos da imigrante D. Filipa de Lancas- ter... Boa viagem, Ínclita Geração!
Contra um emproado assim, em- proaram-se os Gato Fedorento, rindo-se-lhe na cara. Dá gosto ser compatriota destes jovens inteligentes. (link, GF)
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