quarta-feira

Há armas à venda no supermercado...

"Há armas à venda no supermercado"
HELENA TECEDEIRO
"Ouvi sirenes, mas pensei que eram os bombeiros por causa do mau tempo", conta Fernando Freitas ao DN ainda chocado com o pior massacre de sempre numa escola americana. Este português de 22 anos estava em casa, no limite do campus da universidade de Virginia Tech, quando começou o tiroteio que fez 33 mortos na segunda-feira. Nos EUA a fazer o estágio final da licenciatura, Freitas recebeu o e-mail enviado pela escola a avisar os alunos para ficarem em casa e afastados das janelas, mas só quando uma colega, a portuguesa Ana Filipa Filipe, o contactou, percebeu que "andava um homem aos tiros e havia dois feridos."
Aluno da Universidade do Porto, Fernando Freitas decidiu fazer o estágio no instituto de Bioinformática da Virginia Tech por ter "um ambiente calmo e agradável." É um dos cinco portugueses a estudar ou trabalhar naquela universidade da Virginia onde um aluno sul-coreano lançou o pânico ao matar 32 pessoas antes de se suicidar. Freitas, que não conhecia Cho Seung-hui nem nenhuma das suas vítimas, telefonou logo à família a dizer que estava bem. E quando regressar às aulas, suspensas por uma semana, admite que vai "olhar para todos os lados" até se voltar a sentir seguro.
Diogo Camacho, outro dos portugueses a estudar no instituto de Bioinformática da Virginia Tech, soube ontem que um dos seus amigos foi baleado durante o tiroteio. O aluno disse estar em estado de choque e preferir não fazer comentários.
Investigadora no mesmo instituto onde Freitas e Camacho estudam, Ana Martins estava no campus quando aconteceu o tiroteio. "Vi carros da polícia e ambulâncias, mas não ouvi nada", relata a portuguesa de 35 anos. Apesar do aparato, Ana Martins seguiu para o instituto: "Quando cheguei, as portas estavam fechadas. A recepcionista é que me disse que houve um tiroteio". Quando falou com o DN, a investigadora ainda não tinha saído de casa por não estar "com cabeça para trabalhar", mas preparava-se para assistir a uma vigília em homenagem às vítimas.
Foi há quatro anos que Ana Martins trocou Lisboa pela Virgínia para fazer um pós-doutoramento. A tranquilidade das montanhas Blue Ridge convenceram-na a ficar. "É calmo, podemos dormir sem trancar a porta", garante a investigadora.
Os portugueses dizem não ter uma explicação para o massacre, mas apontam a facilidade com que se compra uma arma nos EUA como motivo para os frequentes tiroteios em escolas americanas. "Há armas à venda no supermercado", diz Ana Martins que explica ser esse uma das razões para voltar à Europa. Até porque a investigadora não acredita que a lei vá mudar. "O Governo pensa primeiro no dinheiro e depois nas pessoas. É um grande lóbi", diz.
Professor de estudos africanos, Paulo Polanah é o outro dos cinco portugueses em Virginia Tech. A embaixada de Portugal em Washington disse haver dois alunos lusodescendentes, mas sem os identificar.