quarta-feira

O mundo de António Costa - através do seu blog A Nossa Opinião -

  • Algumas Notas sobre as motivações do MAI no lançamento de um blog político-institucional
O MAI lançou o seu novo blogue "A Nossa Opinião"

A percepção que se me oferece ante esta jogada política com efeitos comunicacionais por um dos ministros mais políticos deste governo é múltipla. Desde logo, António Costa sabe, melhor do que ninguém, dada a sua já longa experiência política, que governar é, ma essência, comunicar e a blogosfera é, hoje, o instrumento mais maduro do Rizoma para esse efeito. Portanto, governar é comunicar com eficácia, sem ela os objectivos políticos não se atingem. E Costa, tal como Socas, querem ambos voltar a ter maioria absoluta na próxima legislatura, o que também não será difícil com esta oposição que temos. Talvez por isso escrevi um post neorealista em que defendi que só António Vitorino poderia hoje fazer "a vida negra" - leia-se oposição credível ao actual PM, apesar de ser um anacronismo.
Depois, o MAI também sabe que hoje o campo operacional da luta política se transferiu para a arena virtual, ou seja, a luta política não se faz mais entre esquerda e direita, mas entre quem vê tv de forma abjecta e sem capacidade de resposta e quem acede à Rede com informação qualificada, criativa, imaginativa e mais completa do que é veiculada pela mediacracia vigente, altamente previsível e muito dependente dos pequenos "balsemões" que acabam por mandar no processo de agenda-setting diários dos media de que são patrões. Costa sabe isto, daí o recurso à blogosfera... É, pois, no quadro destas transformações sociopolíticas que a blogosfera é apanhada neste carrefour, e é a partir dela que podemos ler e interpretar o mundo por três vias. A saber:
1) Uma interpretação do mundo como se ele fosse feito de melodramas e desgraças recorrentes ao estilo de Cassandra;
2) Uma interpretação do mundo como se ele fosse visto pelas lentes do Dr. Pangloss do Cândido de Voltaire - que defende que o mal não integra o mundo nem sequer tem existência;
3) E uma interpretação do mundo como se ele fosse narrado por aquele vendedor de seguros (ou agente bancário que quer é vender produtos financeiros (como quem vende tremoços) ao balcão prometendo o paraíso na terra e omitindo a informação principal), i.é, sem ter em linha de conta que as probabilidades de acontecerem factos desagradáveis podem existir.
- Julgo que se o analista tiver em linha de conta estas três possíveis leituras do mundo moderno poderá diminuir grandemente as zonas de incerteza que hoje continuam a tolher e a ofuscar a nossa análise. Tanto mais que os media têm um tempo de acção mais lento, logo - aparentemente - mais adequado ao relato dessa velocidade dos factos do mundo moderno. O problema é que a velocidade é já tanta que os media na ânsia de estar sempre na frente e de combater a concorrência (que pensa o mesmo) acerca da apreensão dos factos geradores de notícias - também não conseguem entender a tal complexidade dos fenómenos sociais, económicos e políticos do mundo do nosso tempo.
O resultado de toda essa baralhação é o recurso a uma daquelas três leituras ou chaves de interpretação do mundo, se bem que - por vezes - existe a necessidade de aplicamos as três leituras simultaneamente, ainda que não nos demos conta disso...
No caso vertente, creio que existirá a preponderância para esta última leitura, mas só o tempo o dirá e ajudará a despistar intenções e motivações de que os políticos são portadores.