terça-feira

O realismo fantástico na política à portuguesa: António Vitorino a liderar o PSD. Uma saída para Portugal

O que aqui será escrito é tremendamente improvável, senão mesmo técnica e pessoalmente impossível. Ainda assim valerá pelo exercício de imaginação sociológica que aqui ensaimos. Esta heresia política, intelectual e até ideológica significa o seguinte: ontem, enquanto apanhava as Notas Soltas de António Vitorino, e perante o quadro negro que Portugal hoje atravessa na Europa e no mundo, tolhido por todos os lados sem que os principais indicadores de desenvolvimento humano possam inverter esta fatalidade lusitana, fui assaltado por uma ideia tão inverosímel quanto absurda: o homem que em Portugal estaria hoje em condições de pegar no PSD e conferir-lhe credibilidade e um rumo seria o próprio António Vitorino que é, consabidamente, do PS. Portanto, à partida, esta ideia é completamente desprovida de nexo. Se mal interpretada pode até ser considerada ofensiva, mas não é, naturalmente, esse o nosso propósito analítico.
No terreno do realismo (fantástico) as dificuldades do país colocam a necessidade de novo enquadramento, ainda que parta dum absurdo, pois em política nada é impossível, excepto, como dizia aqui há uns valentes anos Marcello Caetano, transformar um homem em mulher. Também aqui a história da evolução das sociedades veio dar razão ao absurdo e tirá-la a Marcello Caetano que foi morrer angustiado ao Brasil.
De modo que este exercício seria assim como que reescrever a história presente e futura com base em aspectos jamais imaginados, absurdos, inconcebíveis. Desafiando o common sense, pois se olharmos para o interior do psd quem vemos com esse perfil? SLopes está completamente esgotado, e os portugueses não são todos suicidas ao mesmo tempo; manela ferreira leite nada mais sabe do que de finanças; António Borges, um intelectual e um schollar com prestígio seria completamente trucidado por um qualquer António Preto de vão-de-escada que lhe colocaria uma casca de banana, e ao fim dum trimestre Borges teria passado à estória (sem "H"); MMendes ensaia; Pacheco Pereira é mais odiado do que amado no seu próprio PSD; Luís Filipe Menezes é, de facto, uma anedota política, que jamais deverá confundir umas breves prestações televisivas com a liderança dum partido com aspiração ou vocação de poder. Assim, de sopetão só me lembro mais de Antonho Preto, Carmona (que é independente), Alberto JJardim (que é um acidente da natureza) e de poucos mais.
Seria aqui que começaria a história do absurdo desta novela. Para pegar no actual PSD com credibilidade teria de ser alguém com credibilidade, mas esta, neste momento, inscreve-se fora da sua área politico-ideológica. Foi neste contexto que cheguei à estulta ideia de atribuir essa performance política a António Vitorino, violando todos os princípios, ética e valores políticos e até alguns de âmbito pessoal. Daí o absurdo deste realismo fantástico..., mas que teria lugar em nome dos elevados interesses de Portugal.
Obviamente que confrontado com esta hipótese completamente subversiva cedo se compreende que a ideia é deslocada, mas talvez não o suficientemente para não poder ser equacionada - em tese.
Bastaria, para tanto, que dividíssemos a realidade em três partes: 1) o real, sobre o qual jamais teremos o completo conhecimento; 2) a realidade dos sentidos; 3) e a realidade das ideias. Estas duas últimas ajudar-nos-íam a chegar mais próximo da primeira.
Qual seria, então, o nosso propósito? A saber:
  • Em 1º lugar revelar o absurdo a que chegou o sistema partidário português, porquanto ele já não gera as elites suficientes no seu seio para produzir massa crítica e comandar o aparelho a que ideológicamente pertence;
  • Em 2º lugar lançar um olhar à subversão da política em Portugal, podendo admitir como possível o inadmissível. Que seria ter, neste cenário (improvável) AV à frente do psd - ante as dificuldades aí existentes, bem como na oposição em geral.
  • Em 3º lugar descortinar aspectos inimagináveis daquilo que é (ou parece ser) o real, que poderiam abalar teorias ou concepções da vida outrora tidas por sólidas ou inabaláveis;
  • Em 4º lugar, seria igualmente estimulante desafiar as nossas mentes ao tentar redesenhar o universo politico-partidário português, sobretudo agora em que PPortas e SLopes se ginasticam a fim de refederar ou refundar uma nova e vigorosa direita no País. Sempre com os mesmos players...
    Tomar isto a sério seria, por outro lado, encarar as ideologias, os programas partidários (cada vez mais convergentes e espraiados) arrancar da realidade aquilo que nos pensamos que ele tem de confortável e de estável quando, na realidade, hoje tudo é impressivo, imprevisto, incontrolável.
    Em face desta pretuberância analítica, pergunto-me como seria Portugal com AV a liderar o psd? Que vida negra teria Sócrates e o PS em geral pela frente. Portas e Lopes desapareceriam por completo na memória já longíqua que os tugas têm deles. Muitas das coisas impossíveis, poderiam agora ser prováveis, mormente em matéria de políticas públicas, projectos sociais, abertura à lusofonia, Brasil e demais componentes da política externa europeia - hoje demasiado centrada nesta miserável Europa engendrada por Zé Barroso.
    Bem sei que esta ideia de ver AV no psd é estapafúrdia, espero até ser desculpado por esta inverdade analítica, mas o meu objectivo é, tão somente, o de dar um safanão ao mundo das ideias políticas em Portugal, contribuir para que as previsões sejam outras, os indicadores também, as teorias, as práticas governativas, os métodos de selecção e recrutamento do pessoal político idem aspas...
    Tudo variáveis que não se medem ou controlam através de sondagens. O desenvolvimento deste tipo de teorização poderia conduzir à expansão duma nova hipótese de trabalho para estudar os fenómenos políticos, sofisticando os raciocínios, como se estes fossem galáxias em expansão. Se assim for entendida esta análise, as pequenas traições ideológicas, programáticas, partidárias e até pessoais dissolver-se-íam nessa explosão de criatividade.
    Embora a vantagem última deste desbravar de novo paradigma - o realismo fantástico na política portuguesa - será o de revolucionar o próprio conceito de realidade.