terça-feira

"Sai ao Pai" - é o Editorial do Jumento de hoje

O Editorial do Jumento

"Dois anos é tempo suficiente para uma criança já andar com alguma facilidade e dizer as primeiras palavras, já se lhe conhecem alguns traços do seu temperamento e não falta na família quem consiga dizer com toda a certeza de que sai ao pai ou sai à mãe. Habitualmente os políticos chegam ao poder já "crescidinhos", mas isso não sucedeu com José Sócrates que pouco tempo antes das legislativas que o levaram a São Bento ainda andava a mendigar nas concelhias do PS na esperança de vir a ter peso suficiente para lhe darem ouvidos no próximo congresso.

Mas a combinação inesperada entre o processo Casa Pia e a Santanada acabou por levar a um parto precoce, Sócrates chega ao poder sem saber como e com um programa que não passava de um exercício de retórica. Meia dúzia de dias depois o primeiro-ministro já tinha nas mãos o relatório de Constâncio para dar o dito por não dito e das propostas da campanha eleitoral nada resta. Passámos a ter um governo do qual só conhecemos os tiques do primeiro-ministro, as anedotas do Manuel Pinho, as medidas já adoptadas, as que estão em discussão e as que a comunicação dá como certas e que habitualmente são adoptadas quando a discussão pública sem a participação do Governo se esgotou.
Depois de ter andado alimentado a pão duro e bolorento este "papo-seco" até sabe a pão-de-ló, por mais que o PCP mobilize manifestações e que o Marques Mendes organize almoços ao sábado para anunciar as audiências que vai solicitar a Cavaco Silva na semana seguinte, o eleitorado sente-se de barriga cheia mesmo que não saiba lá muito bem o que comeu e sem acesso a qualquer ementa para que possa saber ou escolher o que vai comer a seguir. Sócrates é um dietista que veio para nos emagrecer e melhorar a saúde e a verdade é que está a ter resultados, alguns portugueses começam a lembrar aquele burro que o dono habituou a viver sem comer, mas que para azar acabou por morrer de fome.
Quem também sente alguma fome são os partidos do poder, depois de anos de vacas gordas à custa de cargos públicos para militantes, familiares, amigos e conhecidos estão a sofrer com a perda do poder, ao fim de dois anos não escondem o sofrimento que estão a ter devido ao síndrome da abstinência. No PSD e no PP não faltam sinais disso, ao fim de dois anos ainda não perceberam porque deixaram a criança crescer e ainda por cima a criança sai ao pai, afinal de contas quando era um jovem militante da JSD o primeiro-ministro era Cavaco Silva.
  • Obs: Publique-se na vitrine do Parlamento. Se calhar António Vitorino não quis ser PM, podendo sê-lo, porque já conhecia o relatório Constâncio... Isto é um "suponhamos"...