terça-feira

A lucidez de António Vitorino é trucidante

Deixo aqui algumas ideias gerais que colhi do Notas Soltas de ontem com António Vitorino. A saber:

1. Com estas lideranças não se vai lá, ou seja, nem Marques Mendes nem, eventualmente, com PPortas a conduzir aquela nave de loucos que é o cds/pp, se consegue de forma credível disputar as eleições legislativas a Sócrates daqui por dois anos;
2. Portas quer hegemonizar a direita e inverter a posição relativa, fazendo do cds/pp aquilo que é hoje património do psd, metendo este no geto sociológico do partido do táxi. I.é, o Paulinho das feiras vive numa ilusão e num egocentrismo que, por regra, acaba sempre mal. Nessas circunstâncias confundem-se sempre moinhos de vento com exércitos, e os do cds/pp no país são, consabidamente, escassos senão mesmo inexistentes dada a débil implantação sociológica que o pp tem no terreno. Freitas explicava esta pequenez do partido dizendo que foi o último a chegar ao sistema político no pots 25 de Abril, por isso disputou só o eleitorado restante, o mais pequeno quinhão, pelos vistos;
3. O governo também não pode ficar refém do cumprimentos das metas orçamentais a fim de cumprir o défice das contas públicas na casa dos 3%. Doutro modo, fica exposto à mesma crítica que guiava a obsessão de Manela Ferreira leite ao tempo de fujão Barroso. Aí sim, só se governava em função do défice e para o défice, o que até levou Sampaio a dizer que há mais vida para além dele, do défice...;
4. AV reconheceu ainda dois constrangimentos: a falta de investimento e o desemprego. Um e outro não descolam, nem percebo bem por que razão no outro dia Basílio Horta, presidente da API, recebeu um prémio... Por captação de investimento de qualidade não foi certamente. SE calhar foi um prémio por não conseguir captar esse desejado investimento... Por outro lado, hoje já não temos a certeza que os velhinhos dispositivos keynesianos de motorizar a economia cabendo ao Estado gerar esse efeito de multiplicador da economia e de acelerar o consumo interno tenham sucesso. Hoje a economia global obedece a outras regras, e a regra maior é a da própria incerteza, além da pressão fiscal que em Portugal é pesadíssima e rouba ânimo, poupanças e capacidade de iniciativa para que os agentes sociais e económicos dinamizem a economia. Ou seja, não há hoje empreendedorismo em Portugal;
5. A auto-Europa deu agora um novo fôlego à economia nacional, mas o óptimo seria captar mais dois ou três projectos dessa envergadura. Por outro lado, o velho modelo de desenvolvimento económico assente nas obras públicas e construção civil - que remonta ao tempode Cavaco, já não é hoje receita para nada. Daí a urgência em rever o próprio modelo de desenvolvimento nacional.
6. No ambiente - parece que Durão barroso teve uma luzinha de sorte ao conseguir resultados ambientais na utilização de 20% na produção de energias oriunda em tecnologias limpas ou renováveis. Os parques eólicos de Viana do Castelo não terão mãos a medir. Mas a componente nuclear, preponderante em França, também não ficou esquecida, já que se delineou um programa que contempla Fundos comunitários para tratar duma questão importante: como tratar os resíduos nucleares para aumentar a segurança no tratamento e manipulação desses resíduos;
7. Em matéria de segurança europeia e de troca de informações entre a intelligence europeia uma nota simples parece ter sido fixada. É o método da coordenação e não a tutela que deverá orientar a partilha de procedimentos entre as diversas polícias intra e extra-muros. Sabendo-se que a aplicação dessa coordenação activa é mais proclamada do que efectivada. E os problemas aqui entre o SIS e a secreta militar - que pouca utilidade tem tido - já mereciam uma outra lei, uma outra prática, uma outra eficiência. Em parte, e criticando um aspecto infraestrutural dessas insuficiências, não se pode recrutar pessoal para esses corpos especiais do Estado com base em testes psicotécnicos apenas para dar emprego à empresas de selecção que operam nessa área há anos. Também aqui a cambalhota teria de ser não a 180º mas a 360...salvo melhor opinião.
Uma nota final: gostei de ver Judite de Sousa a escapar ao guião e a espevitar António Vitorino. Esta espontaneidade confere maior autenticidade aquela troca de ideias e não dá a impressão que ambos combinaram préviamente nos bastidores o sortido de perguntinhas a fazer, como por vezes parece ressaltar das escolhas de Marcelo - não desfazendo de Flor Pedroso...