sexta-feira

A crise da China em Portugal: o absurdo na política

Esta crise - decorrente das palavras do ministro da Economia - são diferentes de todas as outras. Além de serem ditas no estrangeiro com a vitrine do mundo a ampliar aquelas asneiras em tempo real (ridicularizando Portugal e os portugueses), as circunstâncias económicas são também radicalmente novas, condicionadas pelo fulgurante progresso dos métodos de produção, organização e distribuição dos produtos e serviços produzidos no mundo, e de que a China é responsável em cerca de 30%. É isto a globalização competitiva: um monstro sem regulador à vista...
Sucede, porém, que para a produção da totalidade dos bens de consumo necessários à vida, apenas uma fracção da mão-de-obra disponível se torna indispensável. Ora, é aqui que reside o nó górdio da economia contemporânea - e não nas baboseiras do ministro da Economia, a que até já estamos habituados e o governo socialista ainda o mantém em funções porque ele funciona como saco de box que apanha toda a pancada que assim não atinge directamente Socas.
É, portanto, neste tipo de economia neoliberal que a evidência daquelas declarações assumem uma grotesca dimensão, vq. elas ampliam o drama do nosso tempo: o desemprego em larga escala.
Sabendo-se que a China não é uma democracia pluralista, não respeita os direitos humanos (lato sensu), obriga ainda crianças a trabalhar horas a fio, paga baixos salários, não respeita a propriedade privada nem sabe o que são direitos sociais e/ou sindicatos, nunca ouviu falar do rule of law (de resto, incompatível com o comunismo), trucida a separação de poderes, não tem uma imprensa livre, etc, é, paradoxalmente, neste caldo de cultura ditaturial que uma alminha de Lisboa - aos soluços - doutorada nos States pede ao colosso que invista em Portugal...
Agora seria bem-feito que o tal colosso viesse para cá, trouxesse os projectos, os engenheiros, os arquitectos, a maquinaria, o culto do trabalho e o pessoal menor, como trolhas e serventes mais um ou dois milhões de formiguinhas dispostas a trabalhar dia e noite e começasse a desenvolver alguns dos projectos contratualizados com o governo português em Pequim.
O resultado seria óbvio: colocação de mais sapatos, brinquedos, bicicletas, computadores, consolas, relógios, óculos, microndas e o diabo-a-sete colocados no mercado luso a preços de uva-mijona. Os tugas, que estão cada vez mais egoistas, gananciosos e consumistas pensando que é aí que reside a felicidade que buscam nos corredores dos supermercados, não resistiriam a comprar esses produtos por menos de metade do preço em detrimento da produção nacional. Contribuindo, desse modo, para o aumento do desemprego em Portugal e, ao mesmo tempo, favorecendo a solidez da economia chinesa.
Seriam estes, a prazo, alguns dos reflexos e consequências caso as declarações de Manel Pinho fossem implementadas..