O rizoma, Fernando Pessoa, o "dividualismo" e a maldade d'alguma blogosfera.
Sociologia da informação
Algures nos EUA e quiça já pela Europa - muita gentinha mal formada e capciosa - utiliza blogues falsos para dirigir ataques pessoais, fazer difamações e o mais dentro do género também a instituições. É uma cobardia pegada esse tipo de condutas que, nalguns casos, terminam na barra dos tribunais.
Isto leva a encarar a personalidade do próprio indivíduo de forma dual, ambivalente, oculta e multiplicada por um sem número de caras que nunca sabemos ao certo de quem se trata. Daqui nasce uma esquizofrenia dividual com que a sociedade e os psiquiatras terão de saber lidar. Trata-se de gente que gosta compulsivamente de albergar múltiplas personas (máscaras) dentro de si, seja no papel de executivo, de gay, de expert em música clássica ou ligeira, adepto dos charutos havaneses, integrando um grupo de motars de Almada ou Sacavém e o mais que se possa imaginar. Longe vão os tempos em que, de forma saudável, Fernando Pessoa recriava múltiplas personagens literárias, dando-lhes vida de forma cultural a ponto de se considerar essa assembleia de heterónimos a maior criação poética e literária do todo o séc. XX. Ricardos Reis, Álvaro de Campos, Bernardo Soares são alguns desses personagens. Hoje, os prémios nóbeis nem escrever sabem e até vão morar para Espanha. Hoje, ao invés, esta malta da Net, alguma dela - claro está - usa o Rizoma para simular e dissimular. Naquele caso querendo fazer passar-se por "rico" quando, na realidade, não passam duns pelintras; neste caso, tentando passar na sombra ou ocultando algo que interessa que não se veja, para o melhor e para o pior. Ou seja, a net, ou a netocracia tem, hoje, de saber conviver com esta esquizofrenia de comportamentos de pessoas que ora tentam ser mais do que na realidade são, ou escondem aquilo que na prática representam, valem ou têm. Razão tinha Manuel Castells, o catalão especialista em planeamento urbano mas que se tornou mundialmente conhecido com a sua trilogia da Network society - quando dizia que a Rede era a mais extraordinária revolução tecnológica da história. Mas também sugeriu que ela era, ao mesmo tempo, um veículo socialmente tacanho, mesquinho, belicoso e vingativo. De tal modo que hoje se torna mais problemático controlar a conduta das pessoas do que os capitais que circulam na rede.
Estas transformações conduzem a implicações em relação às quais ainda não sabemos lidar, e os tribunais também não são - pelo tempo das decisões - a terapia adequada ou solução mais realista. O que nos permite supor que a tão proclamada net como sendo algo transparente, previsível e não hierarquisada deixa (ainda) muito a desejar nesta Era da Informação. Ou seja, não é por causa da Rede que hoje nos conhecemos melhor, que cooperamos mais, que estabelecemos laços de amizade mais fraternos e sólidos, que somos mais sinceros uns com os outros, etc. É óbvio que no jornalismo isto também ocorre, basta que o jornalista "venda" os seus pontos de vista sociais, económicos ou políticos e num dia afirme que o céu é azul, e no day after que o mesmo céu, afinal, é verde. Na rede as coisas são apenas mais camufladas, dada a natureza dos dispositivos, da tecnologia e da velocidade com que tudo sucede.
Seja como for, esta reflexão visa chamar atenção para o seguinte: existe uma assembleia de heterónimos (pessoana) que é saudável, criativa e deve continuar a ser estimulada e cultivada dentro e fora da rede; e depois existe a forma degenerada (e maldosa) que resulta da má utilização que certas pessoas dão à blogosfera. Por isso, não me admiraria que dentre em breve os servidores obriguem todos os utilizadores a autenticarem a sua verdadeira identidade em nome do rigor e da transparência das relações de todos com todos no Rizoma. Será o novo ciber-accountability.
Até lá teremos de continuar a lidar com este hiper-capitalismo virtual - incompetentemente hierarquizado, mentiroso, canalha, omisso, manipulador, netocrático que, no fundo, nada mais visa do que manipular informação a contento de uns e em prejuízo de outros. E o mais grave é que aqueles users que não conseguem dispôr desses miseráveis skills (talentos) virtuais tendem a ficar para trás nesta desigual competição social na era digital. Temo que o ano de 2007 - (ainda) não alterará nada neste sentido. E é pena...
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