Expediente ou ambição? - António Vitorino
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PS: O sublinhado é nosso
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Afixe-se na Vitrine da União Europeia, na montra política de Portugal, mundo e arredores
Obs. Macroscópicas
É mais uma reflexão de António Vitorino a exigir meditação atenta, posto que aquele seu 2º parágrafo - inscreve um conjunto de factores e de acontecimentos internacionais que podem não reaalizar-se de forma linear, e se assim fôr a Europa fica novamente "pendurada", com a agravante de ter a liderança de merceeiro que tem. Ao ler esta reflexão - daquele que foi considerado pelo Macro o analista revelação do ano de 2006 - (e nem era preciso fazê-lo, porque os portugueses não são cegos) - pensei na crise portuguesa e o modo como a mesma está inserida na crise europeia. Trata-se, pois, duma crise de integração europeia de espaços nacionais que revelam graus de modernização e trajectórias de desenvolvimento muito distintas, o que explica o nosso desenvolvimento relativo face aos demais Estados-membros.
Todavia, importa referir que esta crise europeia está, por seu turno, inscrita na crise mundial de adaptação ao exercício de hegemonia global dos EUA. Ou seja, aquilo para que me remete a reflexão de António Vitorino (AV) é a percepção dessas "bonecas russas", dessas matrioscas que mostram como as crises se encaixam umas nas outras naqueles três níveis da decisão, como se fossem cascas de cebola. Aliás, Vitorino, premonitóriamente, fala-nos duma "agenda europeia sobrecarregada:
Relações transatlânticas, última oportunidade para as negociações de Doha, política energética e relações com a Rússia, estratégia para o pós-Quioto em matéria de alterações climáticas, responsabilidades no domínio da segurança e da defesa quer internamente quer externamente, em especial no Líbano
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Isto parece-me mais um ideário ou um programa para a década e não um programa para uma, duas ou mesmo três presidências nestes últimos 18 meses que se iniciaram em Janeiro de 2007 com a presidência alemã, seguida da presidência portuguesa da UE.
Ou seja, e para apenas dizer por outras palavras aquilo que acima AV perspectivou, esta reflexão chama-nos a atenção para o encaixe daquelas três dimensões críiticas que são, ao fim e ao cabo, três tipos de crises distintas mas interdependentes entre si: a crise nacional, a crise regional e a crise mundial. Todas elas presidem aos acontecimentos em curso e que ora sobressaem em cada conjuntura: isto implica que qualquer que seja a localização da origem dessa crise, os seus efeitos depressa se difundem para os demais níveis, alterando as condições em cada um desses níveis de decisão, mudando também as previsões feitas e obrigando a rever expectativas formadas. Como? no seio da sociedade portuguesa, como sistematiza - e bem - Vitorino, no tocante às relações da Europa com África e com o Brasil. Que são dois pilares estruturais e seculares da nossa história diplomática mas que não têm sido explorados devidamente de parte a parte.
Depois sobrevém as questões mais formais e jurídicas decorrentes de a França e a Holanda terem rejeitado o Tratado e de aquela ter eleições presidenciais à porta. Tudo isto é muita coisa ao mesmo tempo, e são estes diferenciais de ritmos entre a mudança na realidade das condições concretas e a inércia nas concepções teóricas não têm efeitos neutros, ao invés, têm até efeitos negativos no modo como as sociedades nacionais se desenvolvem e também como a UE no seu tecido conjuntivo faz os devidos ajustamentos entre si e passa, por outro lado, a saber relacionar-se com os outros dois geoblocos: EUA e Ásia, apesar da liderança de barroso ser apenas uma gestão caseira feita por um contabilista que já nem nas memórias de Fernando Pessoa teria lugar.
No fim António Vitorino, creio, deixa mais incertezas e desafios do que certezas. Explicito: o sucesso da UE depende da adaptação que cada Estado-membro conseguir ao conjunto em que se insere. Por motivos socio-estruturais por demais conhecidos, haverá sempre actores menos eficazes e mais lentos do que outros no caminho dessa modernização e escala ascendente a caminho do desenvolvimento. Dito isto, as construções teóricas e doutrinais do Estado português, por exemplo, terão sempre mais resistências a atingir os objectivos propostos pelo núcleo duro da UE do que outros Estados melhor qualificados e preparados.
E é este diferencial político, além da futura liderança britânica não ser pró-europeia - dado que Gordon Brown atira mais para o lado da linha política de Margaret Tatcher do que para o evolucionismo "blairiano", que se afigura como fonte de turbulência política dentro, claro está, dos efeitos desdobrados de crise no seio daquelas três dimensões críticas (nacional, regional e mundial) acima sinalizadas. Mesmo que que António Vitorino termine a sua reflexão com optimismo acerca da condução política da Europa, e atendendo a que a "ambição e realismo" político de Angela Merkel não tenha o peso nem a conotação hipócrita e/ou oportunística do actual mordomo-mor da Europa - não podemos deixar de reconhecer a natureza das coisas que mudam juntamente com as reacções defensivas dos actores políticos envolvidos, sendo certo que as reacções das sociedades menos desenvolvidas (como a nossa) também podem ter comportamentos perplexos e/ou paralisantes.
Confesso que desejaria aqui partilhar do optimismo moderado de AV, ele até poderia ser indutor de uma dinâmica de crescimento e desenvolvimento, contudo atrevo-me aqui a pensar que estes nossos tempos de mudança poderiam ser bem menos agitados e indeterminados se estas três crises não estivessem em funcionamento ao mesmo tempo.
- Com uns EUA desnorteados percebendo, dramáticamente, que não basta ter a força para impôr uma cosmovisão;
- Com uma UE falha de visão e de liderança - que se agravou quando a Europa importou mais um problema político chamado durão barroso);
- E com inúmeras reacções defensivas por parte das sociedades dos Estados-membros que ainda não sabem bem como racionalizar as vantagens decorrentes da sua integração neste grande espaço que é a UE. Entre o optimismo de uns e o realismo de outros será bom seguirmos estes, pois como dizem os russos: um realista é sempre um pessimista bem informado. Mas os russos também não são exemplos a seguir, os EUA muito menos, a Europa devolve-nos a cara massacrada de um durão barroso inepto e guloso de poder mas sem plano à vista - resta-nos sonhar novos amanhãs que cantem. Cá e na Europa...Creio, afinal, que estamos mesmo entregues a nós mesmos. Ou seja, estamos no meio da bicharada... É o fun-gá-gá, o fun-gá-gá da bicharada...
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