quinta-feira

You are welcome to Elsinore

You are welcome to Elsinore
(Mário Cesariny de Vasconcelos,
in "Pena Capital", 1957)

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Entre nós e as palavras há metal fundenteentre nós e as palavras há hélices que andam e podem dar-nos morte, violar-nos, tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo entre nós e as palavras há perfis ardenteses paços cheios de gente de costas altas flores venenosas, portas por abrir e escadas e ponteiros e crianças sentadas à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida, há palavras de morte há palavras imensas, que esperam por nós e outras, frágeis, que deixaram de esperar há palavras acesas como barcos e há palavras homens, palavras que guardamo seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore E há palavras nocturnas, palavras gemidos palavras que nos sobem ilegíveis à boca palavras diamantes, palavras nunca escritas palavras impossíveis de escrever por não termos connosco cordas de violinos nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar e os braços dos amantes escrevem muito alto muito além do azul onde oxidados morrem palavras maternais só sombra só soluços ó espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar