terça-feira

O balanço pelo provedor do DN - por ele próprio

José Carlos Abrantes
À frente de cada assunto indiquei o número de crónicas que lhe foram dedicadas. Cerca de 60% das crónicas (27) foram resposta a interpelações de leitores, cerca de 30% foram de análise geral sobre os media (14) e cerca de 10% incidiram na análise do DN (5).
Segundo o estatuto, são estes três tipos de crónicas que constituem o alvo da atenção do provedor.
Agenda (3). O jornalismo revela, mas também oculta. Este poder de ocultação foi o tema de uma crónica sobre a vinda de Daniel Dayan a Portugal. Anteriormente um leitor questionou também a não inclusão de notícias sobre acontecimentos favoráveis à ETA. Houve ainda uma terceira crónica - "Aproximar o que está longe" - que reflectiu sobre a necessidade expressa por alguns leitores desejosos de mais notícias de outros recantos do mundo.
Anglicismos (2). A correspondência de vários leitores assinalou algum excesso de termos anglo-saxónicos em determinadas peças.
Análise do DN (4). A primeira crónica do ano foi dedicada a uma análise das primeiras páginas de 2005. Analisaram-se também as imagens em destaque nas primeiras páginas do mês de Fevereiro. Utilizei um procedimento semelhante na crónica intitulada "Em Abril, assuntos mil". Este texto, o último de 2006, foi inscrito nesta categoria de análises do DN por iniciativa própria.
Ciência (1). Uma chamada de atenção de um leitor encontrou eco numa crónica e provocou a manifestação de interesse do director em dar mais espaço à ciência.
Conflitos de interesses (2). Também no jornalismo há conflitos de interesse. Num caso tratou-se de um conflito de interesses entre ser crítico e ser membro do júri de um festival internacional de cinema. Outra reflexão desencadeou-se a propósito de uma crítica a um livro de um editor do DN.
Entidade Reguladora da Comunicação Social (1). Logo em Janeiro, uma carta de um leitor particularmente qualificado interpelou o modo como a ERC iria ser constituída.
Economia (2). A informação sobre assuntos económicos e sobre o modo de cumprirmos obrigações fiscais foi duas vezes referida por leitores e objecto de reflexão.
Erros dos leitores (1). Os leitores também erram. Foi o caso de um protesto veemente contra a utilização do termo arrestar, termo da linguagem jurídica, muito divulgado.
Evolução do jornalismo e da imprensa (8). Num texto de Janeiro defendi que a crise era essencial à imprensa, pois um dos sentidos para crise é o de estado de mudança. Em Novembro sustentei que é vital inovar para vencer a turbulência que se faz sentir no jornalismo.
A atenção ao que é próximo e a preocupação social dos media foram também temas de reflexão. Noutro momento esteve em destaque a reflexão sobre a vocação algo esquecida de um jornalismo "que conforte os aflitos e que aflija os confortáveis".
Também o livro de Manuel Maria Carrilho foi ocasião para ponderar sobre a credibilidade do jornalismo. Uma crónica foi dedicada ao despontar de uma atitude cada vez mais frequente entre os jornalistas: a de estes reconhecerem, aqui e além, que - também eles! - cometem erros.
Duas crónicas foram dedicadas à excelência no jornalismo. Parti do pressuposto de que a evolução do jornalismo pode ser mais satisfatória e exigente se tiver a excelência como meta. Num outro artigo defendi a necessidade de criar, em Portugal, um projecto deste tipo.
Fontes (4). Uma notícia de fonte única foi assinalada por um leitor. A solução foi questionada, pois "os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso", segundo o Código Deontológico dos Jornalistas. Outro caso semelhante veio a ser objecto de nova crónica, pois o DN indicou um nome para procurador-geral da República sem ter sabido se este havia sido contactado. Outra notícia sobre as forças de segurança e as escutas a que estas estariam sujeitas deixou também os radioamadores irritados e poderia ter incorporado institucionalmente, com vantagens, a sua opinião. Numa outra crónica se defendeu, a partir de uma observação de um leitor, a necessidade de triangulação, ou seja, de recorrer a diferentes fontes ou origens para legitimar o que é escrito.
Imagens (2). Os desenhos dinamarqueses sobre Maomé deram origem a uma reflexão intitulada "Imagens que transformam". Em Agosto, um leitor não gostou da fotografia que viu em primeira página, sobre a guerra do Líbano, originando novo questionamento sobre as imagens.
Imigração e discriminação em função da cor (2). Uma notícia sobre um crime salientou a nacionalidade do autor quando esse elemento não aparecia como explicativo do acto. Por outro lado, a referência a uma Associação para a Promoção das Pessoas de Cor, criada em 1914, nos EUA, foi também objecto da interpelação de um leitor.
Língua portuguesa e leitura (4). Foi um dos temas mais recorrentes. O Museu da Língua Portuguesa em São Paulo foi ocasião para mostrar como esta pode ser um momento lúdico, mas também de aprendizagem. Outro momento de reflexão deste tipo relacionou-se com o Plano Nacional de Leitura. Ambos os textos procuraram demonstrar como interessa, também aos jornais, aumentar as oportunidades de leitura.
Um leitor atento, no momento da mudança gráfica, assinalou a melhoria, mas apontou alguns erros. O uso de uma concordância entre o verbo e o sujeito num título de primeira página foi motivo para outro reparo de alguns leitores.
Notícias e opinião (2). A fronteira entre as notícias e a opinião esbate- -se algumas vezes. Por outro lado, um leitor escreveu sobre um artigo de opinião que considerou de propaganda religiosa. Os termos cordatos da sua interpelação permitiram esclarecimentos e um questionamento sobre a arte de perguntar.
Publicitar (2). Por vezes as notícias assumem um tom demasiado adjectivado ou elogioso. Nestas duas crónicas se procurou mostrar que o jornalista tem sempre alternativas para poder colocar alguma distância entre a fonte e o relato mais distanciado e crítico dos acontecimentos.
RTP2. Duas crónicas incidiram sobre peças jornalísticas relativas à RTP. Ambas foram escritas após interpelações de leitores.
Sexualidade (2). Uma leitora manifestou o seu descontentamento sobre um Tema dedicado às mães lésbicas. Os tempos trouxeram para a esfera pública temas que outrora faziam corar as senhoras mais recatadas. Outro protesto referiu-se a uma notícia sobre a procriação artificial.
Títulos (2). Duas crónicas foram dedicadas ao desfasamento entre os títulos e o texto da notícia.
*******************************************************
  • Obs: não sendo exaustivo este parece ser um retrato que espelha, em parte, o país que temos, as gentes que (ainda) somos. Tudo visto e somado - quando nos colocamos diante do espelho das virtudes somos capazes de não gostar da imagem (de vícios) que ele nos devolve.