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O mundo está mais perigoso

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O mundo está mais perigoso
Francisco Sarsfield Cabral
Jornalista É provável que o Partido Republicano perca as eleições da próxima terça-feira nos Estados Unidos. Tenho criticado o republicano Bush, sobretudo na área internacional. No entanto, a perspectiva de uma vitória dos democratas nestas eleições intercalares não me entusiasma.
Primeiro, porque um presidente enfraquecido, com ainda dois anos de mandato pela frente, não é bom nem para os americanos nem para o mundo. Depois, porque no Partido Democrata não se vislumbram propostas de solução credíveis para o imenso sarilho que Bush criou, na fase em que embarcou nas fantasias dos neoconservadores.
O previsível recuo eleitoral dos republicanos resulta sobretudo do fracasso da política externa de Bush, em particular no Iraque. Ora não é habitual os americanos preocuparem-se por aí além com o mundo exterior. No seu voto costumam pesar sobretudo razões de natureza económica: desemprego, salários, inflação, etc.
Acontece que não há agora grandes queixas económicas dos eleitores. É certo que os combustíveis encareceram, aliás em boa parte por causa da situação no Médio Oriente (nos últimos meses, porém, os preços do petróleo aliviaram). E que as desigualdades de rendimento continuaram a agravar-se na sociedade americana, com a estagnação dos salários dos trabalhadores não envolvidos nas novas tecnologias.
Mas a economia dos EUA, que agora dá indícios de abrandamento, cresceu a um ritmo de fazer inveja aos europeus. O desemprego é baixo. Até a bolha especulativa na habitação, com o correspondente endividamento, pelo menos por enquanto parece esvaziar-se sem drama de maior. E o cidadão comum não sente o défice orçamental (que Cheney declarou não ter importância) nem o grave desequilíbrio externo dos EUA, que leva ao financiamento por estrangeiros do défice de poupança da maior economia mundial.
A política externa conta no voto de terça-feira, porque há 140 mil soldados americanos no Iraque, sem perspectivas de saída airosa. E porque a situação internacional se tornou preocupante, a ponto de o homem da rua nos EUA já não a poder ignorar.
Em Janeiro de 2002 Bush fez um discurso em que incluiu três países no que designou como "eixo do mal": Iraque, Irão e Coreia do Norte. Quase cinco anos depois, verifica-se que Bush atacou militarmente o Iraque, que afinal não tinha armas de destruição maciça, mas deixou à solta o Irão e a Coreia do Norte, que lá vão construindo o seu arsenal nuclear. E pode estar a perder a guerra (justa) no Afeganistão, porque daí desviou meios para o Iraque.
A invasão do Iraque nada contribuiu para a paz entre Israel e os palestinianos (pelo contrário), antes alimentou o terrorismo mundial. E reforçou o Irão, que passou a ter uma influência considerável na situação interna do Iraque.
Depois do fiasco do Iraque, não passa pela cabeça de ninguém em Washington meter-se noutra "guerra preventiva" - terrestre, pelo menos - para conter as ameaças nucleares de Teerão ou Pyongyang.
Assim, uns Estados Unidos politicamente enfraquecidos e militarmente esgotados enfrentam o renascer do terror atómico. Durante a Guerra Fria esteve sempre presente a angústia de um possível holocausto nuclear. Mas o equilíbrio do terror entre Washington e Moscovo evitou o pior e até levou a alguns passos no sentido do desarmamento.
Terminada a Guerra Fria, desvaneceu-se o receio da bomba (que, antes, havia levado alguns a proclamarem better red than dead, ou seja, antes comunista do que morto). Alívio passageiro, porém: aí está, de novo, a angústia nuclear. E agora não há equilíbrio do terror que a trave.
É sempre difícil para os países que já possuem a bomba atómica convenceram os outros de que a não podem ter. Houve, parece, um caso de recuo: a África do Sul terá realizado uma experiência nuclear e depois foi convencida a abandonar essa via. Mas é a excepção que confirma a regra. Os EUA deveriam ter feito mais para combater a proliferação nuclear. Liderando um esforço internacional concertado nesse sentido, em vez de terem assumido uma posição unilateral, apoiada na sua esmagadora superioridade militar (unilateralismo que, face às realidades, Bush já moderou quanto à Coreia e ao Irão). Mas, também, dando o exemplo de contenção, em vez de se permitirem luz verde para modernizarem o seu arsenal nuclear.
De facto, o mundo está mais perigoso e não só por causa do terrorismo. Os americanos já o perceberam.
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  • Obs: mais um lúcido e oportuno artigo do nosso amigo Francisco que resume eficientemente a situação da América perante o mundo e do mundo entregue a ele próprio com estes líderes - até em termos de arms race. Por momentos ainda pensei que ele nos sugerisse leitura: Kissinger e Aron, mas não necessáriamente por esta ordem. Quanto a G.W.Bush só falta dizer que o homem - além de ser um erro político grave - também é capaz de ser um erro genético. Que Deus lhe perdoe, e à América também. God s(h)ave the statue of Liberty. Só faltou evocar a sondagem do Guardian de ontem que classifica o actual locatário da Casa Branca como o 2º líder mais perigoso do mundo - seguido de Bin Laden e imediatamente antes Kim Jong Ill - esse grande "democrata" (segundo o sr. Bernardoíno da bancada para-lamentar do PCP) a presidir aos destinos da Coreia do Norte.De Fidel até já imaginamos o que dito possa dizer...