sexta-feira

A parábola dos cegos acerca da globalização. O Paquiderme

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A utilidade em evitar um debate redundante em torno da "globalização" é o de considerar esse fenómeno de forma multidimensional, como um "processo de processos" sem conclusões fechadas, logo em franca progressão, em constante dinâmica. Até porque a sociedade portuguesa reage de modo diverso a um estímulo do exterior do que, por exemplo, a sociedade espanhola, aqui ao lado. Daí a necessidade de avaliar nesta equação global as questões de transformação e de mudança social. Embora os teóricos do sector discordem da melhor definição sobre o fenómeno, até porque cada um tem a sua e as vaidades espistemológicas e académicas também pesam nesta avaliação.
O que nos levará a falar de globalizações em função da sociedade e da economia a que reportamos a análise. Mas dada a incerteza e complexidade desta avaliação é que faz algum sentido aquela imagem, extraída do livrinho cit. num post abaixo de Manfred Steger - A Globalização - que permite funcionalizar a velha parábola budista dos eruditos invisuais e da sua relação epistemológica com o elefante, exercício inteligente porque nos ajuda a enquadrar as "guerrinhas de capelinhas" (como se verificou com a entrada do MIT em Portugal..) por parte de cada um dos teóricos que estuda o fenómeno. Ora, dado que aqueles cegos nunca souberam qual o aspecto do elefante, resolveram criar essa imagem mental. Como?? Tocando no animal, registando a sua volumetria, dimensão, etc. e, assim, reconstruindo a sua natureza.
Desta forma, um desses cegos defendeu que a tromba do elefante era como uma cobra cheia de vida; outro, esfregando a sua enorme pata aduziu que se tratava dum animal de enormes dimensões; outro, pensou que a cauda do Paquiderme seria uma escova gigante; e um outro ainda ao tocar nos seus dentes supôs tratar-se duma grande lança.
Resultado: cada um dos cegos que tentava avaliar a natureza do elefante ficara com a sua própria convicção do que é o elefante (perspectivismo). E depois discutiram entre eles o que poderia ser - de forma mais consensual - o paquiderme. Por analogia à globalização, esta não decorre só da economia, só da política ou só da cultura. Ela representa o tal processo multidimensional que, nuns casos, pode relevar mais cada uma daquelas vertentes, noutros casos de todas elas em conjunto. Portanto, a G. é um processo inacabado para onde convergem fenómenos e variáveis económicas, políticas, ideológicas, culturais e ambientais que tecem uma teia complexa que nós, em função das nossas possibilidades e interesses, vamos tecendo.
Um pouco como a Penélope em que de dia tecia e à noite...
Postado no Globalidades a 21 de Out./06