As memórias do Sr. Scargill - por António Vitorino -
Notas Macroscópicas
Mais uma vez é com gosto que tentamos aqui alinhar algumas derivas ao artigo-ensaio de António Vitorino, dado que ele parece só escrever artigos com densidade teórica que só percebemos à 2ª. Não porque ele escreva mal, nós é que não tínhamos pensado na matriz de relacionamento que entretanto se abriu entre o governo socialista e o movimento sindical português. Eu, confesso, também nunca tinha ouvido falar do sr. Scargill, e não gostaria de ter estado na sua posição, diante das garras da então - "Dama de Ferro" - mas menos ainda desejaria encontrar-me na posição de Carvalho da Silva - que além de ser um "quadro" inamovível do sindicalismo luso - ou seja, uma daquelas peças Luís XV que já se confunde com as paredes do casarão, parece agora corporizar aquela ideia de que a democracia está ameaçada não pelo regime de partidos, não pelos militares nem pelos maçons (que perderam a sua influência nem já conseguem fazer cair governos - quanto mais elegê-los) mas pela orientação contemporânea que o dito movimento sindical está a imprimir às suas estruturas internas cujos resultados estão à vista de todos: arruaças sistemáticas, umas "com o rabo de fora", outras também. São flagrantes a mais...
Regressando ao RU, é sabido que os mineiros britânicos constituem um dos corpos sociais mais radicais e politizados do país, em Portugal esse papel parece ter equivalente funcional na CGTP - que ainda não percebi se foi ela que fugiu ao controlo do PCP, ou se foi este que já desistiu de a tentar pôr na ordem. Até porque um destes dias Sócrates vai ao Parlamento discutir o estado da nação e - na interpelação das várias bancadas parlamentares - engana-se e em vez de responder a Jerónimo de Sousa - cunha-o com o nome de Carvalho da Silva. Um dos problemas que aqui nos parece não ter solução à vista é a inflexibilidade em que já caíu a CGTP/PCP - e porquê? Porque ela rejeita categóricamente a noção de risco - que só deverá ser aceite (segundo essa dupla) pelos grupos sociais mais competitivos e melhor remunerados. Por maioria de razão, os grupos sociais menos competitivos querem garantias continuadas (protecção dos seus postos de trabalho, melhoria dos seus rendimentos e mais adequadas pensões de reforma).
Neste contexto difícil da situação económica e social nacional, é capaz de ser mais provável uma de duas coisas: ou alguém "parte a espinha" ao sr. "Scargill Carvalho da Silva" (leia-se CGTP - há 30 anos alapado ao poder, sem rotatitividade...mas que lição de sindicalismo/democrático!!!) ou então, hipótese que me parece mais desejável e adequada, incorre-se num renascimento das utopias dos crescimentos (lineares) a prazo, ainda que depois o (neo)liberalismo ceda e os mercados se deixem regular mais em função dos interesses daqueles que - justamente - os sindicatos procuram defender: - os menos competitivos.
Mas sejamos honestos e justos, os sindicatos - partidarites à parte - estão entalados entre dois fogos ferozmente cruzados: os governos dos Estados que não têm grande espaço de manobra para cedências à mesa das negociações, e a globalização competitiva - via pressão da constelação do neoliberalismo reinante no sistema capitalista, o qual gera a tal dualização a nível de cada sociedade e a nível mundial, ao valorizar os comportamentos competetivos mas, em contrapartida, excluindo os comportamentos orientados para a segurança e para a reprodução de estatutos sociais que não sejam competitivos.
Esta dualização é que é fracturante, e o governo ao não conseguir aplacá-la está também a frustrar a terrível expectativa da igualdade que contribui para um sentimento de coesão social limitado, abrindo assim uma oportunidade de recrutamento eleitoral por parte de forças políticas nacionalistas (ou mais radicais) para explorar as reacções sociais (e emocionais) contra as imposições da tal globalização competitiva (neste caso de efeitos predatórios junto dos segmentos da população mais desprotegidos).
Julgo que perderão todos, ou melhor - perdemos todos - se chegarmos à conclusão que o processo de modernização nas relações económicas não se fizerem, i.é, o pior seria impedir o ritmo das reformas comprometendo, por extensão, a modernização por coesão, diminuindo gradualmente as diferenças entre as sociedades e as economias europeias, o que parecia ser um objectivo que estava ao alcance dos Estados nacionais europeus, coordenados numa plataforma comum estabelecida em Bruxelas que ora tem à sua frente um actor político menor - que tem ambição mas não tem capacidade (o que é crime) - na medida em que tem ajudado a degradar não apenas o sistema económico europeu, como também - o sr. zé barroso tem contribuído activamente pata diminuir o estatuto geopolítico da Europa. Mas cremos que António Vitorino põe o dedo na ferida quando sistematiza o seguinte:
Esperemos, contudo, que não suceda a Carvalho da Silva o mesmo que sucedeu ao burro de Buridan - equidistante que estava entre um fardo de palha e um balde de água - acaba por morrer por tanta hesitação...Assim se coloca o dilema sindical hoje: negar a necessidade de reformas para defender situações adquiridas, ou pretender fazer valer os seus argumentos sobre o conteúdo das reformas, embora aceitando o princípio da sua necessidade.
Mas o que esperamos sinceramente é que a economia portuguesa cresça a um ritmo maior para que os portugueses possam aumentar definitivamente o seu padrão de vida e o seu nível de bem-estar. Como povo acho que o merecemos, mesmo sem os sindicatos...
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