quarta-feira

A importância do sistema da cultura na esfera da globalidade

O Globalidades depois dum momento de hibernação resolveu tirar o anzol da sua caixa de Pandora...

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Sabemos que a crise do sistema de relações internacionais do III milénio é algo que remete para a ordem mundial, e não apenas para explicações de pendor económico ao estilo neomarxista (de correlações monocausais), mas que resulta da acumulação de diversas crises regionais e nacionais. A análise visa reflectir esses problemas no conjunto do sistema que queremos apreender nesta 1ª década do III milénio. Essa grande lente/teoria é por nós designada de globalização competitiva.
Sucede que essa relação nova remete-nos, por seu turno, para a avaliação do padrão cultural em cuja perspectiva a observação irá centrar-se, relegando para outro plano os objectivos estratégicos das entidades políticas como os Estados, os partidos politicos ou outros actores que operam no sistema/esfera da globalidade.
Vem isto na sequência de uma reflexão no Globalidades a propósito da Imanência e Transcendêmcia assinada por P.A. onde se diz:

o Islamismo pende para a Transcendência em desfavor da Imanência, que em caso extremo, se traduz na anulação da vontade e autonomia humanas, submetidas à exaltação da vontade e luz divinas, a ameaça alarga-se ao vasto desígnio humano.

De certo modo, isto reflecte uma relação a ter em conta: é o Ou seja, se interpreto bem, será o sistema cultural (valores, ideologias, religião, atitudes e crenças) que determina o que pode ser pensado e comunicado em cada sociedade, em cada região, em cada grupo. Daí ser sobre as culturas que irá incidir a atenção, sobre o modo como elas geram quadros de possibilidades e de acção no sistema e como se interrelacionam entre si, deixando aos Estados, aos partidos, aos movimentos e aos líderes que interferem nessas interacções e decisões globais a obrigação de delinearem orientações gerais que depois são concretizadas no terereno, e nem sempre em nome da paz e do desenvolvimento.

Logo, a leitura da crise do sistema de relações internacionais contemporâneo terá de conjugar a interpretação das relações objectivas - os factos, os níveis de desenvolvimento no Médio e Próximo Oriente - com o que será a sua interpretação subjectiva dentro de cada sistema/matriz cultural - relativamente aquelas relações objectivas.

Até porque o que é objectivo para um dado sistema da cultura não o é para outro, na medida em que os tais factos e níveis de desenvolvimento social e económico só passam a ter existência concreta depois das autoridades (líderes espirituais e movimentos) declararem aquilo que é (ou não) verdade num dado momento, válido para uma determinada correlação de forças em observância ao modelo e da matriz cultural do qual emana.

Por último, a importância deste jogo dialéctico Imanência vs Transcendência na esfera da globalidade é tal que interfere na forma como os diferendos se iniciam e os seus sinais se desenvolvem acabando depois por instabilizar as relações entre os dois espaços culturais, ou seja, - entre o Ocidente e o Oriente - sendo que cada sistema da cultura valoriza a sua cultura, a sua percepção e a sua matriz de avaliação dos fenómenos: nuns casos absolutiza, noutros relativiza. Daí a importância da tal mega-lente, do tal macroscópio nessa avaliação, porque por vezes ao interpretar-se mal um sinal está a abrir-se uma frente de conflito que pode durar décadas.

Com a agravante de que depois cada uma das partes envolvidas no conflito vai actuar em função das leituras próprias e explorar o que considera serem os erros de leitura dos outros. Não será difícil imaginarmos um diálogo entre o israelo-árabés ou o Ocidente e bin Laden a este respeito...