sexta-feira

Sampaio-jornalista por um dia. Save the world

in CM

Portugal é o país europeu onde há mais novos casos de tuberculose. Para combater a doença foi pedido apoio a peritos internacionais. Mostrar que o tratamento é fácil ajuda. Marçal Grilo e Carlos do Carmo contam como se curaram mais à frente neste trabalho.

Notas Macroscópicas

1. O jornal CM conseguiu várias coisas com esta genial campanha de marketing institucional de consolidação e reforço: uma tiragem adicional de 40 mil exemplares;

2. Doar parte desses proventos a ONGs ou IPSS vocacionadas para a prevenção da tuberculose;

3. Retratar o situação da doença em Portugal e no mundo, revelando como se contrai e difunde entre as pessoas;

4. Contando casos concretos da doença em Portugal, dando uma carga dramática ao assunto, e bem sabemos como nós, latinos, adoramos uma boa história que nos faça chorar, lavamos a alma. Até Marçal Grilo foi atingido pela doença. E que se saiba este ex-ministro de Guterres e administrador da fundação mais rica do país não é pobresinho nem tem hábitos alimentares desviantes. Pelo menos que se saiba.., mas na Fundação C. Gulbenkian por vezes também ocorrem fenómenos estranhos. Que estão muito para lá dos fenómenos do Entroncamento.

5. Por último, o jornal CM conseguiu pôr um ex-PR, o sr. dr. Sampaio, a ser mais útil num só dia do que em 10 anos de mandato. É triste dizer, mas terá de se reconhecer. E reconhendo é de louvar. O CM agradece, não só pela receita adicional, mas pelo marketing institucional e pela corporate identity que se reforça. Doravante, os leitores e o público em geral passarão a olhar o jornal CM como um jornal de causas, um jornal altruísta, e foi esse, na essência, o raciocínio de arranque que desencadeou tudo o resto. A esta luz, foi uma boa jogada porque se "mataram vários coelhos" at the same time..

Em face do exposto, e da crescente importância dos media na vida individual e colectiva de todos nós, pergunto-me o que amanhã não poderá fazer o Expresso de Balsemão quando Cavaco se reformar. Ou mesmo o Público ou o DN relativamente aos recursos de outros ex-PR, como Ramalho Eanes ou M. Soares... Em vez de escreverem livros a contarem memórias, na maior parte dos casos tristes, são aproveitados pelos media (que os rentabilizam) e promovem.

É também uma forma de não irem para os bancos dos jardins do Príncipe Real jogar à sueca e beber aguardente a toque de insultos às políticas públicas de Sócrates. Esse aproveitamento pelos media sobre certas vedetas - já sucede quando vemos um actor da craveira de Ruy de Carvalho a fazer novelas... Em certos casos, confesso, os papéis chegam mesmo a ser aviltantes, penso logo no que as pessoas têm de fazer por causa desse vil metal que é o dinheiro..

Se a sociedade portuguesa chegar à conclusão que os problemas se resolvem por via deste tipo de sensibilização na esfera pública, que tem algo de vedetismo e até de histriónico e de falsete, devemos todos equacionar as regras da sociedade do espectáculo por forma a potenciar ao máximo esse efeito de consciencialização para a transformação.

Aposto que amanhã o dr. Sampaio irá redimir toda a prostituição lisboeta, com mais uma campanha a preceito, só é pena que na rua Artilharia 1, na zona de Campolide, a 100 m. da sua própria residência, o ex-PR nem sequer tenha conseguido limpar aquela zona conhecida pela prostituição do Leste. Com a agravante dessas mulheres - regra geral mais dotadas, estragarem o negócio às meretrizes nacionais que alí acusam as do Leste de praticarem dumping social e de concorrência desleal. Isto dá-me que pensar.., até porque envolve um problema de ausência de medidas proteccionistas ao sector nacional e de violação de regras de concorrência de práticas sociais num país que integra o espaço da União Europeia. E quem diz debelar a prostituição, diz a droga, o tráfico de armas e outras modalidades emergentes de criminalidade que se têm manifestado com a consolidação da sociedade da informação.

Desse modo, talvez não fosse marginal convidar Rosa Mota para uma campanha de promoção de atletismo para deficientes físicos; o Carlos do Carmo para uma campanha junto de fadistas afónicos, frustrados ou que desejariam uma carreira musical; o Figo e o Mourinho para ensinar a marcar golos e a fazer dinheiro; Mário Soares para teorizar nas Nações Unidas todo o seu "denso pensamento" sobre as causas do terrorismo; Belmiro de Azevedo a ensinar-nos como ser ricos através da bolsa e da distribuição - talvez com uma assessoria de Pedro Caldeira..; José Cid para ensinar canto a aves canoras; Paco Bandeira para nos transmitir a sua experiência histórica do comunismo de Abril e de como virou um artista neoliberal; e, como se constata, convidar Sampaio a falar-nos desta doença grave que é o a tuberculose.

Foi uma bela ideia. E até já se diz que Sampaio tem o dom de curar idosos que padecem de tuberculose apenas com um toque no ombro e, em certos casos, apenas com o olhar dirigido. Assim vai Portugal. Só foi pena que durante aqueles 10 anos ele andasse a ver ninhos de Cuco nas árvores do Palácio de Belém. E deve ter descobreto, findo esse tempo, que lá não havia cucos...